Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 10 Outubro 2018
O avanço da extrema-direita no Brasil seduziu seu principal representante no Chile. José Antonio Kast, ex-deputado e ex-candidato à presidência, anunciou sua vinda para o Brasil. Um giro pelo país junto à campanha bolsonarista para o segundo turno. Segundo Kast, Bolsonaro “representa a direita sem complexos”.
José Antonio Kast. Foto: Wikicommons
Uma propaganda de televisão de 1988 no Chile, apresentava um jovem universitário se posicionando a favor da continuidade de Augusto Pinochet na presidência do Chile por mais oito anos. Esse jovem era José Antonio Kast que catorze anos depois tornou-se deputado eleito pelo distrito 30, seu berço político, a comuna de Buin. Depois de três eleições pelo seu distrito natal, mudou-se para o distrito 24 e se elegeu para o quarto mandato seguido, representando uma das regiões mais nobres da capital Santiago, as comunas de Peñaloel e La Reina.
[AHORA] El sexto capítulo de la franja electoral del #Plebiscito1988 es transmitido en cadena nacional. Por la opción #SI, el dirigente estudiantil @joseantoniokast apoya a Augusto Pinochet. Por su parte, Schwenke & Nilo adhieren a la opción #NO. https://t.co/cjgFzLG9K9 pic.twitter.com/dZSpo8ckf0
— Tuiteando en el Chile de 1988 (@Chile_1988) 10 de setembro de 2018
Kast tornou-se o principal representante dos mais de três milhões de apoiadores pinochetistas do Chile de 1988. Ficou filiado pela Unión Demócrata Independiente – UDI até 2015, partido aliado de Pinochet. As suas sucessivas eleições como deputado alçaram-no à candidatura à presidência em 2017. Entretanto sem o consenso do seu tradicional partido, que apoiou a aliança de Sebastián Piñera, Kast disputou como candidato independente. Sem nenhum apoio partidário, alcançou 8%, ou 523 mil votos.
Além de Augusto Pinochet, José Antônio Kast, a exemplo de Jair Bolsonaro, tem admiração por outra figura da extrema-direita latino-americana: Alberto Fujimori. O pinochetista se manifestou nas redes sociais celebrando o indulto dado ao ex-ditador peruano no final de 2017, comparando a situação com o Chile, que ainda mantém idosos condenados por crimes do período ditatorial em situação de cárcere. Kast disse que “os direitos humanos são para todos”.
Nas últimas semanas manifestações de saudação a Pinochet e Fujimori por parte de Jair Bolsonaro foram trazidas à tona. O jornal Estado de São Paulo revelou em 26-09-2018 que o deputado enviou para a embaixada brasileira no Chile um telegrama direcionado ao neto de Pinochet. A mensagem apresentava a admiração ao neto “por não se curvar à esquerda e honrar a memória do avô [...] o saudoso General Pinochet”.
Outra recordação da simpatia do deputado com o autoritarismo latino-americano foi exposto pelo jornal New York Times. Entrevistado por James Brooke durante o seu primeiro mandato, em 1993, Bolsonaro defendeu o fechamento do congresso feito por Fujimori, no Peru. O modelo fujimorista inclusive era sua proposta para o Brasil: “A Fujimorização é a saída para o Brasil. Estou fazendo essas advertências porque a população é a favor da cirurgia política”, avisou ao NYT.
Alberto Fujimori e Augusto Pinochet foram condenados internacionalmente por crimes de lesa-humanidade, genocídio e corrupção. As condenações não foram problemas para Bolsonaro que, em janeiro de 2015, afirmou na RedeTV que “Pinochet fez o que tinha de ser feito, tinha que ser de forma violenta para reconquistar seu país”.
A admiração conjunta aos ditadores faz de Kast e Bolsonaro dois aliados na região. José Antônio Kast anunciou nesta terça-feira, 09-10-2018, que estará junto à campanha de Bolsonaro no segundo turno, fazendo um giro pelo Brasil. O extremista chileno confirmou a CNN Chile que mantém um diálogo constante com os filhos de Jair.
Em outra entrevista, ao jornal The Clinic, Kast afirmou que apoia Bolsonaro porque representa aquilo que quer ver triunfar no Chile. “Eu não voto no Jair Bolsonaro porque não sou brasileiro. Mas sim, me parece importante apoiá-lo do Chile, porque representa a direita sem complexos, que queremos que triunfe também no Chile. Estamos há 30 anos na base do consenso, por onde, chegando a acordos com a esquerda, o cerco vai fechando a favor desse setor, sem contrapeso e com um claro retrocesso”.
Kast afirma que admira a política econômica de Jair Bolsonaro, mas que rechaça os posicionamentos homofóbicos, racistas e misóginos, embora afirme que na verdade as acusações partem da esquerda que faz distorções nos discursos. No Chile, Kast também se envolveu em polêmica relacionado à população LGBT. Em artigo publicado pelo jornal La Tercera, em janeiro de 2018, o pinochetista ofende a atriz transexual Daniele Vega, protagonista do filme chileno “A mulher fantástica”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Kast afirmou “Vou dizer a verdade [...] Vega ‘não é mulher, ele é homem’” e acusou que “os juízes [chilenos] são todos esquerdistas”. “É preciso ter vergonha de roubar e mentir, não para dizer a verdade”, conclui no artigo.
— José Antonio Kast (@joseantoniokast) 9 de outubro de 2018
José Antonio Kast diz que não admira lideranças políticas como Bolsonaro, Trump e Pinochet. Admira na verdade os seus programas de governo. Na sua campanha à presidência em 2017, disse que teria o voto de Pinochet, se esse estivesse vivo. No seu giro pelo Brasil quer conhecer a realidade do Rio de Janeiro e São Paulo para entender e aprender como conquistar uma votação expressiva. A extrema-direita latino-americana busca sua referência além das fronteiras geográficas, no passado recente.
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José Antonio Kast, o neopinochetismo com Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU