21 Janeiro 2017
Documentos revelados nas investigações da Lava Jato mencionam um “Programa OH”, em referência a Ollanta Humala, relacionado ao pagamento de três milhões de dólares por parte da Odebrecht.
A reportagem é de Carlos Noriega e publicada por Página/12, 20-01-2017. A tradução é de André Langer.
As repercussões internacionais do caso Lava Jato continuam a estremecer as fragilizadas estruturas da classe política peruana. Quatro ex-presidentes – Alan García (1985-1990 e 2006-2011), Alberto Fujimori (1990-2000), Alejandro Toledo (2001-2006) e Ollanta Humala (2011-2016) – e o atual presidente Pedro Paulo Kuczynski foram salpicados por este escândalo de mega corrupção. Kuczynski foi envolvido nas investigações por seu papel como ministro da Economia e presidente do Conselho de Ministros durante o governo de Toledo. São cinco as empresas brasileiras envolvidas, encabeçadas pela Odebrecht.
Documentos revelados nas investigações da Lava Jato mencionam um “Programa OH” relacionado ao pagamento de três milhões de dólares por parte da Odebrecht. De acordo com a polícia brasileira, OH refere-se a Ollanta Humala. Nessa linha, a imprensa brasileira assinalou que a Odebrecht – que confessou ter pago subornos a funcionários públicos peruanos da ordem de 29 milhões de dólares durante os governos de Toledo, García e Humala – entregou a este último três milhões de dólares para financiar sua campanha eleitoral de 2011. Na administração de Humala, a Odebrecht, assim como teria acontecido em governos anteriores, ganhou importantes licitações para a execução de obras públicas.
Contra Ollanta Humala e sua esposa Nadine Heredia há uma investigação fiscal por suposta lavagem de ativos relacionada ao financiamento da campanha eleitoral. Agendas pessoas de Heredia, com anotações suas feitas a mão, que foram roubadas da ex-primeira dama de sua residência e entregues à imprensa e à promotoria, revelam uma série de milionários movimentos bancários e pagamentos que teria recebido do Brasil. Por uma ordem judicial dada esta semana, Humala não pode deixar o país sem permissão do juiz. A sua esposa encontra-se na mesma situação.
A situação de Toledo também é complicada depois de se descobrir que em uma conta no Citybank de Londres que pertence a uma companhia do empresário peruano-israelense Josef Maiman, um velho amigo e financista de Toledo, foram depositados, entre o dia 22 de junho e o dia 13 de julho de 2006, dias antes do término do governo de Toledo no dia 28 de julho desse mesmo ano, quatro depósitos de uma offshore vinculada à construtora brasileira Camargo Correa no valor de 1,6 milhão de dólares. No final do governo de Toledo, a empresa brasileira obteve a licitação para a construção da secção quatro da rodovia interoceânica sul, que liga o Brasil com a costa peruana. De acordo com a Promotoria peruana, este dinheiro entregue a Maiman seria parte de um suborno de 6,3 milhões de dólares pagos pela Camargo Correa em relação à mencionada rodovia.
Das contas de Maiman saíram mais de 10 milhões de dólares para a offshore Ecoteva, criada na Costa Rica em nome da sogra de Toledo, uma octogenária cidadã belga. Em 2012, a Ecoteva comprou em Lima uma residência e um escritório no valor de 4,5 milhões de dólares. Maiman também deu a Toledo mais de meio milhão de dólares para que pagasse as hipotecas de sua residência em Lima e de uma casa de praia. Pelo caso Ecoteva, o ex-presidente, que mora nos Estados Unidos, responde a uma investigação fiscal, que ganhou impulso com as revelações dos pagamentos depositados nas contas de Maiman, que parecem fechar o círculo sobre a origem das suspeitosas contribuições do empresário à família Toledo.
Ao contrário de Toledo e Humala, Alan García, com bons contatos no aparelho de Justiça, não responde a uma investigação judicial, mas seu nome aparece mais de uma vez vinculado à trama de subornos das empresas brasileiras. Durante o seu governo, García foi um entusiasta promotor das operações destas companhias e reuniu-se numerosas vezes com seus funcionários. A Odebrecht reconheceu ter pagado durante os governos de Toledo e García subornos no valor de 20 milhões de dólares vinculados à construção de dois trechos da rodovia interoceânica. Subornos que teriam servido para ganhar a licitação e para depois modificar os contratos e superfaturar a obra. Os diretores da Odebrecht também confessaram que durante o regime de García pagaram 1,4 milhão de dólares em subornos relacionados à construção do trecho um do Metrô de Lima, obra impulsionada pessoalmente pelo ex-presidente. Meios de comunicação denunciaram documentalmente que nos anos do regime de García mais de 11 milhões de dólares saídos de empresas brasileiras circularam através de uma emaranhada trama de transações financeiras, companhias fantasmas e empresas offshore, desconhecendo-se até o momento o destinatário final desse dinheiro.
O fujijmorismo, que preside a comissão investigadora sobre as implicações da Lava Jato no Peru formada no Congresso, pretende excluir da investigação parlamentar o regime de Alberto Fujimori, hoje em prisão condenado a 25 anos por outros casos de corrupção e crimes de lesa humanidade. Mas foi durante a ditadura fujimorista que a Odebrecht multiplicou suas obras no Peru. Nesse período, a empresa brasileira executou 26 obras públicas no país, mais que nos três governos seguintes, de Toledo, García e Humala, nos quais a construtora executou 24 obras públicas.
Políticos e empresários peruanos caíram em uma crise de nervos pelas revelações dos subornos pagos no Peru pelas empresas brasileiras. Cada vez que alguém relacionado a este caso fala no Brasil, muitos também tremem no Peru. Ainda há muito para se descobrir. Isso parece estar apenas começando.
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Cinco presidentes peruanos na mira da Lava Jato - Instituto Humanitas Unisinos - IHU