24 Janeiro 2017
"Se um dos padres conservadores metidos a celebridade usasse a mesma metáfora, eles não teriam debochado dele. Eles teriam entendido como uma tentativa de fazer o que ele realmente estava tentando fazer. Eles podem discordar de Spadaro sobre qualquer coisa, mas precisam jogar limpo", escreve David Mills, diretor editorial da Ethika Politika e colunista da Aleteia em artigo publicado por Commonweal, 19-01-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Eis o artigo.
O Padre Antonio Spadaro, SJ, divertiu muita gente recentemente, embora não fosse a intenção. O Facebook e o Twitter iluminaram-se com respostas sarcásticas a um tweet em que o editor de La Civiltà Cattolica - grande aliado de Francisco, considerado seu conselheiro - escreveu que "Teologia não é matemática. Na teologia 2+2 pode ser igual a 5. Porque tem a ver com Deus e vida real das pessoas... "
Os católicos conservadores caíram em cima. O editor do Catholic World Report Carl Olson escreveu em sua página no Facebook: "Padre Spadaro pode até ser confidente do Papa, mas eu não iria querer que ele ensinasse catequese às minhas crianças. Meu Deus!" Em seu site, ele disse que o tweet "tem cunho absolutamente nominalista (ou voluntarista) para ele, pois se baseia na crença aparente de que Deus pode realmente agir de forma contrária ao que e quem Ele é". Phil Lawler, do Catholic Culture, acusou Spadaro de ter uma "fé irracional" e, possivelmente, acreditar que "Deus pode e vai infringir as leis da lógica".
Alguns deram um sermão sobre a falta de lógica de Spadaro. “1. A Teologia abarca o princípio da não contradição. 2. A realidade também. O que houve com Spadaro? " Algumas respostas atribuíram razões políticas: "Para controlar, é preciso eliminar qualquer certeza". Outros escreveram: "A partir da versão cinematográfica de 1984", ou debocharam dizendo que "Teologia não é como Medicina Veterinária. Na teologia, seu gato pode ser um cachorro."
O que será que o pobre homem estava tentando fazer? Spadaro estava tentando argumentar de um jeito criativo. Ele queria que seus leitores entendessem como a teologia funciona descrevendo-a com um contraste surpreendente. Ele quer que os leitores digam "Espere, não, quer dizer que... Ah, entendi."
Fiquei triste por ele. Uso muitas analogias e imagens na minha própria escrita e sei como é fácil criar alguma que te faça parecer tolo. Você está tentando ajudar aos seus leitores a perceber algo que eles não entendem descrevendo em termos que eles entendem. Entre uma coisa e outra, a chance de errar é enorme.
A maioria das pessoas não conhece teologia, ou conhece tanto quanto se sabe de coreano após um curso por correspondência. Metáforas e analogias os ajudam a aprender a língua. Para um escritor, usá-las é um pouco como estar em uma corda bamba, é como uma performance do tipo 'crianças, não tentem isso em casa'.
Será que a metáfora de Spadaro foi um grande erro, ou sequer estava errada? Acredito que não, mas mesmo que ele tenha caído da corda bamba, essas coisas acontecem. "Boa tentativa" teria sido uma resposta razoável. Eu já arrisquei a mesma metáfora para explicar algo semelhante e decidi não usá-la. Achei que os leitores ficariam muito presos no 2+2 não são 5 e não entenderiam o que eu queria dizer. É uma boa metáfora, embora pudesse ter funcionado melhor de maneira mais contextualizada do que em um tweet de 140 caracteres.
Talvez Spadaro estivesse tentando explicar algo sobre cuidado pastoral, embora tenha dito "teologia". As regras são necessariamente gerais e simples, e a vida de muitas pessoas não se encaixa nelas. Todo mundo sabe disso.
Anos atrás, antes de entrar para a Igreja, eu passei algumas horas com um sacerdote da Opus Dei que se queixou das pessoas que aplicavam as regras de maneira mecânica. Ele os chamou de "manualistas", se não me engano. Ele disse algo muito parecido com o que Spadaro disse. Outro padre conservador disse que ele discretamente admitia que casais em matrimônios irregulares participassem da comunhão se percebesse sérios progressos para resolver a situação. Ele achava que era correto, mesmo que fosse rigorosamente contra as regras. Ele o fazia (conforme minha leitura) porque isso tem a ver com Deus e com a vida real das pessoas.
Tenho quase certeza de que muitos dos sacerdotes que riram de Spadaro tratam o cuidado pastoral como se 2+2, algumas vezes, fossem 5. E que muitos dos leigos que riram dele já vivenciaram este tipo de tolerância pastoral. As pessoas tratam com rigor os pecados dos outros. O problema desta resposta é que, em vez de apenas dizerem que a analogia de Spadaro não funcionou, vários críticos da internet usaram-na para tentar mostrar que ele (e, consequentemente, o Papa) era um idiota.
Se um dos padres conservadores metidos a celebridade usasse a mesma metáfora, eles não teriam debochado dele. Eles teriam entendido como uma tentativa de fazer o que ele realmente estava tentando fazer. Eles podem discordar de Spadaro sobre qualquer coisa, mas precisam jogar limpo.
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2+2 pode ser igual a 5. Spadaro sob a mira de conservadores católicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU