O exemplo dos bispos de Malta para os episcopados da América Latina

Imagem: Ordem da Cruz

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

17 Janeiro 2017

“Por que os bispos latino-americanos, nem como pastores de suas dioceses, nem como conferências, deram uma orientação particular aos fiéis sobre a possibilidade aberta pela Amoris Laetitia para que os divorciados recasados possam comungar na missa?”, pergunta Jorge Costadoat, SJ, teólogo chileno, em artigo publicado por Reflexión y Liberación, 15-01-2017. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

Por que os bispos latino-americanos, nem como pastores de suas dioceses, nem como conferências, deram uma orientação particular aos fiéis sobre a possibilidade aberta pela Amoris Laetitia para que os divorciados recasados possam comungar na missa?

O Papa entregou a eles a tarefa de dar especificações regionais de aplicação da exortação apostólica. Só podemos supor que haja uma razão poderosa para que até agora os bispos praticamente não se tenham pronunciado sobre o tema.

Os bispos malteses, sim, deram uma orientação.

A pergunta que faço é similar àquela que muitos católicos se fazem: “no que deu a questão da comunhão aos divorciados recasados? Sabe-se algo sobre isso?” Os sínodos sobre a família foram despertando interesse pouco a pouco. As pessoas foram se informando pela imprensa. Muitos não ficaram sabendo de nada por parte de suas dioceses ou paróquias sobre as 39 perguntas que o Papa propôs para trabalhar os temas mais relevantes. Nem os meios de comunicação – alguns por seres agnósticos, outros por serem conservadores – deram suficientes informações. Isto assim, os católicos mais comprometidos e, certamente, aqueles que não podem participar plenamente da eucaristia, constatam outra vez que são deixados de lado.

O que aconteceu em outras regiões do mundo? Entendo que um bispo norte-americano tenha proporcionado recomendações para que os católicos, cumpridas as exigências da Amoris Laetitia, se aproximem para comungar; mas também que outro extraiu um documento ao contrário. Não fiquei sabendo se os alemães publicaram algo. Sua contribuição no Sínodo foi extraordinária. E a Espanha? Os bispos de Malta,  ao contrário, redigiram um documento notável. Ele certamente ajudará os seus fiéis.

Não entendo o porquê deste silêncio. O Papa também precisa de ajuda. Francisco tem uma oposição impressionante de parte de seus próprios colaboradores. Quatro cardeais, e outros católicos por trás deles, ameaçaram Francisco, sugerindo que com a Amoris Laetitia ele se afastou da ortodoxia. E os outros cardeais, o que pensam? O Sínodo aprovou o documento base da Amoris Laetitia por mais de dois terços dos votos, é verdade. Mas, deixou em aberto explicar aos católicos como devem entender sua aplicação nas suas respectivas regiões.

Posso entender que os bispos latino-americanos não entrem em polêmica com o cardeal Burke e os demais prelados, contra o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e as outras autoridades da cúria contrárias ao Papa. Mas, se há bispos de acordo com Francisco, por que não os apoiam na aplicação do documento, sobretudo quando o que está em jogo é orientar o Povo de Deus? São muitos os católicos que têm a sensação de abandono.

Bastaria um documento como o da Igreja de Malta: critérios para a aplicação do capítulo VIII da Amoris Laetitia. No parágrafo decisivo diz:

“Se, como consequência do processo de discernimento, empreendido com ‘humildade, reserva, amor à Igreja e ao seu ensinamento, na busca sincera da vontade de Deus e com o desejo de alcançar uma resposta a ela mais perfeita’ (AL 300), uma pessoa separada ou divorciada que vive em uma relação consegue com clara e informada consciência, reconhecer e crer que ela ou ele estão em paz com Deus, ela ou ele não podem ser impedidos de participar dos sacramentos da reconciliação ou da eucaristia (Cf. AL, notas 336 e 351)”.

Enquanto não houver pronunciamentos dos bispos latino-americanos, este documento e este parágrafo podem servir para muitas Igrejas da América Latina; e, quem sabe, também para outras Igrejas do mundo.

Leia mais