11 Agosto 2019
"A dimensão internacional dos periódicos Sociétés e Les Cahiers Européens de l’Imaginaire é inegável e esse seria um critério suficiente para revisar as classificações estabelecidas pelo sistema de avaliação Qualis/CAPES recentemente divulgado. Faço votos de que a sabedoria prevaleça. De minha parte, estarei atento e não me furtarei em divulgar amplamente a decisão que será tomada. Mas confio na ponderação e no discernimento acadêmico dos colegas brasileiros em relação à justa apreciação do caso", escreve Michel Maffesoli, professor emérito da Sorbonne, membro do Institut Universitaire de France, em carta endereçada a CAPES. A tradução é de Edgard de Assis Carvalho e Fagner Torres.
Pelos critérios estabelecidos pelo sistema Qualis de avaliação e classificação de periódicos mantido pela CAPES, recebi, com espanto, o ocorrido com as revistas Sociétés, que fundei com Georges Balandier em 1984, e com Les Cahiers Européens de l’Imaginaire, igualmente fundada por mim com Gilbert Durand em 1988. [Pelo sistema Qualis/Capes, ambas foram avaliadas como B4, como consta do ranking de todos os periódicos avaliados].
Não me cabe julgar o fundamento de tal decisão, mas gostaria de lembrar que, para além das estatísticas, do quantitativismo infelizmente dominante, da contabilização de citações, os tempos atuais estão cada vez mais preocupados com o qualitativo. Em sua época, P. Sorokin já havia ressaltado que a “quantofrenia” era prejudicial a quaisquer disciplinas das ciências humanas.
É importante ressaltar que, desde sua fundação, as revistas Sociétés e Les Cahiers Européens de l’Imaginaire possuem, deliberadamente, tal preocupação teórica. Dessa forma, se colocam em uma ótica de “disputatio” que, desde o século XIII (Sorbonne, Bologne, Coimbra, Cologne, Oxford), atribui extremo valor à discussão acadêmica. Abertas a todas as correntes de pensamento, tais publicações suscitaram debates e controvérsias, mas sempre com base na tolerância e na abertura de espírito.
A comunicação com a filosofia, a sociologia, a arquitetura, o turismo e demais áreas do conhecimento permitiu trocas e partilhas extremamente frutuosas. E isso, é preciso lembrar, em muitos países. Nesse contexto, o Brasil ocupa um lugar especial, na medida em que suas pesquisas puderam ser divulgadas na Europa, certamente, mais igualmente no Canadá, Coreia, Japão, Ucrânia, Turquia, Colômbia, México, Chile, Argentina e tantos outros países, como atestam os colóquios neles organizados.
Por si só, a dimensão internacional dos periódicos Sociétés e Les Cahiers Européens de l’Imaginaire é inegável e esse seria um critério suficiente para revisar as classificações estabelecidas pelo sistema de avaliação Qualis/CAPES recentemente divulgado.
Faço votos de que a sabedoria prevaleça. De minha parte, estarei atento e não me furtarei em divulgar amplamente a decisão que será tomada. Mas confio na ponderação e no discernimento acadêmico dos colegas brasileiros em relação à justa apreciação do caso.
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Crítica ao sistema Qualis/CAPES de classificação de periódicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU