13 Agosto 2019
O relatório “Climate Change and Land”, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, publicado dia 08 de agosto de 2019, trata da conexão entre o uso da terra e seus efeitos sobre a mudança climática. Existe um efeito perverso de retroalimentação, pois a produção de alimentos aumenta o aquecimento global, enquanto as mudanças climáticas decorrentes ameaçam a produção de alimentos.
O relatório mostra, de forma inquestionável, que o crescimento da população mundial e o aumento do consumo per capita de alimentos (ração, fibra, madeira e energia) têm causado taxas sem precedentes de uso de terra e água doce, com a agricultura atualmente respondendo por cerca de 70% do uso global de água doce.
O aumento da produção e consumo de alimentos contribuíram para o aumento das emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE), perda de ecossistemas naturais e diminuição da biodiversidade. O sistema alimentar responde por cerca de 30% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e 80% do desmatamento global. A humanidade ocupa cada vez mais espaço no mundo, com as áreas ecúmenas deslocando e minguando as áreas anecúmenas, conforme mostra a figura abaixo (FSP, 08/08/2019), com base no relatório do IPCC. A agricultura e a pecuária ocupam cada vez mais espaço no mundo e ao acelerar o aquecimento global afeta as florestas virgens, as áreas de savana e contribui para o aumento do degelo e a elevação do nível dos oceanos.
O relatório do IPCC foi resultado de dois anos de trabalho de 103 cientistas de 52 países, que participaram voluntariamente do estudo. Antes do seu lançamento, o relatório foi discutido com os governos no início de agosto em Genebra, na Suíça, e aprovado por consenso por todos os países que participam do IPCC.
Segundo o site DW (08/08/2019): “O relatório aponta que, se o aquecimento global ultrapassar o limite de 2ºC estabelecido pelo Acordo de Paris, provavelmente as terras férteis se transformarão em desertos, as infraestruturas vão se desmoronar com o degelo do permafrost, e a seca e os fenômenos meteorológicos extremos colocarão em risco o sistema alimentar. É um quadro sombrio, mas os autores do IPCC enfatizam que as recomendações do relatório poderiam ajudar os governos a prevenir os piores danos, reduzindo a pressão sobre a terra e tornando os sistemas alimentares mais sustentáveis, enquanto atendem às necessidades de uma população crescente”.
O fato é que o progresso da “revolução verde” e a maior disponibilidade de alimentos – incluindo proteína animal – viabilizaram o crescimento da população mundial, mas, ao mesmo tempo, aceleraram a degradação dos solos e das fontes de água e agravaram o problema do aquecimento global. O mundo consegue alimentar quase 8 bilhões de pessoas, mas o custo ambiental é terrível. Por exemplo, a contribuição da pecuária para a emissão de GEE é cada vez maior. Diminuir o consumo de carne é fundamental para mitigar as emissões e também para a defesa dos direitos dos animais.
O relatório do IPCC adverte que a demanda global por solo e água já acontece de forma insustentável e o acréscimo de mais 3 bilhões de pessoas até o fim do século vai trazer desafios ainda maiores. Ao desmatar e eliminar animais e plantas a um ritmo impressionante, os seres humanos estão acelerando o colapso climático. A seguir, as principais conclusões (segundo o site Página 22) :
Em síntese, o avanço científico e tecnológico aliado ao uso generalizado dos combustíveis fósseis reduziu a fome no mundo, que atingiu o nível mais baixo da história. Porém, a insegurança alimentar e a desnutrição global aumentou nos últimos 3 anos e pode aumentar muito no futuro próximo. A biocapacidade da terra está diminuindo e os meios naturais para o sustento da humanidade estão definhando.
Por isto é preciso levar em conta que o progresso humano está levando o mundo para a beira de um precipício em função de uma catástrofe ambiental cada vez mais provável. Para satisfazer a gula de poucos e matar a fome de muitos, destrói-se a vida no Planeta.
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Relatório do IPCC e o efeito perverso entre produção de alimentos e mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU