04 Junho 2019
É impossível reduzir o exame de um altar apenas ao perfil estilístico: sem o contexto e, sobretudo, sem os processos que ele pode ou não gerar no lugar em relação dinâmica com os outros polos, cada leitura é parcial: um ambiente litúrgico, com a centralidade de uma dimensão experiencial física, psicológica e emotiva, parece configurar-se como um ecossistema delicado. Ao mesmo tempo, o sistema litúrgico que emerge do Vaticano II aparece como uma "obra aberta", da qual deriva uma "biodiversidade" de soluções e formas que - livres de abusos e desentendimentos - deve ser salvaguardada e encorajada.
A reportagem é de Alessandro Beltrami, publicada por Avvenire, 02-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Estas são algumas das ideias e anotações que podem ser tiradas no final da 17ª Convenção Litúrgica Internacional da Bose dedicada ao altar. Três dias de ideias e debates concluídos no sábado pelo artista Ettore Spalletti, que apresentou sua igreja na clínica de Cappelle sul Tavo (Pescara).
Mas são principalmente as intervenções de Jean-Marie Duthilleul e Gilles Drouin, testemunho da força que pode desenvolver um diálogo entre arquiteto e teólogo, que se configuram como uma síntese rica de perspectivas. Duthilleul é o autor em Paris, entre outras obras, da igreja de Saint-François de Molitor e da adaptação litúrgica da catedral de Notre-Dame. Dois trabalhos em que o espaço é definido, ou redefinido, pelos polos litúrgicos.
Altar da catedral de Notre-Dame antes do incêndio deste ano (Foto: www.vounajanela.com)
"O altar é um lugar onde os homens entram em contato com Deus - diz ele - a causa final do altar é a conexão. Não existe sozinho, mas em um sistema de conexão. A arte de se conectar através do espaço é chamada arquitetura”. Em Notre-Dame parte da leitura da história do prédio, da experiência da catedral gótica, das exigências da liturgia. Uma intervenção anterior colocara instintivamente o altar no cruzeiro: "Colocando-o no centro geométrico da arquitetura, pensou-se indicar aos fiéis o lugar central de Cristo em toda a vida. Assim, no entanto, o edifício não estava apto a desempenhar o seu papel, isto é, provocar uma experiência física em quem o frequenta, a experiência da imensidão dada pela chegada ao transepto. Esse abandono de espaços é sempre sintoma de um desacordo entre o prédio e o que acontece nele. É como um violino com uma corda partida”. "Afinar o espaço" é um processo demorado, mesmo para a verificação.
A pressa do projeto codificou alguns padrões: "50 anos depois do Concílio - observa Gilles Drouin, do Institut Supérieur de Liturgie em Paris - o que faltou e o que está sendo feito é uma verdadeira hermenêutica espacial da eclesiologia litúrgica do Vaticano II.
Existe um déficit teológico em muitos processos de planejamento litúrgico do espaço. No entanto, não podemos pensar no lugar do altar sem esse esforço de integração orgânica". Não só: “Aprendi com Jean-Marie que às vezes é necessário sair dos esquemas. Por exemplo, Gaudium et Spes não trata do espaço litúrgico, mas é um texto estimulante para um teólogo e um arquiteto que, juntos, procuram considerar o que uma igreja diz sobre a relação da comunidade de crentes com o mundo".
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Bose, o altar? "Nos conecta com Deus" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU