22 Novembro 2018
Um pequeno exército de 300 freiras de clausura - um caso muito excepcional - foi autorizado pelo Papa Francisco para sair dos próprios conventos para se dirigir a Roma. Mais do que respirar ar fresco e escapar da rotina diária que se consome entre o silêncio e a meditação, as irmãs desta vez são chamadas a fazer um balanço e discutir sobre o seu futuro. Muitas ordens religiosas estão agora condenadas à extinção devido à falta de vocações. Outras precisam lidar com a idade avançada nos conventos e, consequentemente, optar por um complicado percurso federativo com outras comunidades de clausura. As experiências muitas vezes funcionam, outras não.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 21-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
As 300 religiosas que participam do encontro realizado na Basílica de Latrão com especialistas do setor e com os líderes da Congregação para os Religiosos devem fazer uma reflexão sobre dois documentos que o Papa assinou no começo do ano, uma constituição apostólica intitulada Vultum Dei quaerere e a sua instrução aplicativa, Cor Orans, ambos concebidos para acompanhar os mosteiros no sentido de um processo evolutivo que preveja uma modificação de gestão e a regeneração daquelas realidades que de outra forma sufocariam devido à falta de novos ingressos. Os números falam de um declínio inexorável.
Se há 15 anos o número total de religiosas contemplativas era de cerca de 47 mil, hoje caiu para 37 mil. Na Itália, os mosteiros de clausura são 468, com 6 mil e 600 freiras e apenas 321 noviças.
As mais numerosas são as franciscanas, seguidas pelas clarissas, capuchinhas, beneditinas, cartuxas, camaldulenses, trapistas, dominicana e agostinianas. Antigamente a lista era mais longa, então o colapso das vocações forçou a tomar providências e fazer projetos de longo alcance, mesmo que a vida de clausura continue a surpreender por novas experiências relacionadas ao monaquismo. O silêncio, a meditação, ainda atraem muitas garotas, embora as entradas não sejam suficientes para cobrir os falecimentos. Se antigamente no mosteiro se ingressava quase por obrigação, agora é o resultado da livre escolha, meditada e acompanhada por anos de estudo, o que pode durar até um máximo de 12 anos, conforme estabeleceu o Papa Francisco. Mas por que tantas garotas são atraídas por uma vida tão espartana?
"Essas irmãs não fogem do mundo porque o consideram corrupto, inabitável ou pecaminoso. Elas vivem no mundo com uma modalidade evangélica que mostra Deus, elas mergulham nas profundezas da existência humana, oferecendo-se ao Senhor e dando testemunho de um percurso não paralisado por seguranças", explica José Carballo, arcebispo franciscano, no encontro da Congregação para os Religiosos. No ano passado, em preparação dos documentos papais, um questionário foi enviado a todos os mosteiros para obter uma visão mais completa deste mundo.
As freiras, além do voto de castidade, da pobreza e de obediência, respeitam cotidianamente uma dimensão de solidão, compartilhando os bens com as outras irmãs. O mosteiro, historicamente, é considerado como a morada de Deus por excelência. Cada freira tem uma cela, mesmo que compartilhem áreas comuns, onde comem e trabalham, iniciando o dia com os louvores às 5 da manhã. O trabalho desempenhado, que muitas vezes oferece sustento, varia de convento a convento: se realizam objetos sagrados, bordados, traduções, se produz mel e geleias que depois são vendidos na Internet. O papa Bergoglio, para tal propósito, liberou a comunicação via web. As irmãs podem conversar por chat, trocar fotos, seguir grupos, participar de discussões nas mídias sociais. Twitter, Instagram ou Facebook já não são mais territórios proibidos, aliás, são agora instrumentos inestimáveis para recolher ajuda, anunciar produtos, infusões para curar o diabetes ou os cálculos reais usando antigas receitas, tiradas da farmacopeia de Santa Hildegard von Bingen. Alguns mosteiros entraram nas redes sociais e isso reduz a distância com as pessoas. Naturalmente, respeitando os tempos litúrgicos.
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A assembleia de 300 irmãs religiosas de clausura em Roma (com uma dispensa papal) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU