A polícia do estado australiano de Victoria está agora considerando a possibilidade de indiciar o cardeal George Pell - ex-arcebispo de Melbourne e Sydney e agora prefeito da Secretaria para a Economia do Vaticano - por acusações de abusos sexuais contra menores que remontam ao final dos anos 1970, quando ainda era sacerdote.
A informação é publicada por Il Secolo XIX, 17-05-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
A polícia confirma, em um comunicado do último dia 16, que recebeu uma notificação do Gabinete do Ministério Público referente às investigações sobre alegações de agressão sexual, objeto de uma prova documental apresentada pela própria policia.
O comunicado acrescenta que os investigadores levarão em consideração essa notificação, antes de formular acusações. O documento inclui as declarações de dois homens com mais de 40 anos de Ballarat, cidade natal de Pell, que o acusam de terem sido tocados de maneira imprópria enquanto brincava de jogá-los na água na piscina pública local.
Tais acusações haviam se tornado públicas em julho passado em uma reportagem do canal de TV nacional Abc conduzida pela jornalista investigativa Luoise Milligan, que divulga maiores detalhes no livro recentemente publicado The Cardinal: The Rise and Fall of George Pell (O Cardeal: A ascensão e queda de George Pell, em tradução livre). Em outubro, três funcionários da polícia de Victoria viajaram para Roma para interrogar Pell, que participou voluntariamente. A promotoria também examinou as evidências recolhidas naquela ocasião. De acordo com o livro publicado pela Melbourne University Press, Pell também teria abusado de dois coristas na catedral de Melbourne no final dos anos noventa e teria tido conhecimento das atividades de padres pedófilos sob a sua jurisdição bem antes de tê-lo admitido.
O cardeal rejeitou enfaticamente em várias ocasiões toda e qualquer alegação de abuso e encobrimento. Através de um porta-voz, ele solicitou um pedido de desculpas e retratação aos jornais Sydney Morning Herald e The Age, e à Guardian Austrália, por artigos que tratam do livro. Seu conteúdo é definido como "linchamento midiático".
"A decisão da editora de proceder com a publicação é uma flagrante tentativa de interferir com o curso da justiça. Ao contrário da Melbourne University Press, o cardeal não irá interferir com o curso da justiça, mas vai aguardar o resultado do devido processo antes de iniciar uma ação por difamação", declarou o porta-voz.
Leia mais
- George Pell: polícia considera a possibilidade de responsabilizar o cardeal em casos de pedofilia
- George Pell continuará no Vaticano? Seja como for, ele é agora irrelevante para os australianos
- Será que o passado de George Pell vai sobrepujar o seu presente caso ele sobreviva?
- “Muitos bispos confiaram demais nos padres pederastas”. Entrevista com George Pell
- “Não, não vou renunciar. Isso seria interpretado como uma admissão de culpa”, disse George Pell
- O problema do cardeal de Francisco: uma estratégia de saída para George Pell
- George Pell é vaiado ao negar saber das acusações de pedofilia
- Será que George Pell, hoje o flagelo do Vaticano, esteve alguma vez enganado por todos ao seu redor?
- George Pell: a Igreja tinha uma “predisposição a não acreditar” nas crianças que se queixavam de padres pedófilos
- George Pell: vazamento de documentos enfraquecem o trabalho da Comissão Real australiana
- "Sim, eu escrevi para Francisco, mas o texto era diferente." Entrevista com George Pell
- George Pell criticado por bispo como “destruidor da unidade” em resposta aos casos de abuso sexual infantil
- Vítimas de abuso irritados com a mudança de local da audiência de George Pell diante da Comissão Real
- Austrália - Arcebispo diz que o celibato do clero não é causa de pedofilia na Igreja
- Duas oportunidades perdidas de uma reforma verdadeira contra abusos sexuais
- “Tolerância zero”. Em carta aos bispos do mundo todo, Papa reafirma a política de combate aos abusos sexuais
- Papa estabelece um dia de oração pelas vítimas dos abusos sexuais
- Ex-arcebispo de Canterbury admite merecer críticas por acobertar pedofilia
- Vaticano confirma que Francisco não renovou os mandatos de Burke e Pell na Congregação para o Culto Divino
- Pedofilia na Igreja: "É preciso contratar pessoas para responder às muitas cartas recebidas"
- A luta contra a pedofilia está com os freios puxados
- Igreja e pedofilia: 600 queixas por ano, desde 2004 foram expulsos 900 padres
- "Cúria contra o papa? Um clichê. A Igreja está unida na luta contra a pedofilia." Entrevista com Gerhard Ludwig Müller
- “Não deixo de acreditar na tolerância zero de Francisco contra a pedofilia, mas outros o boicotam”. Entrevista com Marie Collins
- Austrália. Não há ordem para testar tendência à pedofilia em seminários
- “Comissão antiabuso sexual vaticana quer sobreviventes complacentes, então provavelmente não irei retornar”, diz Peter Saunders
- Cultura clerical sustenta escândalos de abuso sexual
- Defensor das vítimas: O escândalo de pedofilia rompeu o coração da Igreja Católica na Austrália
- Pedofilia na Igreja: Papa Francisco fala de "horrendo pecado", mas não de crime
- Pedofilia. Desejo e perversão. Revista IHU On-Line N°. 326