17 Abril 2017
"A luta contra o neoliberalismo deve ser, ao mesmo tempo, local e global, descentralizada e regional, internacional e transfronteiriça", escreve Pablo Gentili, Secretário Executivo do Clacso, em artigo publicado por Página/12, 16-04-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Eis o artigo.
Os governos neoliberais multiplicam-se novamente pela América Latina ou se fortalecem onde sempre reinaram. No entanto, seria um erro considerar que a hegemonia conservadora dos anos 90 foi reconstituída. Enfrentamos hoje um neoliberalismo que se apropria e transforma algumas das políticas de inclusão social que os governos progressistas implementaram durante os últimos quinze anos. Um neoliberalismo que debilita as bases do Estado Democrático de Direito, o que aumenta de forma exponencial a repressão e a violência institucional, que criminaliza o protesto social, reproduz a pobreza, amplia a desigualdade e, da mesma forma, aumenta os lucros dos grandes grupos econômicos e os privilégios de elites corruptas e indiferentes ao sofrimento e exclusão de milhões de cidadãos e cidadãs.
Em todos os países da América Latina movimentos sociais, sindicatos, partidos e organizações populares, nacionais, progressistas e de esquerda, mobilizaram-se contra esta nova ofensiva conservadora.
Estes movimentos de resistência, dos quais o futuro da democracia na América Latina e no mundo depende, possuem um enorme valor estratégico. No entanto, estes movimentos também precisam ser compreendidos, analisados e revisados para que possam contribuir para a construção de alternativas políticas viáveis e eficazes contra governos que buscam afundar nossas nações embaixo dos escombros da justiça social.
O primeiro desafio é criar grandes frentes de mobilização e de luta, onde expressões diversas, múltiplas e transversais se integrem, não necessariamente identificadas com partidos políticos, mas sempre comprometidas com a afirmação de direitos negados, assim como as lutas por igualdade, contra a violência de gênero, contra o racismo, a discriminação sexual, a defesa da escola pública e do direito à educação, contra a violência policial, lutas pelo direito à cidade, a defesa da propriedade pública, a proteção e o respeito pelos migrantes, a resistência ao extrativismo e as lutas socioambientais.
O segundo desafio é a unidade das forças políticas progressistas, populares, nacionais e de esquerda. A formação de frentes amplas, diversas, plurais e abertas às diferenças, mas construídas sobre a base de um conjunto de reivindicações e propostas concretas para a defesa do espaço público, a dignidade humana e os direitos civis.
Finalmente, embora a agenda de resistência à ofensiva conservadora nos obrigue a atuar de maneira local, não podemos esquecer ou deixar de lado o papel primordial desempenhado pelas alianças e redes de solidariedade internacional entre as forças progressistas da América Latina e do mundo. A luta contra o neoliberalismo deve ser, ao mesmo tempo, local e global, descentralizada e regional, internacional e transfronteiriça.
O Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais, Clacso, completa 50 anos de vida e celebrará seu aniversário promovendo debates e colóquios sobre estes assuntos em toda a América Latina e Caribe. Começaremos na próxima semana, no México. A nossa convidada especial será a ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. No Clacso, acreditamos que o pensamento crítico, academicamente rigoroso e informado, deve contribuir para os processos de mobilização cidadã, sendo uma parte ativa da construção de sociedades mais justas e igualitárias. Vamos celebrar nossos 50 anos refletindo sobre o futuro da democracia.
Festejaremos, lutando.
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Desafios frente ao neoliberalismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU