19 Mai 2018
Ela acabou de voltar da Feira do Livro de Turim, onde apresentou o seu mais recente livro “Amori comunisti” (Amores comunistas, Nottetempo, 272 páginas, € 16). No final de semana estará em Roveto onde será entrevistada por Giorgio Gizzi. Para falar mesmo que brevemente sobre ela, figura histórica da esquerda italiana, serviria uma página inteira. Portanto, vamos nos restringir a mencionar as inúmeras eleições para a Câmara e o Parlamento Europeu, depois de décadas de militância no Partido Comunista e de suas sucessivas ramificações, e sua atuação como uma dos fundadores do Manifesto. Enquanto a SEL (Sinistra Ecologia Libertà), na última eleição para presidente da República, escolheu-a como candidata. Uma vida à esquerda, portanto, que hoje Luciana Castellina, 88 anos, na esteira dos anteriores "Scoperta del Mondo” (Descoberta do mundo) e "Siberiana" compartilha em outro livro surpreendente, que narra um aspecto pouco conhecido das vidas "não públicas" dos comunistas: o sentimental. Um aspecto que ela conhece bem, tendo se casado com Alfredo Reichlin. São os amores de Nazim Hikmet e Münevver Andaç, Argyro Polikronaki e Nikos Kokulis e Sylvia e Robert Thompson: uma narrativa tecida de memórias reais e encontros pessoais, as histórias de três casais de países muito distintos, como a Turquia, a Grécia e os Estados Unidos. Vidas complicadas e amores incríveis que percorreram a segunda metade do século passado, unidos pelo fato de estarem sendo vigiados e espionados, no período da "guerra fria".
A entrevista é de Paolo Morando, publicada por Trentino, 17-05-18. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por que contar, hoje, histórias de amor de tantos anos atrás? Qual a sua atualidade?
A razão é muito pessoal: são histórias que eu conheci, de maneira casual exercendo o trabalho de jornalista, que me marcaram e que eu sempre quis contar. Mas existe também uma motivação política: eu estava cansada de ouvir falar sobre os comunistas apenas em termos de erros e horrores. Eu quis dizer: vejam que os comunistas, felizmente não todos, também tiveram vidas dramáticas por serem comunistas. E, portanto, também amores dramáticos. Esse estímulo de raiva me levou, finalmente, a contar o que eu sentia dentro de mim há um longo tempo.
Eventos ligados por terem se realizado em um período histórico de contraposição política enorme em relação ao de hoje.
Hoje, na Europa, vivemos mais tranquilos, mas imagino histórias igualmente dramáticas no Oriente Médio ou no Afeganistão. A coisa que mais impressiona é que naquela época existia uma paixão política prevalecente, que dominava a vida. Hoje, este elemento não existe mais. E faz falta, essa paixão para mudar o mundo. A vida, não só nas histórias muito particulares que eu relato, era feita de paixão, empenho, dedicação e sacrifício.
Talvez seja isso mesmo que marca a virada do século: o século XX marcado por paixões que delineavam as identidades, e os dias atuais em que a paixão política não faz parte das nossas vidas. É isso mesmo?
A paixão existe ainda hoje, talvez mais do que se costume pensar ou dizer. Existe uma Itália com grupos de voluntariado e iniciativas locais que propõem novamente um compromisso político e social. O problema é que são grupos fragmentados e muitas vezes com fraca dimensão política, a que prevalece é a da solidariedade. Isso me impressiona. E penso no que o Papa Francisco disse em um discurso de 2016 em um encontro dos movimentos, um discurso inclusive publicado em um livro que foi lançado pelo Manifesto.
Fato que em outras épocas teria parecido bastante singular.
Veja bem, há duas semanas, eu apresentei justamente esse livro, junto com o bispo de Bolonha, no mais importante centro social da cidade, que por sinal estava lotado.
E o que fala o Papa?
Uma coisa muito linda: pessoal, a caridade é muito importante, mas é preciso política.
Vindo dele, podemos acreditar.
E eu também o repito, obviamente sem a sua autoridade. Existem muitos grupos que se ocupam, por exemplo, dos migrantes, mas falta justamente a dimensão política, a inserção em um projeto. Na época, ao contrário, havia essa ideia de que era possível e se devia mudar: eu falo dos comunistas, mas havia muitos outros movimentos comprometidos com esse fim.
Por que do comunismo fala-se hoje só em termos de erros e horrores?
Houve uma demonização deliberada do passado, o século XX é lembrado apenas como uma série de horrores. Claro, existiram: o nazismo, muitas coisas da União Soviética, mas também foi um século de notáveis conquistas, que assustaram de forma incrível a cabeça das pessoas e as libertaram. E colocaria entre elas o Movimento de 1968. Existe uma excelente frase do economista Arrighi: o 1968 foi como o 1948, ambos perderam, mas ambos mudaram o mundo. As revoluções servem, mesmo que não atinjam o que prometeram, porque permitem pensar o impensável. E isso é fundamental. Agora, porém, tenta-se trancar todos na gaiola do presente: quando se fala que o passado foi apenas história de horrores, acaba-se por fazer perder até mesmo a perspectiva de um futuro melhor.
Uma autêntica atitude reacionária.
É exatamente isso.
O que podem ensinar hoje essas histórias de amor?
Principalmente esse aspecto político e moral: estar prontos para se sacrificar por uma ideia. Existe um poema de Hikmet, que cito no livro: quando alguém lhe pergunta o que está disposto a fazer para mudar as coisas na Anatólia, ele responde: "tudo". E ele fez isso. Isso, mesmo sem os aspectos heroicos das histórias que eu conto, foi um traço importante da minha geração. São histórias de amor reveladoras dessa valorosa condição de sacrifício.
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"Naqueles amores comunistas a verdadeira paixão pelos ideais" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU