16 Dezembro 2016
A Catedral Metropolitana de São Paulo recebeu com uma salva de palmas cheia de gratidão os restos mortais do cardeal Paulo Evaristo Arns, falecido nesta quarta-feira aos 95 anos após lutar pela defesa dos direitos humanos nos tempos da ditadura.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 15-12-2106. A tradução é de André Langer.
Uma morte que também foi lamentada pelo Papa Francisco, que, em um telegrama, afirma seu “grande pesar” ao tomar conhecimento da “morte do venerado irmão”. Em um telegrama dirigido à Arquidiocese, Bergoglio o qualificou de “intrépido pastor” que “se revelou uma autêntica testemunha do Evangelho no meio do seu povo, apontando a todos o caminho da verdade na caridade e do serviço à comunidade, em permanente atenção pelos mais desfavorecidos”.
“Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor e elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel”, conclui o Papa.
Nesta quinta-feira começou o velório coletivo, que se prolonga até esta sexta-feira, dia em que será sepultado na cripta da catedral, um imponente templo de estilo neogótico.
O caixão com o corpo de Dom Paulo, como comumente era chamado, chegou às portas da catedral em um carro fúnebre e foi carregado por presbíteros da Arquidiocese de São Paulo.
Enquanto subiam as escadarias que dão acesso à igreja, os devotos romperam em uma salva de palmas em meio a um tumulto de câmaras e fotógrafos que se aglomeravam ao redor do féretro do arcebispo emérito da capital paulista, falecido após estar duas semanas internado em um hospital por problemas pulmonares.
A entrada na catedral foi encabeçada pelo cardeal Odilo Pedro Scherer, atual arcebispo de São Paulo, a toque de incenso e entre novos aplausos, para depois dedicar-lhe algumas palavras durante uma missa.
“A maior parte da sua vida esteve dedicada ao serviço deste povo, à defesa da dignidade humana, à justiça social e à defesa dos mais pobres”, disse Scherer, rodeado de autoridades civis e também de representantes de outras confissões religiosas.
Evaristo Arns, da Ordem Franciscana, é um dos símbolos mais representativos da luta contra a ditadura militar que grassou o Brasil entre 1964 e 1985, pois da sua posição como arcebispo de São Paulo criticou com dureza as torturas, desaparecimentos e prisões arbitrárias que eram perpetradas nessa época.
“Ele marcou profundamente a nossa cidade, mas não apenas isso, também marcou todo o Brasil”, acrescentou Scherer, uma opinião compartilhada por alguns dos que ali estavam presentes no funeral, como o advogado Alexandre Pupo, de 23 anos, que disse à Efe que Arns “simbolizava uma época muito importante para a Igreja” no país.
“Ele teve um compromisso social muito forte e de defesa da democracia”, comentou o jovem, de confissão protestante, que não viveu essa agitada época, mas tem consciência dela.
Em 1972, Arns criou a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do manifesto “Testemunho de paz”, que continha fortes críticas ao regime.
Alguns bancos mais à frente, mais perto do altar onde repousa o corpo do falecido cardeal, Remi Cardoso, de 57 anos, disse à Efe que Arns “tinha um coração muito grande: abrigou todo o mundo em todas as épocas, inclusive na época da ditadura”, em referência aos casos em que deu guarida a perseguidos políticos e pessoas de poucos recursos.
Para Rogério Vilanova, frequentador das missas do cardeal quando este levantava sua voz do altar da catedral para denunciar as violações de direitos humanos, “sempre lutou pelo povo pobre e humilde”.
Ao longo de sua longa trajetória de 71 anos de sacerdócio e 50 anos de episcopado, Arns chegou a trabalhar também como jornalista e escreveu mais de 50 livros, pois uma das suas paixões que manteve até o fim era manter-se constantemente informado.
“Sempre que eu o visitava tinha jornais, revistas e livros em cima da mesa”, revelou Scherer em sua homilia.
Seu caráter reivindicativo o fez ganhar o título de símbolo da Igreja progressista, e seu nome chegou inclusive a estar, em 1978, entre os “papáveis” no Conclave que elegeu São João Paulo II.
Seu lema “de esperança em esperança” ficou marcado na memória do povo brasileiro.
Telegrama de condolências do Santo Padre pela morte do cardeal Paulo Evaristo Arns, OFM.
Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicamos, na sequência, o telegrama de condolências pela morte, ocorrida ontem, 14 de dezembro de 2016, do cardeal Paulo Evaristo Arns, OFM, do Título de Santo Antonio de Pádua na Via Tuscolana, Arcebispo emérito de São Paulo (Brasil), que o Santo Padre Francisco enviou ao cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo (Brasil).
EMMO E REVMO DOM ODILO PEDRO SCHERER
CARDEAL ARCEBISPO DE SÃO PAULO
RUA ALFREDO MAIA 195 BAIRRO DA LUZ 01106-010 SÃO PAULO (SP)
RECEBIDA COM GRANDE PESAR NOTÍCIA DA MORTE DO VENERADO IRMÃO CARDEAL PAULO EVARISTO ARNS VENHO EXPRIMIR-LHE A SI E BISPOS AUXILIARES AO CLERO COMUNIDADES RELIGIOSAS E FIÉIS ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO BEM COMO À FAMÍLIA DO FALECIDO MEUS PÊSAMES PELO DESAPARECIMENTO DESSE INTRÉPIDO PASTOR QUE NO SEU MINISTÉRIO ECLESIAL SE REVELOU AUTÊNTICA TESTEMUNHA DO EVANGELHO NO MEIO DO SEU POVO A TODOS APONTANDO A SENDA DA VERDADE NA CARIDADE E DO SERVIÇO À COMUNIDADE EM PERMANENTE ATENÇÃO PELOS MAIS DESFAVORECIDOS. DOU GRAÇAS AO SENHOR POR TER DADO À IGREJA TÃO GENEROSO PASTOR E ELEVO FERVOROSAS PRECES PARA QUE DEUS ACOLHA NA SUA FELICIDADE ETERNA ESTE SEU SERVO BOM E FIEL ENQUANTO ENVIO A ESSA COMUNIDADE ARQUIDIOCESANA QUE CHORA PERDA DO SEU AMADO PASTOR E À IGREJA DO BRASIL QUE NELE TEVE UM SEGURO PONTO DE REFERÊNCIA E A QUANTOS PARTILHAM ESTA HORA DE TRISTEZA QUE ANUNCIA A RESSURREIÇÃO. UMA CONFORTADORA BÊNÇÃO APOSTÓLICA.
FRANCISCO PP.
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Francisco: “Arns foi um intrépido pastor, uma autêntica testemunha do Evangelho no meio do seu povo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU