13 Outubro 2017
O ex-secretário-geral da Conferência Episcopal Polonesa denuncia o apoio de uma parte dos bispos à orientação racista do governo de Varsóvia: "O rosário não é uma arma ideológica".
A entrevista é de Alberto Bobbio, publicada por Famiglia Cristiana, 11-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Os bispos poloneses se colocaram em um caminho perigoso". O juízo sobre o "Rosário nas fronteiras" de monsenhor Tadeusz Pieronek, bispo e secretário histórico da Conferência Episcopal Polonesa na década de 1990 e membro da Comissão que escreveu a Constituição pós-comunista, é bastante severo. A manifestação da qual participou mais de metade da diocese polonesa também foi apoiada pela cúpula da Conferência episcopal. Monsenhor Pieronek é uma espécie de consciência crítica da Igreja polonesa e explica: "O Rosário é uma bela oração, mas os bispos não previram nem entenderam a tempo que poderia ser usado como uma arma ideológica pela propaganda do governo".
Eles foram manipulados?
Hoje, na Polônia, tudo é transformado em política pelo governo e pelos meios de comunicação que são quase todos praticamente controlados pelo governo, que é contrário ao acolhimento de refugiados e imigrantes. Não perceber isso por parte da Igreja foi, no mínimo, uma ingenuidade muito grave.
Quantas dioceses participaram da iniciativa?
Vinte e duas das 42 dioceses. Mas a manifestação teve o apoio da cúpula da Conferência episcopal. Houve uma grande mobilização, o apoio da Rádio Maria e da emissora de TV pública polonesa.
Com esta oração, ergueu-se um muro, pelo menos, espiritual, contra os imigrantes e o resto da Europa?
É exatamente o que aconteceu, embora não tenha sido usada essa expressão. Mas é claro que todos os poloneses que participaram do Rosário são contra o pensamento e o ensinamento do Papa Francisco. Infelizmente. Na Polônia está sendo realizada uma batalha para convencer as pessoas que cada refugiado é um bandido que ataca a identidade polonesa e é uma grave e real ameaça para a saúde e a vida dos poloneses.
O Governo polonês é crítico em relação ao Papa?
Eu posso dizer que um ministro polonês disse explicitamente que, nesse caso específico, o Papa está equivocado.
E o que faz a Igreja?
Apoia o Governo. As vozes críticas são poucas.
Por quê?
Os bispos consideram que com este Governo, que se declara fiel à Igreja, é possível converter mais facilmente as pessoas. Mas, infelizmente, isso não é verdade.
Toda a Polônia concorda com as políticas do Governo?
Não. O Governo pode contar com 40 por cento do consenso do povo polonês. Não é correto dizer que toda a Polônia está de acordo com o Governo.
No entanto, é o que parece.
Na Polônia existem manifestações diárias contra as decisões do governo e as leis que está aprovando o Parlamento.
A última é a reforma do ensino e dos textos escolares dos quais, além de Darwin, também foi suprimido Lech Walesa e a experiência do Solidarnosc.
A reforma da escola é uma coisa trágica que nos leva de volta aos tempos do regime comunista. Lembro-me daqueles anos, quando os comunistas mudaram a leitura da história. Hoje, o partido que governa a Polônia, o Pis (Lei e Justiça), está se comportando da mesma forma, apagando a história recente da Polônia.
É também uma traição do ensinamento a respeito da Europa do grande Papa polonês São João Paulo II?
Sinto horror só em pensar nisso. Veremos. Por enquanto eu me pergunto com preocupação até onde o governo ousará ir. Em palavras, o governo diz que quer permanecer na Europa. Na realidade, faz de tudo para sair dela.
A que se referem às suas preocupações?
À democracia. Todos os dias vemos que o governo aplica-se para desmontar um pedaço da democracia. Tudo é organizado para combater e superar no final a democracia liberal, para atingir um tipo de democracia populista. O rumo que o governo escolheu está levando a Polônia de volta aos tempos do regime comunista.
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"A Igreja polonesa segue um caminho perigoso", afirma monsenhor Pieronek - Instituto Humanitas Unisinos - IHU