Por: João Conceição e Marliene Maia | 07 Julho 2018
Os homicídios aumentaram 60,6% nos últimos 20 anos no Brasil. No Rio Grande do Sul o número aumentou em 117,6% nesse mesmo período. O Vale do Sinos, na contramão do Brasil e do estado do Rio Grande do Sul, diminuiu o número de homicídios em 5,1%. A diminuição dos casos na região não foi suficiente para reduzir a participação dos jovens nos homicídios, que aumentaram a partir de 2013. O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, apresenta os dados de 1996 a 2016.
O número de homicídios alcançou 62.517 casos no Brasil no ano de 2016. A quantidade de homicídios aumentou em 60,6%, quando comparado com 1996, que teve 38.929 casos. O maior número de casos aconteceu no Nordeste e no Sudeste, e o menor foi no Centro-Oeste. Dos mais de 62 mil homicídios em 2016, 72,6% dos casos foram com pretos e pardos e 92,4% com homens. Os dados do Atlas da Violência ainda revelam que 50,8% dos homicídios aconteceram com jovens com idade entre 15 e 29 anos.
Em entrevista à Revista IHU On-Line, Marcos Rolim, especialista em Segurança Pública pela Universidade de Oxford, explica os motivos dos homicídios acontecerem mais com jovens negros e pobres: “O modelo de polícia que temos determina a extração social dos que serão presos, porque os crimes de colarinho branco não são cometidos na rua, logo seus autores não serão flagrados. Para se chegar aos bandidos ricos e poderosos, é preciso investigação de alta complexidade. O sistema que temos não seleciona os crimes praticados pelas elites, e essa é a razão pela qual a grande maioria dos policiais nunca irá prender um bandido rico”.
No Rio Grande do Sul, o número de homicídios aumentou em 117,6% entre 1996 (1.482) e 2016 (3.225). O município de Porto Alegre teve 824 casos. Diferente da média do Brasil, em que os homicídios aconteceram na sua maior parte com pretos e pardos, no estado, dos 3.225 homicídios no ano de 2016, 76,5% dos casos foram com não pretos e pardos e 90,4% aconteceram com homens. E 49,9% dos homicídios aconteceram com jovens com idade entre 15 e 29 anos, próximo da média brasileira.
No Vale do Sinos, os casos de homicídios na região dos 14 municípios diminuíram 5,1%, diferente do Brasil e do Rio Grande do Sul, nos quais o número de casos aumentou. O homicídio de jovens entre 15 e 29 anos acompanha a mesma trajetória dos homicídios com as restantes faixas etárias da população do Vale do Sinos. O fato de 50,3% dos homicídios terem ocorrido com jovens em 2016 explica os homicídios dos jovens acompanharem a trajetória na região.
O município de Canoas foi o que mais registrou casos de homicídios com jovens no Vale do Sinos. Já os municípios de Araricá e Ivoti não tiveram nenhum caso de homicídio envolvendo jovens. A taxa de homicídio mais alta da população geral, entre os 14 munícipios, no Vale do Sinos, foi em Nova Hartz, com 98,9%, e a menor foi em Sapucaia do Sul, com 18,8% no ano de 2016.
Acesse aqui o número de homicídios por municípios.
Apesar da diminuição em números absolutos, a participação dos homicídios de jovens tem aumentado a partir de 2013, enquanto os homicídios com as demais faixas etárias da população diminuíram. De 2013 a 2016, o Brasil passou por muitos acontecimentos sociais, políticos e econômicos: as manifestações de Junho de 2013, as eleições de 2014, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o governo de Michel Temer. No meio desses acontecimentos, a economia brasileira passou por uma desaceleração, até que no ano de 2015 ingressou em uma grave crise.
O “Especial do Trabalho Vale do Sinos” sobre geração no mercado de trabalho constatou que entre 2003 e 2016, especialmente a partir 2010, houve redução de jovens no mercado de trabalho de 39,8% para 30,4%. Enquanto houve essa redução com os adolescentes e jovens entre 10 e 29 anos, a participação daqueles que estão na faixa etária acima de 50 anos dobrou. A participação de adultos e idosos acima de 50 anos de idade era de 8,8% em 2003, passando a ser de 17,2% no ano de 2016.
Em setembro de 2017, o ObservaSinos promoveu o Seminário: “Realidades e Políticas Públicas para as Juventudes no Vale do Sinos”
Em entrevista ao ObservaSinos, o professor do Programa de Ciências Sociais da Unisinos, Carlos Gadea, pondera que a crise econômica tem papel central nos casos de homicídios, mas o fator econômico explica pouco o aumento de casos. O professor ressalta que “trata-se mais de uma maior participação de jovens em facções criminosas, na medida que esse aumento dos homicídios está atrelado a confrontos mais diretos entre facções".
Gadea explica que o aumento dos homicídios está relacionado a participação mais comprometida de jovens em facções criminosas. O professor ainda alerta que as facções criminosas passaram a ser “mais fragmentadas e de grupo mais reduzidos, numericamente, onde a mobilidade na ascensão dos espaços mais elevados na hierarquia mudam de maneira mais vertiginosa. Esta mobilidade provoca mais atritos, fidelidades mais mutáveis e menos permanentes", explica.
Essas características acabam gerando todos os problemas dos homicídios, segundo o professor Gadea. Para ele “a crise econômica é um pano de fundo, mas deve se observar mais de perto a mudança da ação das facções atualmente, como algo que explica melhor o fenômeno dos homicídios".
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Juventude é a mais atingida pelos homicídios no período de crises no Vale do Sinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU