05 Março 2018
Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco expressou forte apoio à canonização dos mártir jesuíta Padre Rutilio Grande, disse Manuel Roberto Lopez, embaixador de El Salvador, à Santa Sé.
A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada por Catholic News Service, 02-03-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Quando o embaixador pediu ajuda para "acelerar a beatificação do Arcebispo Oscar Romero" em 2013, segundo Lopez, "o Papa respondeu com entusiasmo: 'Sim, sim, sim. Vamos fazer isso em breve no meu pontificado.' Ele fez uma pausa breve e disse: 'e logo depois vem (o Padre) Rutilio Grande.' "
"Fiquei chocado" que o Papa soubesse da importância do Padre Grande e que já pesasse sobre a causa da canonização do padre morto, disse Lopez ao Catholic News Service no dia 2 de março.
O padre era conhecido por apoiar os pobres e oprimidos num tempo em que El Salvador estava no limite de uma guerra civil, uma guerra que acabou matando mais de 70.000 pessoas.
Acredita-se que sua morte, em 1977, nas mãos de notórios esquadrões da morte de El Salvador, tenha sido a inspiração para o seu amigo Arcebispo Romero - conhecido por ser menos aberto - assumir o manto de defesa dos pobres, assim como fazia o padre Grande.
Lopez disse ao CNS que, embora não tivesse conhecido o padre jesuíta pessoalmente, lembrou-se do choque de ouvir "as notícias de que um sacerdote inocente que estava perto das pessoas e prestes a celebrar a missa foi assassinado".
Agora, quase 41 anos após a morte do padre, o embaixador de El Salvador disse estar horrorizado com o impacto que a vida e a morte do sacerdote mártir têm hoje.
"Como embaixador, fiquei surpreso ao perceber que sua pessoa e seu testemunho são conhecidos e venerados em muitas partes do mundo", revelou.
A embaixada de El Salvador na Santa Sé organizou uma conferência, em 23 de fevereiro, na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, sobre a vida e a morte do padre Grande e o impacto do seu ministério para o povo esquecido do país: os pobres.
O objetivo da conferência, segundo Lopez relatou ao CNS, era que religiosos e religiosas, estudantes e seminaristas "soubessem quem ele era e sobre o que foi seu ministério, para que possam aprender com seu exemplo de estar perto das pessoas, de estar com os necessitados".
O embaixador disse que o Papa Francisco também reconheceu que, assim como o beatificado Oscar Romero, a estrada do Padre Grande rumo à santidade foi interrompido por mal-entendidos e calúnia.
Em uma fala improvisada a um grupo de peregrinos de El Salvador, em outubro de 2015, após a beatificação de Romero, o Papa disse que testemunhou a reputação do Arcebispo Romero ser pisoteada, mesmo depois de sua morte.
"Eu era um jovem sacerdote e testemunhei isso: ele foi difamado, caluniado, teve sua memória manchada e seu martírio continuou, inclusive por seus irmãos no sacerdócio e no episcopado", disse o Papa. "Não é boato; eu ouvi essas coisas."
Lopez disse ao CNS que o Papa também ouviu críticas semelhantes após o martírio do Padre Grande.
"Nessa reunião, o Papa disse muito claramente. Disse que após sua morte, ele continuou sendo martirizado; após sua morte, ele foi martirizado através de boatos, o que, para o Papa, é algo terrível", disse Lopez ao CNS.
O Papa também disse que, quando era sacerdote, ouviu vários bispos acusarem o Padre Grande e Beatificado Romero "de serem responsáveis pela morte de 70.000 pessoas" durante a guerra civil salvadorenha de 1980-1992, lembrou.
Por isso, disse o embaixador de El Salvador, acontecimentos como a recente conferência de Roma são importantes para que todas as pessoas se inspirem no exemplo deixado pela vida do jesuíta assassinado.
"É um chamado, especialmente para os povos latino-americanos, de apoiar e divulgar a vida e o ministério do Padre Rutilio", afirmou Lopez.
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Papa quer que avance o processo de canonização de jesuíta morto em El Salvador, diz embaixador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU