10 Junho 2019
“Na Igreja Católica, as pessoas muitas vezes lideram o caminho, e são os teólogos que seguem, e não o contrário.”
O comentário é do jesuíta estadunidense Thomas J. Reese, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos Estados Unidos, de 1998 a 2005, e autor de “O Vaticano por dentro” (Ed. Edusc, 1998), em artigo publicado em Religion News Service, 06-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No avião de volta da Romênia para Roma, em sua entrevista coletiva no dia 2 de junho, o Papa Francisco fez uma declaração extraordinária sobre o papel da teologia nas relações ecumênicas.
No passado, as autoridades eclesiais enfatizaram a necessidade de um acordo teológico antes que a unidade cristã ou a partilha eucarística pudesse ser possível.
Como resultado, a Igreja Católica tem estado envolvida em extensos e complexos diálogos teológicos com outras Igrejas cristãs. Esses diálogos fizeram um grande progresso ao lidar com questões levantadas pela Reforma, mas surgiram novas questões (ordenação de mulheres, casamento gay, aborto) que dividem as Igrejas.
Isso torna muito difícil chegar a um acordo final.
Mas Francisco disse aos repórteres no avião: “O ecumenismo não é chegar ao fim do jogo, das discussões, o ecumenismo se faz caminhando juntos”. A jornada é mais importante do que o destino.
Como resultado, Francisco enfatiza o ecumenismo do derramamento do sangue e do trabalho juntos a serviço dos pobres, dos doentes e dos marginalizados. Isso se enquadra com a sua famosa declaração de que “os fatos são mais importantes do que as ideias”. O modo como vivemos a nossa fé é mais importante do que o modo como a explicamos.
Mas, durante a coletiva de imprensa, Francisco foi mais longe. Como ele explicou no avião, “já existe uma unidade cristã”. “Não esperem que os teólogos se ponham de acordo para chegar à Eucaristia.”
O papa está sinalizando a sua disposição de avançar rumo à partilha eucarística sem um acordo teológico total?
Isso seria consistente com tudo o que ele vem dizendo. Se o importante é a jornada, e não o destino, então por que não compartilhar o alimento durante a viagem? Por que esperar até que se chegue?
Tal ponto de vista vê a Eucaristia como um sacramento unificador, em vez de uma celebração da unidade.
Ironicamente, durante a sua visita, as divisões teológicas impossibilitaram que o papa até mesmo rezasse a oração do Pai-Nosso com o patriarca ortodoxo romeno Daniel, pois os ortodoxos de direita se opuseram a que eles rezassem juntos. Como resultado, o papa rezou primeiro em latim, seguido pelo patriarca, que rezou em romeno.
Mas o papa revelou que, pelo que ele pôde ver, a maioria das pessoas no rito na catedral ortodoxa rezou ambas as vezes.
“As pessoas vão além de nós, líderes”, explicou Francisco.
Da mesma forma, na Igreja Católica, as pessoas muitas vezes lideram o caminho, e são os teólogos que seguem, e não o contrário.
Os banqueiros começaram a cobrar juros sobre empréstimos antes de os teólogos distinguirem o juro da usura. Os cientistas sabiam que a Terra girava em torno do Sol antes de os estudiosos bíblicos aplicarem a crítica literária ao Gênesis. Os católicos norte-americanos abraçaram a liberdade religiosa antes de a Igreja os alcançar no Vaticano II.
Hoje, os católicos estão encorajando os seus cônjuges protestantes a se unirem a eles na Comunhão. Católicos divorciados e em segunda união estão retornando à Comunhão. Casais gays se aproximam dos ministros da Comunhão juntos. Casais católicos estão praticando a contracepção.
Os leigos avançaram; eles não estão esperando que os teólogos ou a hierarquia os liderem. Eles estão esperando que eles os alcancem.
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''Não esperemos pelos teólogos'': o Papa Francisco e a partilha eucarística. Artigo de Thomas Reese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU