01 Mai 2019
O padre Mattia Ferrari, pároco em Nonantola, Itália, também embarcou no navio italiano. Com a permissão de dois arcebispos. Ele vai presidir a missa todos os dias. “Eu sou o capelão de bordo. A minha tarefa é mostrar proximidade aos jovens da plataforma Mediterranea, que têm um grande respeito pelo Papa Francisco.”
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 30-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Igreja Católica também está a bordo do navio italiano que salva os migrantes. E não é uma metáfora espiritual. No navio Mare Jonio, de fato, embarcou o Pe. Mattia Ferrari, jovem vigário paroquial de Nonantola, na diocese de Modena. Vinte e cinco anos, seminário iniciado logo depois de se formar no Ensino Médio, a primeira missa há um ano: um padre entre os anticlericais, querendo buscar uma síntese.
Pe. Mattia Ferrari, 25 anos, presidindo missa no navio Mare Jonio (Foto: La Repubblica)
“Com efeito, aqui são todos ateus e agnósticos”, diz o Pe. Mattia, sorrindo. “Mas há uma boa atmosfera de fraternidade. Os jovens da plataforma Mediterranea têm um grande respeito pelo Papa Francisco. E uma coisa é certa: o Evangelho, hoje, também passa pelo Mediterrâneo.”
Estamos na terceira missão de 2019, a sexta desde que um grupo de associações (Arci, Ya Basta Bologna), a ONG Sea-Watch, a revista online I Diavoli e a empresa social Moltivolti de Palermo deram origem à plataforma Mediterrânea. O antigo rebocador alugado e readaptado para o resgate dos náufragos está atracado no cais de Marsala e está aguardando condições favoráveis do mar para retornar à zona Search and Rescue da Líbia: uma área muito desprotegida desde antes da guerra civil, mas que agora está praticamente deserta porque as lanchas da guarda costeira da Líbia estão bloqueadas no porto de Trípoli.
Desta vez, no Mare Jonio, também estará o Pe. Mattia, que presidirá a missa todos os dias. A primeira já foi celebrada, há dois dias, diante de um altar improvisado dentro dos contêineres brancos na popa. “Na mochila, além de algumas peças de roupa, trouxe os evangelhos, o missal e o terço”, conta o sacerdote. Parece que, no “navio dos centros sociais”, como é definido com desprezo pelos membros da Liga, no domingo passado, as tarefas do rito foram disputadas no “par ou ímpar”: para alguns as leituras, para outros o salmo e as preces dos fiéis. E todos estavam presentes naquele contêiner: o líder da missão, Beppe Caccia, o responsável da equipe de resgate, o capitão, a tripulação.
“Eu certamente não pretendo que todos os dias haja essa participação. Eles têm muito o que fazer na navegação. E também depende de como o mar vai estar... Tenho que adivinhar o momento certo, quando não se ‘dança’ muito.”
Mas o Pe. Mattia não embarcou com o único propósito de rezar as missas no meio do Mediterrâneo. “Eu sou o capelão de bordo. A minha tarefa é mostrar a proximidade da Igreja tanto para esses jovens que arriscam suas vidas por algo em que acreditam, quanto para os migrantes que chegam da Líbia. Somos as primeiras pessoas que eles vão ver. Eu quero trazer amizade, apoio espiritual e consolação.”
A sua presença no Mare Jonio não é uma história “colorida” e merece uma reflexão mais aprofundada. Porque, para estar lá respeitando os procedimentos canônicos, o Pe. Mattia pediu e obteve a permissão de dois arcebispos (o de Modena, Elio Castellucci, e o de Palermo, Corrado Lorefice, conhecido por ser muito próximo de Bergoglio), além da aprovação da Fundação Migrantes da Conferência Episcopal Italiana. Isso para dizer que não estamos diante de uma iniciativa pessoal de um pároco de aldeia, mas sim de uma escolha apoiada por uma parte representativa da hierarquia vaticana. Politicamente, não é um detalhe.
O Pe. Mattia Ferrari, além disso, não pode sequer ser inscrito na categoria “padre subversivo”: ele é composto e ordenado na sua camisa clerical, bem penteado, usa óculos escuros Rayban, é gentil no trato pessoal. Ele assumiu as palavras do Papa Francisco quando, durante a última Via Sacra, agradeceu “aqueles que, com papéis diversos, arriscaram a vida para salvar a de tantas famílias em busca de segurança e oportunidades”. Um motivo a mais para meditar sobre fazer algo de concreto pelos imigrantes que tentam a travessia.
É assim que ele narra a sua escolha: “O pedido de ter um padre a bordo veio dos jovens da tripulação: Luca Casarini (chefe das anteriores missões do Mare Jonio) tinha pedido isso no encontro com o arcebispo de Palermo no dia 8 de abril, e Lorefice acolhera a ideia de forma muito positiva. Com os jovens da TPO e Labas de Bolonha, que, através da associação Ya Basta, fazem parte da plataforma Mediterranea, somos amigos há muito tempo, porque, há dois anos, eles acolheram Yusupha, um jovem migrante que dormia na estação de Bolonha e para quem não conseguíamos encontrar um lugar, apesar de termos batido em tantas portas”.
Uma amizade nascida graças ao sentimento comum de fraternidade com os migrantes.
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Igreja sobe a bordo do navio Mare Jonio, que salva os migrantes: ''O Evangelho está aqui'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU