22 Janeiro 2019
"Considerando a década 2010-19, o crescimento médio do mundo deve ficar em 3,85% ao ano, da ALC em 2,34% aa e do Brasil em 1,53% aa. Desta forma, a ALC deve crescer apenas 60,7% do que cresce o mundo e o Brasil cresce apenas 40%", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 22-01-2019.
A redução foi modesta na década de 1990, mas foi mais significativa entre 2002 a 2014, período muito influenciado pelo superciclo das commodities e que possibilitou o aumento da renda e a valorização do câmbio, aumentando o poder aquisitivo da população.
No início de janeiro de 2019, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) lançou o relatório Panorama Social 2018, que inclui novas revisões da metodologia utilizada pelo organismo para a estimativa da pobreza monetária na região.
O gráfico acima mostra que a taxa de pobreza estava em 44,5% em 2002 e caiu para 27,8% em 2014. Nos anos seguintes a taxa subiu e chegou a 30,2% em 2017 e está projetada para 29,6% em 2018. Mas últimos dados do gráfico não incluem as informações da Venezuela (por problemas de confiabilidade). Caso a realidade da Venezuela fosse incorporada as taxas de pobreza seriam maiores.
A Pobreza extrema caiu de 11,2% em 2002 para 7,8% em 2014, mas voltou a subir e deve ficar em 10,2% tanto em 2017, quanto em 2018. Ou seja, em todo o período considerado, 2002 a 2018, a pobreza extrema foi reduzida em apenas um ponto percentual, de 11,2% para 10,2%, muito abaixo da meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que pretendia reduzir a pobreza pela metade (em relação à 1990).
O gráfico abaixo mostra o número absoluto de pessoas na pobreza e na pobreza extrema na ALC. Em 2002 havia 226 milhões de latino-americanos em situação de pobreza, caindo para 164 milhões em 2014. Mas este número voltou a subir para ficar acima de 180 milhões nos últimos anos (2016-2018).
Na pobreza extrema havia 57 milhões de latino-americanos em 2002, caindo para 46 milhões em 2014, mas voltou a ficar acima de 60 milhões nos últimos 3 anos. Os novos cálculos da Cepal mostram que a redução da pobreza extrema no período do superciclo das commodities foi muito menor do que o calculado na metodologia anterior.
De fato, a ALC passa por um período de crise econômica ou de baixo crescimento que tem dificultado o combate à pobreza. O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que tanto a ALC, quanto o Brasil (maior país da região) cresceram abaixo da média mundial nas últimas 4 décadas. E o mais grave é que a diferença, em relação à média mundial, nunca foi tão grande como no momento atual, o que quer dizer que, pelo modelo hegemônico, será difícil manter a tendência de redução da pobreza.
Considerando a década 2010-19, o crescimento médio do mundo deve ficar em 3,85% ao ano, da ALC em 2,34% aa e do Brasil em 1,53% aa. Desta forma, a ALC deve crescer apenas 60,7% do que cresce o mundo e o Brasil cresce apenas 40%.
Desta forma, fica claro que a ALC e o Brasil vão ter dificuldades para cumprir o Objetivo 1, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que diz: “Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares até 2030”. Só com grandes transformações, a ALC poderá romper com o ritmo de marcha lenta na economia e avançar em um modelo inclusivo de desenvolvimento sustentado e sustentável.
Referência:
CEPAL. Panorama Social de América Latina 2018. Santiago de Chile, Enero 2019.
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Cresce a pobreza na América Latina e Caribe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU