Por: Lara Ely | 23 Agosto 2017
O desaparecimento de um jovem manifestante aliado à causa indígena, há cerca de um mês, tensionou a política na Argentina, estremecendo as relações políticas às vésperas da renovação do Congresso, em outubro. Santiago Maldonado, 28 anos, sumiu ao tentar escapar de policiais que reprimiam um protesto mapuche, em Esquel, na Patagônia. Artesão e tatuador, ele defende causas ambientalistas, entre elas a devolução das terras indígenas.
Acusado de agir com brutalidade, e com isso ser responsável "por mais um desaparecido" no país, em alusão à ditadura militar argentina (1976-1983), o governo de Maurício Macri investiga o paradeiro de Maldonado. E tem pressa para desmanchar o mal-estar – tanto que ofereceu uma recompensa de US$ 27 mil (R$ 85 mil) para quem ajudar a localizar o desaparecido.
Maldonado foi visto pela última vez em 1º de agosto, em protestos junto ao grupo Resistencia Ancestral Mapuche (RAM), da comunidade Resistência Cushamen, província de Chubut. Os ativistas de esquerda e ligados à ex-presidente e candidata Cristina Kirchner acusam as forças de segurança do governo (Gendarmeria Nacional Argentina) de terem sidos brutais na contenção dos protestos. Na ocasião, a Anistia Internacional – AI chegou a se manifestar, dizendo que considerava fora de proporção o envio de 200 policiais.
Há cerca de 15 dias, uma multidão lotou as ruas no quarteirão da Plaza de Mayo para exigir a aparição do jovem com vida. Com cartazes trazendo sua imagem, ativistas dos Direitos Humanos, militantes kirchneristas e integrantes do movimento Mães e Avós da Praça de Maio participaram da manifestação. Essas últimas leram um documento pressionando os administradores da Casa Rosada a dar explicações.
A luta do povo indígena pelo direito às terras onde a companhia multinacional Benneton cria ovelhas teve seus primeiros capítulos violentos em janeiro deste ano. Na ocasião, a infantaria da Força Nacional usou balas de borracha e feriu gravemente dois membros da comunidade. Nos meses de junho e julho, novas situações envolvendo a prisão do líder mapuche Facundo Jones Huala mobilizaram marchas que foram reprimidas com violência pelas forças do exército.
Apesar de a situação pressionar de forma negativa o governo de Macri junto à crise econômica em que o país está envolvido, o atual presidente, que disputa a reeleição, segue no topo da preferência dos eleitores.
Ex-prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do clube Boca Juniors, o empresário de 56 anos que preside a Argentina desde dezembro de 2015 lidera uma frente de centro-direita opositora de Cristina Kirchner.
Há cerca de dez dias, ele obteve vitória nas Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias – Paso. Com o objetivo de definir a lista dos concorrentes dos partidos e coligações, as eleições primárias tiraram a temperatura para o pleito oficial, que ocorre em 22 de outubro. Como grande parte das frentes eleitorais apresentou lista única, a consulta acaba sendo também uma prévia das eleições gerais, que irão renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.
No Brasil, o tema do direito à terra indígena veio à tona na imprensa semana passada, quando o Supremo Tribunal Federal – STF julgou uma ação relativa à demarcação de terras em Mato Grosso, no Parque Nacional do Xingu e as reservas Nambikwára e Parecis. Por unanimidade, os ministros do STF negaram pedidos do governo estadual para obter indenização da União pela desapropriação de terras para demarcação de territórios indígenas.
Havia entre indígenas e ONGs a expectativa de que, no julgamento, o Supremo discutisse a adoção do critério conhecido como “marco temporal” para as demarcações, porém o assunto não entrou na pauta.
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Argentina. Onde está Santiago Maldonado? Eleições de outubro ocorrem em meio à tensão política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU