05 Outubro 2017
Há cem anos Violeta del Carmo Parra Sandoval nascia em San Carlos. "Foi a primeira artista – pintora, escultora, bordadeira e ceramista – latino-americana convidada a expor no Museu do Louvre na França. Além disso, Violeta Parra era uma engajada ativista social e política tendo pertencido aos quadros do Partido Comunista Chileno" escreve Paulo Mancini, em artigo publicado por Ambienta Central, 04-10-2017.
Violeta Parra (http://cdn.letras.com.br/arquivos/fotos/artistas/main/160/15987,98747.jpg)
“solo amor com su ciência nos vuelve tan inocentes”, Violeta Parra em “Volver a los 17”
No próximo dia 04 de outubro de 2017, completam-se exatos cem anos quando no pequeno povoado de San Fabian, á época distrito da cidade de San Carlos, no centro-sul do Chile, brotava Violeta del Carmo Parra Sandoval, cantora, compositora e artista plástica, que ficou mundialmente conhecida pela canção “Gracias a la Vida”, gravada, principalmente nas décadas de 70 e 80 do século passado, por artistas de todas as partes do planeta, e, entre nós pela que talvez seja até hoje umas das maiores intérpretes da história da música brasileira: Elis Regina.
Violeta nasceu no mesmo dia, 04 de outubro, em que se celebra o dia de Francisco de Assis, morto em 04 de outubro de 1226, há 791 anos, considerado pela ONU a pessoa mais importante do milênio que se encerrou no ano 2000. O “Cântico das Criaturas” poema-oração onde Francisco de Assis canta “Louvado Sejas, Meu Senhor” por todas as ‘criaturas’ por Ele criada, o sol, a lua, o vento, o fogo, a terra e, até mesmo, a doença e a morte corporal, tem em “Gracias a la Vida” um equivalente contemporâneo que mesmo não sendo uma oração religiosa, tem enorme força espiritual.
Sua obra que, como ela, brota da terra, da sua terra ‘mapuche’ tem a força da terra fértil, da simplicidade e da verdade que se ergue e se agiganta para ser ouvida no mundo todo; e não se dobra ao poder político, econômico, mas sim ao poder do amor.
“…Y no tomo la guitarra por conseguir um aplauso,
Yo canto la diferencia que a de lo certo a lo falso
Do contrário, yo no canto…”
Com esse ‘encanto’ Violeta nos fez – como tantos ‘otros y otras’ – sentir latino-americanos. Nós brasileiros que, de frente para o Atlântico (e sempre com os olhos ‘norteados’..), sempre demos as costas para ‘los hermanos’. A grandeza de Violeta, do estreito e pequeno Chile, me fez sentir quão pequeno pode ser o grande e largo Brasil. E como que a grandeza de um povo não se mede pelas dimensões de seu território, demografia ou riquezas naturais. Não que falte ao Chile território – é estreito, mas é longo -, gente (é uma grande São Paulo, 18 milhões de habitantes) ou riquezas naturais (cobre, vinho, ilhas, um enorme Pacífico).
Filha do segundo casamento de seu pai – Nicanor Parra – Violeta del Carmen Parra Sandoval teve uma infância muito pobre no interior do Chile com seus nove irmãos e irmãs. Nasceu em San Carlos, província de Nuble, na região do Biobio no sul do Chile. Essa cidade no Chile, homônima de nossa São Carlos, no estado de São Paulo, Brasil, tem como padroeiro o mesmo São Carlos Borromeu, destacada autoridade eclesiástica italiana do período da Contra Reforma no século XVI, que também homenageou, buscando favores, com essa denominação dada na sua fundação no ano de 1800, do então Imperador Carlos V, da Espanha, de quem o Chile era colônia.
Foi do pai, que tocava violão e cantava, que ela e muitos de seus irmãos herdaram a veia artística, que tanto o pai, e principalmente a mãe costureira, Clarissa Sandoval Parra, tentaram evitar, pelo ‘mau exemplo’ do pai, que chegou, em alguns momentos a abandonar a família. Desde pequena, antes mesmo de conseguir abraçar um violão, Violeta pegava escondida o instrumento do pai para tocar. Com a morte do pai, com apenas 13 anos, Violeta passa, com os irmãos, a apresentar-se em festas, circos, praças para sobreviver.
Violeta Parra interessou-se pelo que hoje e aqui no Brasil chamamos música de raiz. À época música folclórica. Nos anos 50 faz um trabalho, semelhante aos de Mário de Andrade e Inezita Barroso no Brasil, de pesquisa, resgate, inventário e difusão das canções folclóricas indígenas e campesinas do Chile, tendo até mesmo tentado criar o uma universidade do folclore chileno em meados dos anos 60, pouco antes de sua trágica morte. Com a diferença em relação aos brasileiros citados, de que Violeta era também compositora e uma grande artista plástica. Foi a primeira artista – pintora, escultora, bordadeira e ceramista – latino-americana convidada a expor no Museu do Louvre na França. Além disso, Violeta Parra era uma engajada ativista social e política tendo pertencido aos quadros do Partido Comunista Chileno.
“Prisionero Inocente” – Violeta Parra (1964), in Portal Vermelho
A cidade de São Carlos, no interior do Estado de São Paulo por iniciativa de admiradores da obra de Violeta Parra, com o apoio do vereador e músico Robertinho Mori Roda, deve anunciar neste 04 de outubro de 2017, centenário do nascimento de Violeta Parra, em San Carlos, no Chile; a disposição da Câmara Municipal de São Carlos e do Conselho Municipal de San Carlos no Chile, em firmarem acordo de Cidades-Irmãs.
O acordo de Cidades Irmãs de São Carlos, Br e San Carlos, Cl, visa estreitar laços culturais, científicos e até econômicos ente as comunidades de brasileiros e chilenos, tão necessários para o fortalecimento e enriquecimento das relações entre os latino-americanos ainda expostos a brutal influência cultural e econômica norte-americana e europeia.
No próximo dia 03 de novembro, sexta-feira, o SESC São Carlos, realizará espetáculo musical onde interpretes e músicos de São Carlos prestarão um tributo à Violeta apresentando uma seleção de canções de Violeta Parra com arranjos feitos pelo músico Murilo Barbosa.
Serão interpretes do repertório selecionado da compositora chilena Violeta Parra, os talentosos cantores radicados em São Carlos: André de Souza, Mi Marchetti, Jessica May e Kelly Agnes. O espetáculo também contará com a participação do jovem poeta Juan Toro Castilho, nascido em São Carlos, mas criado em San Carlos, no Chile, lendo algumas letras de Violeta Parra. Em sua dissertação de mestrado pelo Departamento de Letras da UFSCar, Juan Castilho, tratou da obra de Nicanor Parra, irmão de Violeta Parra, ainda vivo, hoje com 103 anos, matemático, físico e escritor (poeta) conhecido pela ‘antipoesia’, já consagrado com as maiores premiações da língua espanhola como o Prêmio Miguel de Cervantes recebido em 2011.
As duas canções no Brasil mais conhecidas de Violeta Parra, que pela voz de Elis Regina e Mercedes Sosa, conquistaram ‘corações e mentes’ brasileiras são “Gracias a la Vida” e “Volver a los 17”. Mas, para finalizar e demonstrar a força e atualidade de Violeta Parra, especialmente neste momento porque passa o Brasil, compartilho a canção “Miren como sonrien los presidentes” abaixo.
Miren como sonríen los presidentes cuando le hacen promesas al inocente,
miren como le ofrecen al sindicato este mundo y el otro los candidatos,
miren como redoblan los juramentos, pero después del voto, doble tormento.
Miren el hervidero de vigilantes para rociarle flores al estudiante,
miren como relumbran carabineros para ofrecerle premios a los obreros;
miren como se visten cabo y sargento para teñir de rojo los pavimentos,
miren como profanan la sacristía con pieles y sombreros de hipocresía.
Miren como blanquearon mes de María y al pobre negaron la luz del día;
miren como le muestran una escopeta para quitarle al pobre su marraqueta,
miren como se empolvan los funcionarios para contar las hojas del calendario.
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Centenário de Violeta Parra – Gracias, Violeta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU