28 Agosto 2017
Tempos de paz deveriam simbolizar diminuição da violência e das mortes. A Colômbia, contudo, vive um paradoxo do fim da guerra contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Farc, mas com o aumento de vítimas camponesas. Desde o acordo entre o governo de Juan Manuel Santos e os líderes das Farc, em dezembro passado, o número de assassinatos no campo disparou.
Apenas nos seis primeiros meses de 2017, 51 líderes sociais foram mortos. No ano anterior, foram registrados 35 no mesmo período (o que representa um crescimento de 31%). Os dados do movimento político e social Marcha Patriótica colocam o país em segundo lugar no ranking de conflitos agrários. No topo da lista está o Brasil.
Um relatório feito pela ONG internacional Global Witness utiliza dados levantados pela Comissão Pastoral da Terra - CPT e destaca que, em 2016, foram 49 assassinatos de defensores do direito à terra no Brasil. Em terceiro lugar estão as Filipinas, com 28 mortes. Em entrevista à Radioagência Nacional EBC, a procuradora Deborah Duprat, do Ministério Público Federal brasileiro, credita o aumento das mortes ao crescimento da utilização de empresas de segurança privada nas fazendas.
“Teria que haver uma grande operação de fiscalização dessas empresas, e desarmamento do campo. Não é possível conviver com uma situação em que você cria uma segurança paralela à do estado, agindo quase sem fiscalização", afirma.
Em todo o mundo, a onda de violência é impulsionada por uma intensa luta pela terra e recursos naturais. No Brasil, questões ambientais, extração de madeira e mineração ilegal são motivos mais comuns. As vítimas são principalmente pequenos agricultores e indígenas, mas também agricultores, guardas de segurança e pistoleiros.
Recentemente, a notícia sobre a extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados - Renca nos estados do Pará e Amapá, na Amazônia, para ampliar extração mineral, serve de sinalizador para uma futura reconfiguração nas estruturas ambientais e sociais da região. O local é historicamente marcado por conflitos em torno da terra e já foi palco da perseguição de líderes como Chico Mendes e Dorothy Stang.
Já na Colômbia, o estudo realizado pelo programa Somos Defensores aponta os paramilitares como responsáveis por 59% dos casos de violência. O levantamento indicou as regiões onde os crimes são mais frequentes - Bogotá, Antioquia, Cauca e Valle del Cauca.
#ATENCION || Asesinan a líder social en chocó, Manuel Ramírez Mosquera reclamante de tierras, hoy 17 de agosto. #PazSonGarantias pic.twitter.com/dhR6g5LMjg
— NC Noticias (@NCprensa) August 18, 2017
Da região de paz onde se localizam as Farc, foi emitido um comunicado questionando as ações do Estado. "O que as autoridades estão fazendo para cumprir os compromissos assumidos, no sentido de combater os grupos paramilitares a serviço das máfias que são uma ameaça real para os cidadãos, os guerrilheiros e os militantes liberados, que não contam com proteção alguma; não considerando que a proteção dos cidadãos e ex-prisioneiros é uma condição para assegurar uma paz estável e duradoura no que diz respeito à proteção da nossa transição a um partido político civil?".
Em Tumaco, nas últimas semanas, estouraram protestos de camponeses de coca em vias públicas, alegando que, embora tenham assinado um acordo resultante dos Diálogos de Havana para substituir voluntariamente a folha da coca, o Exército esteja compelindo-os a fazê-lo. Os abusos da polícia ficaram evidentes em vídeos que circulam na web em que os agentes aparecem disparando contra a população civil e campesinos em vários lugares.
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Sobe em 31% número de assassinatos de líderes sociais na Colômbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU