01 Fevereiro 2018
“As sementes da expansão nuclear e as forças reais que moviam os ponteiros do temível relógio não estavam no Kremlin, mas na Casa Branca. Os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos que o dirigem há 70 anos, entre eles 15 prêmios Nobel, acabam de alertar que moveram o ponteiro 30 segundos a mais rumo ao desastre que é separado de nós, neste momento, por escassamente dois minutos”, escreve Luis Manuel Arce, em artigo publicado por America Latina en Movimiento (ALAI), 29-01-2018. A tradução é do Cepat.
O relógio é um mecanismo ancestral concebido pelo homem para poder fazer um uso racional de sua vida e controlar suas ações dentro de uma das dimensões básicas do mundo material: o tempo.
Há relógios muito famosos por seu descomunal tamanho, lugares emblemáticos em sua instalação, mecanismos curiosos para o seu movimento cenográfico ou porque marcaram pontualmente a hora dos fatos históricos e ficaram como relíquias na retina histórica da humanidade.
Mas, há um relógio com o nome metafórico – não tão curioso como o mundial de Berlim, com todos os fusos horários, mas que como este também tem a ver com todo o planeta –, sem as rodas dentadas típicas que fazem mover suas agulhas, livre de corda, carente do tic tac clássico e que seu avanço não é inexorável, pois pode parar o tempo e inclusive fazê-lo retroceder.
Ao contrário daqueles famosos como o Big Ben de Londres, o do Kremlin e o saudita de Makkah Royal, não está instalado em nenhuma grande torre, não é visto por multidões dependentes de seu funcionamento e da exatidão de sua hora.
No entanto, deveria ser o de maior atenção, de maior vigilância, o mais reproduzido em todas as partes do mundo e nos noticiários de televisão. Deveria ser o que abre e fecha as programações.
Suas torres agora inexistentes deveriam ser permanentes e estar nas sedes de eventos internacionais como o recém-finalizado Fórum de Davos, em organismos mundiais massivos como Nações Unidas e todos os seus escritórios, instituições de elite como o Fundo Monetário e o Banco Mundial, e militares como a OTAN, ou comunitárias como a União Europeia e a Unasul.
Deveria ser assim porque esse relógio não é tão metafórico como aparenta, nem tão invisível, apesar de sua característica intangível, e muito menos simbólico, pois é o único em todo o planeta cujas agulhas giram para o que poderia ser o final de nosso universo.
Os cientistas que se encarregam de seu funcionamento, em especial de mover seus ponteiros para o caos ou a ordem, para a paz ou a guerra, para a eternidade ou o desaparecimento absoluto das espécies lhe deram o nome de Relógio do Apocalipse.
Poderia receber outros nomes menos catastróficos, mais auspiciosos, mas não tem como. Ao menos, por agora.
O Relógio do Apocalipse foi criado em 1947, dois anos após o final da Segunda Guerra Mundial, mas já com as cinzas nucleares de Hiroshima e Nagasaki obscurecendo a abóboda celeste militar e política.
Surgiu como uma premonição de uma corrida armamentista descomunal e uma guerra fria eufemisticamente nomeada assim para cobrir com um manto de paz inexistente os denominados conflitos de baixa intensidade que provocaram, desde então, mais mortos, feridos, desaparecidos e deslocados que aquela conflagração.
Desde o seu surgimento, o Relógio Apocalíptico mudou em 19 ocasiões, durante o auge da guerra fria, e dos dois minutos que restavam para a meia-noite, em 1953, passou para o respiro de todos aos 17, em 1991, com a queda da União Soviética e o campo socialista europeu, que eram acusados de todo o mal e podridão de então e que sustentava o slogan norte-americano “a beira da guerra nuclear”.
(A “meia-noite”, para esclarecer sua temporalidade, é nuclear, horrorosamente bélica, dramaticamente terminal. É o fim do tempo para o ser humano e outras espécies da vida terrena).
A história demonstrou que a justificação do lema “a beira da guerra nuclear” era uma falácia mesmo quando, sem uma União Soviética, não existia uma contrapartida nuclear como muro de contenção a uma repetição de Hiroshima e Nagasaki em qualquer outro lugar do mundo.
As sementes da expansão nuclear e as forças reais que moviam os ponteiros do temível relógio não estavam no Kremlin, mas na Casa Branca. Os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos que o dirigem há 70 anos, entre eles 15 prêmios Nobel, acabam de alertar que moveram o ponteiro 30 segundos a mais rumo ao desastre que é separado de nós, neste momento, por escassamente dois minutos.
As razões para o adiantamento se concentram em uma só pessoa: Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, corroboraram eles.
Segundo os cientistas, as declarações do presidente Donald Trump sobre as armas nucleares e o “obscurecimento do estado da segurança global” tornaram o mundo mais incerto.
Rachel Bronson, presidente do Boletim, expressou: “É com grande preocupação que estabelecemos a hora no Relógio do Apocalipse de 2018 e fazemos um chamado para que seja possível atrasá-lo. A partir de hoje, estamos a dois minutos da meia-noite”.
“O Boletim nunca antes havia decidido adiantar o relógio pelas declarações de uma só pessoa, mas quando essa pessoa é o novo presidente dos Estados Unidos, suas palavras importam”, disseram os cientistas Lawrence Krauss e David Titley.
Krauss resumiu: O perigo da conflagração nuclear não é a única razão pela qual o relógio foi adiantado. Este perigo se concentra em um momento no qual se perdeu a confiança nas instituições políticas, nos meios de comunicação, na ciência e nos próprios fatos, o que exacerba a dificuldade de lidar com os problemas reais que o mundo enfrenta e que ameaçam minar a capacidade dos governos de os enfrentar de maneira eficaz.
Dadas as advertências dos numerosos cientistas do mundo que convergem no Boletim, as alternativas se reduzem a impedir que Trump continue sendo a roda do Relógio Apocalíptico que força seus ponteiros para a trágica meia-noite.
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Com Trump, o mundo mais próximo da meia-noite nuclear - Instituto Humanitas Unisinos - IHU