28 Novembro 2018
Sinal amarelo ao experimento, apresentado on-line. Cientistas revoltados: não se brinca de ser Deus.
As pequenas, concebidas em um tubo de ensaio, teriam um mês. Controvérsia sobre a falta de verificação do estudo e sobre o uso da técnica de editing genético em embriões humanos: "Ninguém tinha ido tão longe".
A reportagem é de Viviana Daloiso, publicada por Avvenire, 27-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Dr. He Jiankui sorri sereno, enquanto comunica por um canal do Youtube a experiência que lança no caos o mundo científico, apagando de uma só vez todas as regras explicitamente acordadas em nível internacional em termos de respeito à vida. "Um mês atrás, Lulu e Nana nasceram", as primeiras meninas com um DNA "corrigido" em proveta.
O pesadelo da manipulação genética selvagem, portanto, teria se tornado uma realidade na China, mais especificamente na Universidade de Shenzhen. Se não fosse por tudo o que - por enquanto, e felizmente - requer como obrigatório o uso do condicional, dado que as descobertas científicas não se anunciam na rede, mas em revistas especializadas, depois de passar através do crivo escrupuloso do método da peer review (ou seja, as verificações cruzadas pelos especialistas) e considerando que a própria Universidade de Shenzhen nega ter sido informada sobre o projeto de seu pesquisador, atualmente em licença. Portanto pode ser – terá que ser confirmado, mas a gravidade do fato permanece enorme – que se tenha chegado tão longe: manipular o DNA de dois embriões humanos, depois implantá-los no útero de uma mulher, sendo destinados a nascer, crescer e até transmitir as modificações recebidas. No caso, a capacidade de resistir ao vírus HIV, responsável pela transmissão da Aids, para a qual o pai era positivo e para o qual apenas uma das duas meninas teria sido efetivamente "imunizada". Para a outra - hipótese ainda mais chocante - a técnica do editing genético empregada para o experimento não teria tido sucesso, resultando em uma verdadeira confusão cuja consequência sobre o futuro da criança é impossível prever.
Não é por acaso que até o momento os cientistas tinham previamente acordado uma espécie de "moratória" sobre o uso de CRISPR - o nome de segmentos de DNA através de que foi possível colocar em campo o corta e costura genético em questão -, limitando-se a utilizar a técnica apenas em embriões não destinados à reprodução: esta técnica, de fato, provou ser simples, mas não é totalmente precisa, com o resultado perturbador (documentado pela Nature methods apenas alguns meses atrás) que, juntamente com as modificações desejadas muitas vezes se acompanham também mudanças não previstas no genoma, e em número muito maior ao esperado. Para resumir: sabe-se como e onde usar a tesoura, não se sabe como e onde efetivamente ela irá cortar. E eis que agora estoura a revolta dos cientistas de meio mundo.
A revista do Massachusetts Institute of Technology interveio imediatamente, alertando que o caso tem implicações éticas "porque as modificações em um embrião serão herdadas pelas gerações futuras e poderiam afetar um pool genético inteiro". A referência é à legislação internacional, que quase em toda parte (exceto na China) proíbe a manipulação genética cujos efeitos são transmissíveis. Também foi crítico Dusko Ilic, especialista em células-tronco do King College de Londres: "O HIV é um vírus que agora podemos manter sob controle e não há necessidade de manipulações genéticas para evitar que seja transmitido dos pais para os filhos."
Ainda mais duro foi o juízo do geneticista Giuseppe Novelli, reitor da Universidade de Roma Tor Vergata, segundo o qual estaríamos diante do "primeiro caso de melhoramento genético do homem para beneficiar os indivíduos e criar discriminações na sociedade." Eugenética, em suma. A correção do DNA nos embriões "para ser moral e eticamente aceitável - continua - deve ser finalizada de maneira precisa e cuidadosa para curar as pessoas". Para o geneticista Edoardo Boncinelli “perfila-se a possibilidade de eliminar os defeitos genéticos diretamente no DNA, mas assoma-se o medo de poder criar monstros ou que o homem possa “brincar” de bancar o Deus." Uma ambição imediatamente estigmatizada por Dom Mauro Cozzoli, Professor de Teologia Moral na Pontifícia Universidade Lateranense, segundo o qual "modificar o genoma humano será sempre humanamente e eticamente ilícito. Nem tudo que é tecnicamente possível pode ser considerado eticamente admissível. A identidade humana foi estabelecida pelo Criador e nenhum indivíduo humano pode brincar de ser o Criador”. Em revolta também os 122 cientistas chineses, que com um comunicado conjunto, pedem a interrupção de pesquisas desse tipo "antes que seja tarde demais".
Os cientistas a que foi submetido o material fornecido pelo cientista, até agora, o definiram de insuficiente para obter um juízo científico sobre o experimento. Ele, o Dr. He, afirma ter esclarecido com os casais participantes – sete, parece – que esse tipo de experimento nunca havia sido posto em prática até agora e que poderia ter comportado riscos. He também prometeu um seguro para as crianças concebidas com o DNA modificado até os 18 anos e mais, com seu consentimento. "Acredito que isso possa ajudar as famílias." No caso de haver danos ou efeitos colaterais? "Eu sentiria a mesma pena que eles, e seria minha a responsabilidade". Alternativamente, ele não tem dúvidas, "esta descoberta me valerá o Nobel".
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China, anúncio chocante: 'Nasceram duas meninas com DNA manipulado' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU