13 Fevereiro 2017
Na solenidade de Nossa Senhora de Lurdes, o Papa Francisco nomeou um bispo polonês como o seu enviado especial para Medjugorje, onde a Virgem estaria aparecendo desde 1981. A missão de Dom Henryk Hoser é estudar a situação pastoral do local de peregrinação, não as aparições em si.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 11-02-2017. A tradução e de Isaque Gomes Correa.
No sábado, 11 de fevereiro, o Papa Francisco mandou um enviado para Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina, não para se pronunciar a respeito da credibilidade das supostas aparições marianas que estariam acontecendo no local desde 1981, e sim para auxiliar em questões pastorais.
Ao sítio Crux, uma fonte que não quis se identificar disse que Dom Henryk Hoser, da Arquidiocese de Varsóvia-Praga, na Polônia – pessoa escolhida pelo papa para realizar a tarefa –, não terá um papel doutrinal a desempenhar, e sim uma função pastoral somente. É a Congregação para a Doutrina da Fé precisa que tem de se pronunciar sobre a legitimidade das supostas aparições.
No anúncio da nomeação de Hoser, o Vaticano reconheceu que milhares de peregrinos vão a Medjugorje todos os anos.
“A missão tem o propósito de adquirir mais aprofundamento no conhecimento da situação pastoral daquela realidade e, sobretudo, das exigências dos fiéis que vão em peregrinação e, baseados nisso, sugerir eventuais iniciativas pastorais para o futuro”, lê-se no comunicado.
O município é um reduto de peregrinação por causa das aparições relatadas por fiéis. Em 1981, Medjugorje era uma comunidade agrícola comum com cerca de 400 famílias, e muitos afirmam que ele ainda estaria do mesmo jeito não fossem as mensagens marianas regulares.
A informação de um enviado papal foi dada neste sábado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, por meio de uma nota que também fala sobre o “caráter exclusivamente pastoral” da missão de Hoser.
O prelado continuará a exercer o seu papel de arcebispo de Varsóvia-Praga. Espera-se que a sua nova missão esteja concluída no meio deste ano.
As pessoas que relatam as aparições acreditam que a Virgem Maria, ou “Gospa”, como carinhosamente é chamada em Medjugorje, vem aparecendo constantemente na localidade a 100 quilômetros de Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, desde 24-06-1981.
Segundo os relatos, a Virgem primeiramente aparecia todos os dias a seis jovens com idade entre 10 e 17 anos na época, mas desde 1989 ela continua a assim fazer para apenas alguns deles – duas vezes por mês: nos dias 2 e 25.
Nestes anos desde a primeira mensagem, o Vaticano não se pronunciou sobre a veracidade das aparições. Em geral, para que o Vaticano considere emitir uma nota sobre determinada aparição, as revelações precisam estar concluídas, e em Medjugorje este não é caso, definitivamente.
O fato de que a hierarquia católica local está dividida não ajuda também.
Em 2010, com Bento XVI, o Vaticano estabeleceu uma comissão para estudar a questão de Medjugorje. Cinco anos depois, em 06-02-2015, o Papa Francisco contou a jornalistas que “estaremos lá para tomar decisões e então nós as comunicaremos”.
Mas 18 meses já se passaram e nada foi dito.
Somente alguns dias depois, durante uma das missas matinais, Francisco advertia contra a prática de fundamentar a fé somente em visões ou em outra coisa que não o próprio Cristo. E em novembro passado, o papa reiterou um conceito do qual já havia falado antes, segundo o qual a Virgem Maria não é uma “carteira”, a entregar cartas diariamente, algo mencionado por ele de novo esta semana.
Entre outras coisas, Hoser terá de estudar o acompanhamento pastoral dado aos peregrinos pela comunidade franciscana local, que administra a Paróquia de São Tiago, que funciona como um centro acolhedor dos peregrinos.
Ocorrem várias missas durante o dia; há aproximadamente 35 confessionários onde os padres que acompanham os grupos de peregrinos ouvem confissões em vários idiomas.
De acordo com as estatísticas fornecidas no local, uma média de 26 padres por dia concelebraram missas em janeiro de 2017, e cerca de 36 mil pessoas receberam a Sagrada Comunhão durante no mesmo período.
No entanto, apesar das várias atividades religiosas disponíveis aos peregrinos, essa comunidade não esteve livre de escândalos nos últimos anos, e há tempos tem enfrentado problemas com os bispos de Mostar-Duvno, diocese à qual Medjugorje pertence.
Dom Pavao Žanić, que liderou a diocese entre 1980 e 1993, e o atual bispo, Dom Ratko Perić, afirmam claramente nada de sobrenatural está acontecendo aí.
Entre os escândalos em torno dos franciscanos, um dos mais retumbantes foi a excomunhão em 2010 do padre Tomislav Vlasic, sacerdote franciscano que atuava como “diretor espiritual” para os seis visionários.
A decisão, aprovada pelo Papa Emérito Bento XVI, veio pouco depois de uma investigação, que durou um ano, sobre alegações de que ele exagerava as aparições e de que teria gerado um filho com uma freira.
Não passou despercebido pelos analistas do Vaticano o fato de que o anúncio foi feito no dia 11 de fevereiro, dia em que a Igreja Católica marca a solenidade da Nossa Senhora de Lourdes, que apareceu na pequena vila francesa em 11-07-1858.
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Francisco nomeia enviado especial para estudar “situação pastoral” em Medjugorje - Instituto Humanitas Unisinos - IHU