02 Novembro 2016
"Cada palavra e cada gesto de Francisco na Suécia foram como uma pedra, uma pedra usada para traçar um caminho novo, viável não só para os adeptos do ecumenismo, mas também por cada homem e por cada mulher abençoados pela graça de Deus. Depois de tantas pedras para destruir, novas pedras para construir."
A opinião é do pastor valdense italiano Eugenio Bernardini, moderador da Mesa Valdense da Itália. O artigo foi publicado no sítio da Igreja Evangélica Valdense, 01-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Deixamos a outros a busca dos adjetivos mais marcantes – "histórico", "epocal", "excepcional" –, mas, certamente, o evento de Lund do dia 31 de outubro de 2016 não é daqueles que se esgotam ao desligar os holofotes.
A visita do Papa Francisco à família luterana mundial às vésperas do Jubileu da Reforma merecerá uma reflexão longa e cuidadosa: por aquilo que foi dito, pela forma como foi dito e por quando foi dito.
O "quando" é fácil de interpretar: o bispo de Roma escolheu uma data de grandíssima relevância para o protestantismo mundial, pretendendo, assim, dar ao seu gesto uma ênfase histórica e programática. Ele fez isso "antes" e não "depois" das celebrações de 2017, assumindo um risco duplo: na frente interna, deu um passo corajoso e temido por aqueles que denunciam a "protestantização" do catolicismo pós-ratzingeriano. Na frente externa das relações ecumênicas, ele fez um gesto que alguns interpretam como a tentativa de se "apropriar" da Reforma e, assim, despotencializar o seu porte teológico e eclesiológico.
Na realidade, na nossa opinião, o papa simplesmente quis dizer que a Reforma não é uma propriedade confessional, mas um patrimônio da cristandade e, se quisermos, da humanidade inteira. As frases de Francisco sobre a redescoberta luterana da Bíblia constituem a pedra angular de uma reabilitação que, hoje, se expressa não com as fórmulas da alta teologia, mas em uma linguagem direta e popular.
Porém, é importante também o "como" o papa falou sobre Lutero e a Reforma. Ele fez isso em uma severa igreja gótica e em um palácio do esporte. Ele fez isso com a linguagem da oração e com a da pregação, citando o Evangelho e respondendo a testemunhos dos grandes desafios que estão diante dos cristãos do século XXI; entre um coro africano e um hino clássico da Reforma; interrompido pela solenidade do órgão e do rufar dos tambores africanos.
Em suma, Bergoglio falou aos protestantes de todo o mundo olhando na cara a cristandade global, aquela que, na Europa, deserta igrejas e oratórios, mas que, na África ou na Ásia, determina uma nova onda de espiritualidade.
Por fim, o "quê". Precisaremos reler as palavras do Papa Francisco e avaliá-las com atenção. Mas as duas mensagens chegaram: a primeira é que os diálogos teológicos devem continuar, mas a um ritmo e com uma agenda bastante diferentes daqueles que conhecemos até aqui. Por exemplo, será preciso falar de partilha eucarística, com o objetivo de chegar a alguma conclusão que dê respostas a cristãos que não entendem mais o sentido de "mesa", senão contrapostas, ao menos distintas.
A segunda mensagem já é uma constante do ministério de Jorge Bergoglio. A árvore pode ser vista a partir dos frutos, e a cristandade – católica, protestante, ortodoxa – só terá futuro e credibilidade se souber dar um testemunho à paz, à justiça e à salvaguarda da criação.
Cada palavra e cada gesto foram como uma pedra, uma pedra usada para traçar um caminho novo, viável não só para os adeptos do ecumenismo, mas também por cada homem e por cada mulher abençoados pela graça de Deus. Depois de tantas pedras para destruir, novas pedras para construir.
Esperamos que também compreendam isso os jornalistas não especializados, especialmente as grandes empresas italianas, que, favoráveis ou contrárias ao impulso dado pelo Papa Francisco, estão dando uma leitura disso apenas "politizante", enchendo-a de considerações desprovidas de fundamento histórico e, naturalmente, teológico.
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As pedras de Lund. Artigo de Eugenio Bernardini, da Igreja Evangélica Valdense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU