09 Outubro 2017
São três os candidatos a Papa sobre os quais se sussurra dentro e fora do Vaticano. Um é asiático, o outro é africano e o terceiro europeu e, mais concretamente, italiano. O terceiro é o único que tem uma mínima possibilidade de ser eleito num futuro e hipotético conclave.
O comentário é de Sandro Magister, publicada no blog Settimo Cielo, 08-10-2017. A tradução é de IHU On-Line.
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O asiático é o arcebispo de Manila, Luis Antonio Gokim Tagle, filipino de mãe chinesa e com estudos nos EUA. Para os defensores do Papa Francisco é o candidato ideal para recolher o seu legado.
Em 2015 Jorge Mario Bergoglio o nomeou como presidente de Caritas Internationalis, depois de ele ter presidido o sínodo dos bispos sobre a família. E em abril de 2016, quando foi publicada a exortação Amoris laetitia, onde o Papa abria caminho para a comunhão dos divorciados que novamente se casaram, Tagle, foi o primeiro de todos os bispos do mundo em dar a interpretação mais extensiva.
Aos que objetam que o magistério líquido do Papa Francisco faz com que se tenha mais dúvidas do que certezas, a resposta é que “é bom que se esteja confuso de vez em quando, porque quando as coisas estão sempre claras já não seria a vida real”.
No que diz respeito à Igreja nos tempos presentes, suas ideias são muito claras: com o Concílio Vaticano II a Igreja rompeu com o passado e marcou um novo início. É a tese historiográfica da chamada “escola de Bolonha”, fundada por Giuseppe Dossetti e hoje dirigida por Alberto Melloni e da qual Tagle participa. De fato, é dele um dos capítulos chave da história do Concílio mais lida no mundo, o capítulo sobre a ‘semana negra’ do outono de 1964. Interpretação que está nas antípodas da leitura de Bento XVI que, magnânimo, o nomeou cardeal.
No entanto, é excluído que ele seja eleito Papa. Ele é demasiadamente parecido com Bergoglio para não acabar derrotado pelas múltiplas reações ao atual pontificado que, indubitavelmente, sairiam à luz num futuro conclave. Além disso, há o obstáculo da idade. Tagle tem 60 anos e, portanto, poderia reinar muito tempo, demasiado para que seja eleito.
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O africano é o cardeal Robert Sarah, 72 anos, da Guiné. Indômito testemunho da fé, sob o sangrento regime marxista de Sekou Touré, não foi morto somente porque o tirano morreu repentinamente em 1984. Cresceu na savana, recebeu excelentes estudos na França e em Jerusalém. Nomeado bispo, por Paulo VI, com somente 33 anos de idade, João Paulo II o chamou para Roma onde foi mantido por Bento XVI, com quem a sintonia era e é total.
São dois livros escrito por ele, e traduzidos em vários idiomas, que fizeram Sarah conhecido em todo o mundo: “Deus ou nada”, em 2015 e “A força do silêncio”, neste ano. Há um abismo entre sua visão da missão da Igreja e a do Papa jesuíta, tanto nos conteúdos como no estilo. Para Sarah, como para Joseph Ratzinger, a prioridade absoluta é levar a Deus o coração da civilização, sobretudo ali onde sua presença foi obscurecida.
Ele é, portanto, o candidato ideal dos opositores do Papa Francisco em nome da grande tradição da Igreja. Mas num colégio cardinalício onde a metade das nomeações são bergoglianas, é impensável que obtenha os dois terços dos votos necessários para a eleição.
Contudo, permanece o fato de que Sarah é, na história da Igreja, a primeira verdadeira candidatura, ainda que simbólica, de um Papa da África negra.
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Não simbólica mas realíssima é, ao contrário, a terceira candidatura, a de Pietro Parolin, o cardeal secretário de Estado.
É preciso voltar ao conclave de 1963 para ver que foi eleito, com Paulo VI, um eclesiástico crescido não coração da cúria vaticana e com reconhecida capacidade de governo, depois de um pontificado, como foi o de João XXIII, que pusera em marcha um concílio que estava em plena tempestade e que não tinha produzido ainda nenhum documento. Paulo VI conseguiu fazê-lo ainda que acabou, sem merecê-lo, no livro negro de que é acusado de trair as revoluções.
Hoje a tarefa que um número cada vez maior de cardeais confiaria a Parolin é governar a nave da Igreja na tormenta desencadeada pelo Papa Francisco, corrigindo suas derivas sem trair o seu espírito.
Como secretario de Estado tem demonstrado ter as qualidades, também no que diz respeito aos complexos dossiês como da China ou Venezuela, pois sabe conter as impaciências e as concessões que Bergoglio ama fazer por sua conta.
Além disso, Parolin tem um perfil de pastor, com uma sólida formação teológica, que é raro encontrar num diplomático de grande valor. Sua recente viagem a Moscou é uma prova claríssima disto, pois os colóquios no mais alto nível político foram alternados com encontros religiosos com os chefes da Igreja ortodoxa russa, precisamente como sucede numa viagem pontifícia bem organizada.
Mas que isto seja uma antecipação do futuro é uma pura hipótese enquanto reina Francisco.
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Parolin em pole position num hipotético futuro conclave - Instituto Humanitas Unisinos - IHU