27 Novembro 2018
O consumismo é uma “doença séria”, uma “doença contra a generosidade”, “uma doença psiquiátrica”, disse o Papa Francisco durante a homilia matutina na Casa de Santa Marta, na qual refletiu sobre o Evangelho do dia, logo após o Black Friday, sobre o tema da generosidade, convidando a fazer uma “viagem” ao próprio guarda-roupa para dar aos mais necessitados: “Quantos pares de sapatos tenho? Um, dois, três, quatro, quinze, vinte... Eu conheci um monsenhor que tinha 40. Mas se você tem tantos sapatos, dê a metade”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 26-11-2018. A tradução é de André Langer.
Francisco começou a sua reflexão pelo episódio evangélico da viúva pobre que deposita duas moedas, isto é, “tudo o que ela tinha para viver”, como oferenda ao templo; ao contrário dos ricos, que doaram parte do que tinham de sobra. “Eles não são maus”, esclareceu Jorge Mario Bergoglio, segundo indicou o sítio Vatican News, “parecem ser pessoas boas que vão ao Templo dar uma oferta”, mas a viúva dá mais que todos, porque “deu tudo o que tinha para viver”. “A viúva, o órfão e o migrante, o estrangeiro, eram os mais pobres na vida de Israel”, sublinhou o Papa, e a mulher “dá tudo, porque o Senhor é mais que tudo. A mensagem desta passagem do Evangelho é um convite à generosidade”.
Diante das estatísticas da pobreza no mundo, as crianças que morrem de fome, que não têm o que comer, que não têm remédios, tanta pobreza que se ouve todos os dias nos noticiários e nos jornais, continuou o Papa, é uma atitude positiva perguntar-se: “Mas como posso resolver isto?” “A generosidade – continuou Francisco – é uma coisa de todos os dias, é uma coisa que nós devemos pensar: como posso ser mais generoso com os pobres, com os necessitados… como posso ajudar mais? ‘Mas o senhor sabe, padre, que nós mal chegamos ao final do mês’ – ‘Mas sobra alguma pequena moeda? Pense: é possível ser generoso com estas’. Pensa. As pequenas coisas, vamos fazer, por exemplo, uma visita aos nossos quartos, uma visita ao nosso guarda-roupa. Quantos pares de sapatos tenho? Um, dois, três, quatro, quinze, vinte – Cada um de vocês pode dizer. Um pouco demais. Eu conheci um monsenhor que tinha 40... Mas se você tem tantos sapatos, dê a metade. Quantas roupas que não uso ou uso uma vez por ano? É um modo de ser generoso, de dar o que temos, de compartilhar”.
O Papa também contou que conheceu uma mulher que, quando ia ao supermercado fazer comprar, sempre comprava para os pobres 10% do que gastava: dava o “dízimo” aos pobres.
“Nós podemos fazer milagres com a generosidade. A generosidade das pequenas coisas, poucas coisas. Talvez – insistiu – não fazemos isso porque não pensamos. A mensagem do Evangelho nos faz pensar: como posso ser mais generoso? Um pouco mais, não muito… ‘É verdade, padre, é assim, mas… não sei porque, mas sempre há o medo…’ Mas há outra doença, que é a doença contra a generosidade hoje: a doença do consumismo. Sempre comprar coisas, ter...”.
E consiste em comprar, sempre coisas. O Papa Francisco lembrou que quando morava em Buenos Aires “todo fim de semana havia um programa de turismo de compras”: enchia-se o avião na sexta-feira à noite e ia a um país a dez horas de distância e todo sábado e parte do domingo se passava em compras em supermercados. E depois se voltava para casa”.
“Uma grande doença, do consumismo hoje! Não estou dizendo que todos nós fazemos isso, não. Mas o consumismo, gastar mais do que o necessário, a falta de austeridade na vida: é um inimigo da generosidade. E a generosidade material... Pensar nos pobres: ‘Eu posso dar isto para que eles comam, para que eles se vistam. Essas coisas têm outra consequência: alargam o coração e levam à magnanimidade”.
Trata-se, pois, de ter um coração magnânimo, onde todos entram. “Os ricos que deram o dinheiro eram bons; a idosa era santa”, assinalou o Papa, que, para finalizar, nos incita a seguir o caminho da generosidade, começando com “uma inspeção em casa”, isto é, pensando “naquilo que não é útil para mim, naquilo que pode ser útil para outra pessoa, por um pouco de austeridade”.
Devemos rezar ao Senhor “para que nos liberte” deste mal tão perigoso que é o consumismo, que nos torna escravos, uma dependência do gastar: “é uma doença psiquiátrica”. “Peçamos – exortou Francisco – por esta graça do Senhor: a generosidade, que alarga o nosso coração e nos leva à magnanimidade”.
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O Papa: o consumismo é uma doença psiquiátrica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU