19 Dezembro 2018
Sistema de monitoramento do ISA detectou 42 polígonos de desmatamento na TI Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, entre setembro e outubro de 2018.
A reportagem é de Clara Roman, publicada por Instituto Socioambiental - Isa, 18-12-2018.
Na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, o desmatamento avança, colocando em risco o modo de vida de três povos indígenas contatados e de ao menos quatro registros de povos indígenas em situação de isolamento voluntário confirmados pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
Uma análise do Instituto Socioambiental (ISA) identificou, apenas entre setembro e outubro, um total de 42 polígonos de desmatamento, representando 692,34 hectares de corte raso de floresta. O Sistema de Indicação por Radar de Desmatamento - (Sirad) permite identificar áreas de mudança na cobertura florestal o mais rápido possível. Veja aqui o boletim. A ferramenta utiliza imagens do satélite Sentinel-1, que rastreia o corte e degradação na Amazônia a cada 12 dias, e que consegue “enxergar através das nuvens”. Isso ocorre porque o satélite utiliza sinais de radar, que batem na terra e retornam com as informações. Outros satélites, como o Landsat, utilizam imagens ópticas e, por isso, em época de chuva, não conseguem identificar o corte da vegetação. Os desmatadores sabem disso, e atuam neste período para evitar a fiscalização.
A presença de povos em isolamento voluntário na área - com pouco ou nenhum contato com outros povos indígenas e não indígenas - é uma preocupação adicional. A boa notícia é que esses grupos se encontram nas partes mais centrais da TI, distantes dos principais focos de invasão ao norte da terra.
Já os grupos contatados têm sofrido com as invasões. A TI abriga, além do povo Jupau (Uru-Eu-Wau-Wau), os Amondawa falantes de línguas kagwahiva, da família Tupi-guarani, e os Oro Win, da família linguística Txapakura. Os povos kagwahiva do oeste foram contatados oficialmente ao longo dos anos 1980.
Fiscalização na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, com Funai, Batalhão de Policia Ambiental e Kanindé. (Foto: ISA)
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já havia detectado altas taxas de desmatamento na TI. Em 2017, foi uma das mais desmatadas, com um crescimento de aproximadamente 16% em relação a 2016. O desmatamento continuou a crescer em 2018, quando os dados oficiais relativos ao Prodes indicam a TI como a oitava mais devastada, com 937,15 hectares desmatados até julho de 2018, um aumento de 41% em relação a 2017. Além disso, o entorno da TI já perdeu mais de 70% de cobertura florestal, considerando um raio de 20 km.
Os dados identificados pelo Sirad reforçam uma tendência observada em outras terras indígenas monitoradas pelo ISA: as mudanças no cenário político tiveram um impacto direto no aumento do desmatamento na Amazônia. “A tendência é de crescimento do desmatamento, por causa de todo esse processo político, onde os invasores e os grileiros estão se se sentindo empoderados pelo novo governo”, afirma Ivaneide Bandeira, da ONG Kanindé, que atua em Rondônia. “A certeza da impunidade faz com que aumente a pressão na área”, explica.
O principal problema da Uru-Eu-Wau-Wau, segundo ela, é a invasão por grileiros, que efetuam o corte raso na floresta. Mas madeireiros e garimpeiros ilegais também atuam no território. As invasões começaram há 30 anos, quando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) deu títulos de propriedade dentro da Terra Indígena. O problema permanece sem solução definitiva, para piorar, existem áreas declaradas como imóveis privados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR). Os cadastros, feitos de forma autodeclarada, ainda não foram validados pelo Estado, mas são indícios da ação de grilagem na TI. Cerca de 40% do total desmatado incide em áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ao todo, são ao menos 18 mil hectares bloqueados por ocupantes ilegais.
Apreensão na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau (Foto: ISA)
A situação se agrava porque, segundo Bandeira, políticos locais fazem o discurso de que o governo dará as terras invadidas para os seus invasores. “Eles (os invasores) começam roubando madeira. A partir daí, vai para a grilagem e em seguida, eles atuam para se manter dentro do território.
“Todas as eleições tem pressão só que nessa foi muito maior por conta do discurso dos candidatos”, afirma Ivaneide.
Bandeira relata que os povos indígenas da área tentam se proteger como podem. “Mas os invasores tem arma de fogo, enquanto os indígenas se defendem com arco e flecha”, diz Ivaneide. Mesmo assim, os indígenas tentam expulsar os invasores e denunciar à Funai. Ainda, a Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, criada para monitorar os povos isolados dessa área, sofre com a falta de recursos.”Os indígenas estão ameaçados, assustados, e se sentem abandonados também porque a Funai tá sem recursos para atuar, sucateada, sem carro, sem pessoal, sem combustível. Os indígenas ficam correndo risco de vida”,diz ela.
Koembu Uru-Eu-Wau-Wau (Foto: ISA)
Para Bandeira, o fortalecimento da Frente é uma das ações que deve ser feita para ajudar no combate ao desmatamento da área. Além disso, ela acredita ser fundamental a retirada de todos os invasores da terra. “O Estado precisa tirar e punir os invasores pelos danos causados à terra. É vantajoso manter a invasão. O cara entra, invade, rouba, ganha dinheiro e nada é feito para impedir isso”, afirma.
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Com certeza de impunidade, grileiros intensificam invasão na Terra Indígena Uru- Eu-Wau-Wau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU