24 Janeiro 2018
Há quem esperasse que Jorge Mario Bergoglio nunca tivesse sido eleito. E hoje, especialmente entre as hierarquias da Igreja Católica, há quem espere que o pontificado de Francisco seja arquivado em breve.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 22-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como se sabe, ainda no conclave de 2005, o arcebispo de Buenos Aires foi um candidato muito forte para a sucessão de São João Paulo II. Mas, no fim, para Joseph Ratzinger foi muito simples, em apenas quatro votações, vestir a batina branco que, por nada menos do que 27 anos, foi do seu amigo Karol Wojtyla.
Oito anos depois, no conclave de 2013, o confronto foi entre o então arcebispo de Milão, o cardeal Angelo Scola, e Bergoglio, que já havia superado amplamente o limiar dos 75 anos, a idade canônica da renúncia. Renúncia, porém, que Bento XVI não aceitara e que, talvez, foi determinante para a eleição ao pontificado.
Uma eleição já na época indigesta para diversos purpurados eleitores naquele conclave, como revelou um dos homens mais próximos de Francisco, o cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, no livro do vaticanista do canal Mediaset Fabio Marchese Ragona, intitulado Tutti gli uomini di Francesco [Todos os homens de Francisco] (Ed. San Paolo).
(Foto: Divulgação)
O purpurado salesiano, arcebispo de Tegucigalpa, em Honduras, e coordenador do C9, o conselho dos cardeais que ajudam Bergoglio na reforma da Igreja, não usa meias palavras, como, aliás, é o seu estilo, para rotular Urbi et Orbi as corjas que, no conclave, tentaram abortar o pontificado de Francisco.
“Quando começou a se delinear a figura do arcebispo de Buenos Aires como possível novo pontífice – escreve Maradiaga –, as famosas corjas clericais, das quais Francisco fala tanto hoje, começaram a se mover para impedir o desígnio de Deus que estava prestes a se realizar. Alguns, que defendiam outros cardeais papáveis, até fizeram circular o boato em Santa Marta que Bergoglio estava doente, que não tinha um pulmão. Foi nesse ponto que tomei coragem, falei com outros cardeais e disse: ‘Tudo bem, eu vou perguntar ao arcebispo de Buenos Aires se as coisas são realmente assim, se ele realmente está doente’.
“Então – continua o purpurado –, fui encontrá-lo: pedi desculpas pela pergunta que estava prestes a fazer, mas o cardeal Bergoglio, muito surpreso com a questão, me confirmou que, além de um pouco de ciática e de uma pequena operação no pulmão esquerdo para a remoção de um cisto quando era jovem, ele não tinha graves problemas de saúde.”
No texto de Marchese Ragona, que contém entrevistas com inúmeros cardeais eleitores nomeados por Francisco, também há as respostas a diversas questões que giram em torno das nomeações do papa.
“Os purpurados – escreve o autor – também revelam os motivos por trás de muitas escolhas de Bergoglio, até agora inéditas: por que, por exemplo, o papa nunca comunica antecipadamente a lista dos novos cardeais? Por que muitas dioceses, historicamente cardinalícias, com Francisco não têm mais a púrpura? Essas e outras dúvidas são resolvidas hoje pela viva voz dos envolvidos diretamente.”
Nas páginas do livro, não faltam reflexões importantes também sobre a delicada questão da pedofilia do clero. Palavras que chegam justamente enquanto o homem escolhido pelo papa para implementar a linha de tolerância zero sobre os abusos sexuais de menores por parte de alguns sacerdotes, o cardeal Sean Patrick O’Malley, atacou Francisco pelas suas afirmações sobre o bispo de Osorno, Juan Barros, acusado de ter encoberto o padre pedófilo Fernando Karadima.
“Escutamos claramente – afirma o cardeal Ricardo Ezzati Andrello, arcebispo de Santiago do Chile – a voz de condenação por parte do Papa Francisco e o seu urgente apelo a um decidido compromisso na luta contra todos os abusos. A Igreja chilena, ferida por esse flagelo, segue há anos um protocolo severo sobre o tema e formou milhares de agentes de pastoral sobre prevenção e pedagogia, para a criação de espaços seguros nas comunidades paroquiais, nas escolas e nos movimentos.”
O livro de Marchese Ragona também é muito rico em episódios muito divertidos sobre a vida privada dos colaboradores mais próximos de Francisco. Em primeiro lugar, certamente está o caso contado pelo secretário de Estado vaticano, o cardeal Pietro Parolin.
“Alguns meses depois de entrar no seminário, eu escrevi no boletim Chiesa Viva que eu esperava que se rezasse mais, obviamente deixando agitado o bispo Dom Zinato, que me convocou por meio do reitor, Dom Sartori, depois bispo de Adria-Rovigo e arcebispo de Trento. Tudo ficou esclarecido no mesmo momento... Mas reconheço que eu era um jovem um pouco idealista, escrupuloso e zeloso demais – o que, na minha idade, eu ainda espero ser, mas sem o ‘demais’!”
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Os bastidores do pontificado de Francisco, entre nomeações, vida privada e falsas doenças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU