10 Abril 2019
Com 20 páginas, publicada em papel impermeável e texto na língua Wai Wai, a Cartilha de Boas Práticas e Manejo da Castanha (para fazer o download clique aqui) chegou às mãos do professor Renato Wai Wai, da aldeia Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas/Mapuera (RR).
A reportagem é de Roberto Almeida, publicada por ISA - Instituto Socioambiental, 08-04-2019.
Wai Wai lavam castanha antes do embarque nas canoas no rio Anauá. (Foto: Rogério Assis/ISA)
Na Escola Estadual Indígena Wai Wai, onde trabalha, Renato pretende mostrar a cartilha aos alunos, que vivem intensamente a safra da castanha. Eles recebem uma licença de 15 dias das escolas, observam o trabalho nos castanhais, muitos deles localizados a horas de barco distante das aldeias, e aprendem tudo sobre o manejo.
“A gente já explicava como é o trabalho com a castanha para as crianças sem a cartilha. Com a publicação, elas aprendem mais fácil. Os pais sempre levam os filhos para os castanhais. Eles conversam, escutam. Por isso, é muito importante para a gente ensinar sobre a castanha também”, disse.
O professor lembra que, quando as famílias retornam dos castanhais, as crianças contam na escola o quanto aprenderam com os pais sobre o território – plantas, animais que viram e que comeram, o trabalho de coletar e lavar as castanhas.
O povo Wai Wai das Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas/Mapuera, em Roraima, negociou em 2018 uma safra de 100 toneladas de castanha com a empresa de pães Wickbold. O preço da lata de 10 quilos chegou a R$ 44 –76% acima dos R$ 25 praticados por atravessadores na região à época.
O volume e o preço alcançado são resultado da consolidação das boas práticas no manejo da castanha, praticadas há uma década pelos Wai Wai.
“Já aprendemos boas práticas para vender uma castanha de qualidade. Temos de ensinar nossos filhos a continuar a vender uma castanha limpa”, afirmou Fernandinho Oliveira Wai Wai, presidente da Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW), em visita do ISA à comunidade no ano passado.
A cartilha de boas práticas ganhou também uma versão em vídeo, compartilhada entre as comunidades. Assista:
“Hoje, nós chamamos os castanhais de nossa poupança”, disse Tarcizio Yakima Wai Wai, da aldeia Anauá. “Eles nos garantem dinheiro como a poupança para os brancos. Porque a castanha é a nossa fonte de renda.”
Sobre castanhas ensacadas, menino observa trabalho dos mais velhos na Terra Indígena Wai Wai. (Foto: Rogério Assis/ISA)
Imagens de satélite mostram o avanço do desmatamento nos limites da Terra Indígena Wai Wai, próxima às cidades roraimenses São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Caroebe. Elas formam um corredor na BR-210 e são a espinha dorsal do desenvolvimento predatório, com a abertura de estradas vicinais.
Contudo, o reforço das boas práticas no manejo da castanha, e a parceria para comercialização justa e transparente com empresas, favorece o planejamento da safra e, com isso, mantém o monitoramento das terras Wai Wai contra invasores.
Mapa das Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas/Mapuera. Em vermelho escuro, a mancha de desmatamento.
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Para inspirar nova geração, povo Wai Wai publica cartilha sobre manejo da castanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU