09 Outubro 2018
O filme de Wim de Wenders sobre Papa Francisco, que será exibido nos cinemas italianos nesta semana, é perfeito como a pincelada de um desenho japonês. Noventa minutos que levam o espectador a ficar cara a cara com o pontífice, empenhado a misturar profundamente as cartas na Igreja Católica.
A reportagem é de Marco Politi, publicada por Il Fatto Quotidiano, 03-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Perfeito, porque participando do longo colóquio com Jorge Mario Bergoglio, chegado ao trono de Pedro do "fim do mundo", o espectador intuitivamente sente o estilo todo próprio com quem o pontífice argentino conjuga o discurso evangélico sobre as bem-aventuranças ("Bem-aventurados vós, os pobres, os que têm fome, os que choram") com o imperativo de enfrentar o drama mundial da desigualdade: um abismo crescente que separa brutalmente a camada daqueles que usufruem de bem-estar da enorme massa dos deserdados e desesperados em busca "não de uma vida melhor"- como Francisco disse certa vez - mas simplesmente da "vida", da sobrevivência.
O Papa Bergoglio, de fato, como também o Papa Ratzinger (duas personalidades diferentes, mas nisso convergentes), está firmemente convencido de que ninguém pode se dizer cristão se não expressar uma solidariedade ativa, concreta, para com seus irmãos e irmãs em necessidade. Em outras palavras, ame o seu próximo como a si mesmo, é a única marca que pode identificar o cristão, e não certamente a frequência passiva às missas.
No filme, o desespero da desigualdade aparece plasticamente, mas sem retórica, nas imagens que fluem alternadamente com as reflexões papais. São imagens sóbrias, apesar do esplendor das cores. Imagens que refletem com precisão o cotidiano "normal", e às vezes até festivo (considerando a chegada do pontífice) dos excluídos. Quer se trate de uma favela brasileira ou Scampia em Nápoles ou uma paisagem boliviana. "A pobreza no mundo é um escândalo!", afirma Bergoglio. E infelizmente, acrescenta ele, na Igreja há muitos que permanecem surdos ao clamor dos excluídos. E, aliás, entre os cristãos e o clero há muitos que cedem à tentação da riqueza.
Talvez pela tentação de poder. "Enquanto na Igreja – frisa Francisco – houver aqueles que colocam sua esperança na riqueza, Jesus não vai estar lá".
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Papa Francisco, um homem de palavraː Wim Wenders explica por que Bergoglio não agrada a todos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU