20 Novembro 2017
Na mesma afluente cidade suburbana em que o Google construiu sua sede, Tes Saldana vive em um pequeno trailer, que estaciona na rua.
Ela admite que "não é uma situação de moradia muito agradável", mas tampouco se pode dizer que é incomum.
A informação é publicada por Folha de S. Paulo, 19-11-2017.
Até que as autoridades ordenassem que eles fossem movidos, outros trailers que serviam de moradia a pessoas que não conseguem pagar aluguel ficavam estacionados na mesma rua em que Saldana parava seu veículo.
Os defensores dos moradores de rua e as autoridades municipais dizem que é absurdo que, à sombra do boom na economia tecnológica –com jovens milionários que não veem nada de estranho em pagar US$ 15 por um avocado grelhado na madeira ou US$ 1.000 por um iPhone X–, milhares de famílias não consigam arcar com uma casa.
Muitos dos moradores de rua têm empregos regulares, em muitos casos servindo às pessoas cujos patrimônios astronômicos são o motivo para que o preço da habitação tenha se tornado inacessível para tanta gente.
Saldana e seus três filhos adultos, que vivem com ela, procuraram por acomodações menos rústicas, mas o valor dos aluguéis é de US$ 3.000 ou mais por mês, e a maioria das casas disponíveis fica bem longe. Ela diz que faz mais sentido continuar morando no trailer, perto de onde trabalham, e tentar economizar para um futuro melhor, mesmo que as recentes medidas repressivas da cidade a tenham feito perder sua vaga de estacionamento.
Tudo isso é parte de uma crise crescente na Costa Oeste dos EUA, onde muitas cidades viram uma disparada no número de pessoas que vivem nas ruas, nos dois últimos anos. Contagens realizadas em 2017 demonstram que existem 168 mil moradores de rua nos Estados da Califórnia, do Oregon e de Washington -20 mil a mais do que na contagem precedente, realizada dois anos atrás.
O boom econômico, alimentado pelo setor de tecnologia, e décadas de construção insuficiente causaram uma escassez histórica de habitações de preço acessível.
Isso inverteu a visão tradicional dos moradores de rua como desempregados. Entre eles há vendedores, encanadores, faxineiros – até mesmo professores –, que trabalham, dormem onde podem e são sócios de academias de ginástica para tomarem banho.
Não existe estimativa firme sobre o número de pessoas que vivem em veículos no Vale do Silício, mas o problema é onipresente e aparente a todos que veem trailers estacionados nas ruas da cidade.
Ellen Tara James-Penney, 54, professora-assistente na Universidade Estadual de San Jose, estaciona seu velho Volvo em uma igreja que serve de refúgio aos moradores de rua e come em seu refeitório.
Ela corrige os trabalhos escolares de seus alunos no carro. De noite, reclina o assento do motorista e se prepara para dormir, com um de seus cachorros, Hank, ao seu lado. O marido dela, Jim, alto demais para dormir no carro, se deita do lado de fora em uma barraca, com o outro cachorro do casal, Buddy.
Em resposta à crescente desigualdade de renda, sindicatos e organizações de defesa dos direitos civis criaram a Sillicon Valley Rising, há três anos. O grupo exige melhores salários para as pessoas de baixa renda que fazem com que a região funcione.
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Carro vira moradia para trabalhadores do Vale do Silício - Instituto Humanitas Unisinos - IHU