15 Mai 2018
Primeiro, aderiu à campanha Mendoza Sin Fracking. Em seguida, lançou uma forte crítica à decisão do governo do presidente Mauricio Macri de ir ao Fundo Monetário Internacional, uma alternativa que relembra os piores momentos de crise econômica na história moderna da Argentina. Em menos de uma semana, Jorge Lugones, bispo de Lomas de Zamora e presidente da Pastoral Social do episcopado nacional, interveio em duas situações de alta volatilidade em um contexto turbulento para o país do Papa. E deixou clara a sua posição em favor dos despossuídos.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 13-05-2018. A tradução é de André Langer.
Mendoza, uma província localizada no sopé da Cordilheira dos Andes, é uma região semidesértica. Graças aos colonos italianos e espanhóis que ali chegaram há mais de um século, encontrou uma prolífica vocação agrícola. Seus vinhos são mundialmente famosos. Em 9 de março passado, o governador e aliado do governo Alfredo Cornejo, da União Cívica Radical, assinou um decreto para aprovar o uso da polêmica técnica de fraturamento hidráulico (fracking) na busca profunda de petróleo.
A decisão fez vários povoados se manifestarem. Em General Alvear, por exemplo, aconteceram várias manifestações. Protestos sociais com cada vez mais adesão. Nesse departamento, conhecem bem o precário equilíbrio que garante água para todos os seus empreendimentos agrícolas. A província já tem uma disputa aberta com a vizinha La Pampa pelo uso do Rio Atuel. Agora existe um medo crescente porque essa exploração de petróleo pode provocar danos ambientais irreparáveis, mesmo que o governo provincial se empenhe em desconsiderar qualquer risco.
Com estas premissas, é um gesto de grande valor simbólico a vontade de Lugones receber na própria sede da Conferência Episcopal Argentina, localizada na Rua Suipacha, no centro de Buenos Aires, uma delegação para falar sobre o problema. Ele se reuniu com Juan Pablo Olsson, líder do Movimento Climático 350.org América Latina e COESUS Latino-Americana contra o Fracking, e Lucas Schaerer, da Fundação Alameda. Eles estavam acompanhados por Esteban Servat, químico argentino que viveu durante 10 anos nos Estados Unidos e após trabalhar no Vale do Silício, agora reside em General Alvear, onde montou uma aldeia ecológica. Como fez o Papa em 2015, quando recebeu o próprio Olsson na Casa Santa Marta no Vaticano, Lugones aceitou ser fotografado com um cartaz e a frase: “Mendoza contra o fracking”. Dias antes, eles se reuniram com Fernando Maletti, bispo de Merlo.
Esta reunião foi duplamente significativa depois que, poucos dias antes, o ministro de Energia e Mineração da Argentina, Juan José Aranguren, esteve na mesma sede da CEA para tentar convencer os bispos sobre os benefícios da mega-mineração e da técnica do fraturamento hidráulico. Talvez sem lembrar que Francisco é um dos mais críticos em relação a todos esses empreendimentos.
Os ativistas manifestaram a Lugones seu medo diante da insistência do governo Macri não apenas com o fracking, mas também com a sua vontade publicamente manifestada de modificar a lei nacional de proteção dos glaciares. Informaram-no de que há atualmente mais de 40 projetos de mineração e exploração de petróleo nas proximidades da Cordilheira argentina, aguardando aprovação. Eles também precisaram que perfurar a rocha a mais de 2.500 metros de profundidade em uma zona sísmica é praticamente um suicídio ambiental.
Eles alertam que por trás dessas manobras está a busca desesperada por dólares, em uma frágil situação econômica provocada por uma fuga milionária de capitais, incompetência administrativa e uma inflação que não dá tréguas. Exatamente essa difícil situação econômica levou o governo a anunciar, nesta semana, o pedido de um empréstimo de 30 bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma instituição que lembra os piores pesadelos econômicos e sociais dos argentinos. E o Papa Francisco muito bem recorda.
Lugones foi precisamente a primeira autoridade episcopal a questionar com força a ida da Argentina ao FMI. Ele o fez falando aos microfones da Rádio María de Córdoba. “Nós não vemos isso como uma saída inteligente. Em uma casa, quando os salários não entram e estamos gastando e fazendo as despesas que precisamos fazer, e, além disso, pedimos um empréstimo com juros altos, essa casa não vai prosperar de forma alguma, porque desta forma não podemos avançar”, constatou.
Ele alertou que todos sabem das verdadeiras aspirações do FMI, porque mostrou isso na história da dívida externa argentina. Ele se referiu, em termos duros, ao conceito de “gradualismo”, que o governo usou repetidas vezes para ilustrar a liberalização da economia.
“Quando você ouve o discurso de vários funcionários que estão sempre falando na mídia, eles estão falando sobre a gradualidade, como se nos tivessem roubado o termo. Somos nós que colocamos a gradualidade no aumento das tarifas, a gradualidade na inflação... de gradualidade aqui não há nada. Há um sofrimento drástico do povo, e um aumento das coisas e da inflação drásticos. Então, isso não é da maneira como se apresenta. Este não é um diálogo realmente sincero”, indicou.
E ponderou: “Aqui temos que esclarecer as coisas. Não fazer um discurso político no mau sentido para que se fique tranquilo com o que nos é dito. Nós não ficamos tranquilos com o que nos é dito. Estamos muito, muito tristes e verdadeiramente preocupados, porque estamos acompanhando muitas comunidades que estão sofrendo neste momento esse flagelo da inflação e, além disso, da pobreza”.
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Argentina. Do fracking ao FMI, os bispos manifestam claramente a sua posição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU