17 Janeiro 2017
“Por que os bispos latino-americanos, nem como pastores de suas dioceses, nem como conferências, deram uma orientação particular aos fiéis sobre a possibilidade aberta pela Amoris Laetitia para que os divorciados recasados possam comungar na missa?”, pergunta Jorge Costadoat, SJ, teólogo chileno, em artigo publicado por Reflexión y Liberación, 15-01-2017. A tradução é de André Langer.
Por que os bispos latino-americanos, nem como pastores de suas dioceses, nem como conferências, deram uma orientação particular aos fiéis sobre a possibilidade aberta pela Amoris Laetitia para que os divorciados recasados possam comungar na missa?
O Papa entregou a eles a tarefa de dar especificações regionais de aplicação da exortação apostólica. Só podemos supor que haja uma razão poderosa para que até agora os bispos praticamente não se tenham pronunciado sobre o tema.
Os bispos malteses, sim, deram uma orientação.
A pergunta que faço é similar àquela que muitos católicos se fazem: “no que deu a questão da comunhão aos divorciados recasados? Sabe-se algo sobre isso?” Os sínodos sobre a família foram despertando interesse pouco a pouco. As pessoas foram se informando pela imprensa. Muitos não ficaram sabendo de nada por parte de suas dioceses ou paróquias sobre as 39 perguntas que o Papa propôs para trabalhar os temas mais relevantes. Nem os meios de comunicação – alguns por seres agnósticos, outros por serem conservadores – deram suficientes informações. Isto assim, os católicos mais comprometidos e, certamente, aqueles que não podem participar plenamente da eucaristia, constatam outra vez que são deixados de lado.
O que aconteceu em outras regiões do mundo? Entendo que um bispo norte-americano tenha proporcionado recomendações para que os católicos, cumpridas as exigências da Amoris Laetitia, se aproximem para comungar; mas também que outro extraiu um documento ao contrário. Não fiquei sabendo se os alemães publicaram algo. Sua contribuição no Sínodo foi extraordinária. E a Espanha? Os bispos de Malta, ao contrário, redigiram um documento notável. Ele certamente ajudará os seus fiéis.
Não entendo o porquê deste silêncio. O Papa também precisa de ajuda. Francisco tem uma oposição impressionante de parte de seus próprios colaboradores. Quatro cardeais, e outros católicos por trás deles, ameaçaram Francisco, sugerindo que com a Amoris Laetitia ele se afastou da ortodoxia. E os outros cardeais, o que pensam? O Sínodo aprovou o documento base da Amoris Laetitia por mais de dois terços dos votos, é verdade. Mas, deixou em aberto explicar aos católicos como devem entender sua aplicação nas suas respectivas regiões.
Posso entender que os bispos latino-americanos não entrem em polêmica com o cardeal Burke e os demais prelados, contra o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e as outras autoridades da cúria contrárias ao Papa. Mas, se há bispos de acordo com Francisco, por que não os apoiam na aplicação do documento, sobretudo quando o que está em jogo é orientar o Povo de Deus? São muitos os católicos que têm a sensação de abandono.
Bastaria um documento como o da Igreja de Malta: critérios para a aplicação do capítulo VIII da Amoris Laetitia. No parágrafo decisivo diz:
“Se, como consequência do processo de discernimento, empreendido com ‘humildade, reserva, amor à Igreja e ao seu ensinamento, na busca sincera da vontade de Deus e com o desejo de alcançar uma resposta a ela mais perfeita’ (AL 300), uma pessoa separada ou divorciada que vive em uma relação consegue com clara e informada consciência, reconhecer e crer que ela ou ele estão em paz com Deus, ela ou ele não podem ser impedidos de participar dos sacramentos da reconciliação ou da eucaristia (Cf. AL, notas 336 e 351)”.
Enquanto não houver pronunciamentos dos bispos latino-americanos, este documento e este parágrafo podem servir para muitas Igrejas da América Latina; e, quem sabe, também para outras Igrejas do mundo.
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O exemplo dos bispos de Malta para os episcopados da América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU