24 Agosto 2018
Se alguém nomeasse as figuras mais importantes nos altos níveis da hierarquia da Igreja Católica hoje, obviamente começaria pelo Papa Francisco. Depois disso poderia vir o cardeal italiano Pietro Parolin, Secretário de estado do Vaticano e um homem que muitos observadores consideram como um potencial sucessor para o Papa que ele serve.
Não levaria muito tempo, no entanto, para emergir o nome do Cardeal Christoph Schönborn de Viena, Áustria.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 23-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Agora com 73 anos, Schönborn tem sido um grande jogador na Igreja por mais de três décadas, tendo se tornado Arcebispo de Viena em 1995 com a tenra idade de 50 anos.
Como a precipitação do relatório do grande júri da Pensilvânia e outros novos desenvolvimentos nos escândalos de abuso sexual clerical da Igreja continuam a nublar a abertura do Encontro Mundial de Famílias, é importante notar que Schönborn não é um estranho à crise de abuso. Ele assumiu Viena do Cardeal Hans Hermann Groër que foi acusado de abusar sexualmente de jovens estudantes do sexo masculino quando era abade beneditino.
Embora Groër tenha sempre negado as acusações, Schönborn liderou os bispos austríacos na declaração de que eles estavam "moralmente convencidos" da verdade de pelo menos algumas das acusações. Eventualmente, um livro sobre Groër lançado mais tarde afirmaria que ele abusou de mais de 2.000 jovens ao longo de sua vida.
Perguntei a Schönborn se os atuais escândalos de abusos ameaçam abafar o Encontro Mundial das Famílias.
"Está presente, é real e está aqui", disse ele. "isso está claro. Acho que a coisa mais importante é esclarecer o que aconteceu, e depois encontrar os meios para no futuro evitar que essas coisas aconteçam novamente.
Ele argumentou que há uma ligação direta entre a crise de abusos e o tema do Encontro Mundial das Famílias.
"Eu acho que a solução mais importante é a vida familiar", disse ele. "Os abusos que aconteceram na família, e os que aconteceram na Igreja pelos padres, são um apelo para famílias saudáveis. Onde mais os jovens podem crescer em uma relação saudável com sua própria sexualidade?"
"Portanto, o Encontro Mundial de Famílias vem exatamente na hora certa", disse Schönborn. "É bom que seja aqui na Irlanda, onde tanta coisa aconteceu."
Com certo realismo, o cardeal austríaco também advertiu que a história está longe de terminar: "provavelmente, vamos descobrir outros escândalos das últimas décadas", disse ele, insistindo que "a resposta é dada aqui", ou seja, na celebração do Encontro Mundial das Famílias.
Depois que o Papa Francisco emitiu uma carta ao povo de Deus na segunda-feira sobre a crise de abusos, grupos de sobreviventes criticaram a falta de detalhes concretos sobre quais medidas podem ser tomadas para remediar a crise. Em particular, os críticos se concentraram na ausência de medidas de efetiva responsabilização para lidar com não apenas o crime, mas também o encobrimento.
Perguntei a Schönborn se ele acredita que esse tipo de responsabilização pode ser alcançado.
"Eu acho que isso é principalmente uma questão de mudança na cultura", disse ele. "Eu cresci nas décadas de 1950 e 1960, e a atitude era de que o passado devia ser coberto. Foi com dificuldade, pouco a pouco, que aprendemos o que Jesus disse: "a verdade te libertará." Isso é real, é necessário."
Por fim, falamos sobre Amoris Laetitia, o documento de 2016 do Papa Francisco sobre a família que causou controvérsia devido à sua abertura cautelosa para a comunhão aos católicos divorciados e civilmente casados. Salientei a ele que existe um grupo de devotos de Fátima aqui em Dublin orando um rosário todos os dias às 11:00 da manhã em parte para que as "heresias" de Amoris sejam dissipadas.
Perguntei a Schönborn se ele sente que os primeiros debates sobre Amoris acabaram, e agora o foco pode mudar para o resto do documento.
"Isso é o que deveríamos ter feito desde o início", disse ele. "É um documento tão bonito. É complementar ao ensino de João Paulo II sobre o casamento e a família. Veio no momento certo, para este tempo, como um ensinamento muito prático e profundamente espiritual enraizado no casamento e na família.
"Eu acho que as críticas sempre existem", disse ele. "Elas têm que ser olhadas com cuidado, mas não se tornarem o foco."
Apesar dos 73 anos, o cardeal ainda está dentro da lista do possível sucessor de Francisco, dependendo de quanto tempo o atual papado continuar. Muitos observadores diriam que seu perfil ao mesmo tempo amigável à ala conservadora da Igreja e também um grande entusiasta de Francisco poderia posicioná-lo a ser um candidato de consenso.
Seja qual for o seu futuro, no entanto, o presente de Schönborn certamente é muito relevante para Igreja, não apenas da Áustria e da Europa, mas de todo o mundo. Por isso, não importa o que se pense de suas opiniões, ignorá-las é um grave erro analítico.
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Cardeal austríaco sobre a responsabilização por encobrimento: "A verdade te libertará" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU