10 Outubro 2016
Federica e Isabel, as duas irmãs franciscanas que abandonaram o hábito para se casar, contam a história do seu amor a um jornal italiano. Conheceram-se trabalhando nas missões, na África e se apaixonaram. Após se casarem, denunciam a hipocrisia de muitos padres e freiras que, em todo o mundo, vivem seus amores na clandestinidade. Ao passo que o substituto da Secretaria de Estado disse que o Papa se entristeceu ao ler a notícia das religiosas.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 08-10-2016. A tradução é de André Langer.
“Quanta tristeza no rosto do papa quando li para ele a notícia das duas ‘irmãs’ esposas”, afirmou, no sábado, em um tuíte o substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, Angelo Becciu.
Federica e Isabel decidiram se casar, possibilidade concretizada pela recente lei italiana que permite as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, aprovada em maio passado. Estas duas irmãs, uma italiana e outra da África do Sul, têm 44 e 40 anos e se casaram no dia 28 de setembro passado no município piemontês de Pinerolo, informa a imprensa local.
O jornal La Repubblica publicou na sexta-feira uma entrevista com o casal na qual assinalam que seu amor surgiu durante uma missão na Guiné Bissau, “trabalhando lado a lado pelos pobres”, como vêm fazendo desde que se tornaram irmãs aos 20 anos.
As duas garantem que rejeitaram “um conselho que se ouve com frequência nos conventos, o de viver juntas como irmãs: ‘basta que não digam nada e não provoquem escândalo”, embora tivessem considerado este modo de agir como “uma via cômoda e falsa”.
“Há muitos casos como estes: sacerdotes e religiosas que vivem clandestinamente suas relações com homens e mulheres. Mas, no Evangelho, Jesus condena a hipocrisia, não os homossexuais. E, por isso, decidimos deixar a vida religiosa e começar um caminho de liberdade, fé e serenidade, sem escândalo”, recordaram.
Afirmaram também que a sua foi “uma escolha difícil, mas não infeliz”, embora confessassem certo medo diante da vida fora dos muros do convento.
“Deixar o hábito religioso significa encontrar-se de um dia para o outro na condição de quem não sabe como juntar almoço e janta, encontrar um trabalho, sem ajuda nem pensão. Quem sai do convento, em vez de ser ajudado a se reinserir na sociedade, é abandonado”, disseram a esse jornal.
Na entrevista, as religiosas fazem alusão à resposta que o Papa Francisco costuma dar quando lhe perguntam sobre o tema dos homossexuais: “quem sou eu para julgar?”
“O Papa disse ‘quem sou eu para julgar?’ Ninguém deveria julgar. Essa frase nos abriu o coração”, assinalaram as ex-religiosas, que convidaram aqueles e aquelas que se encontram na mesma situação dentro da Igreja “para não terem medo”.
O jornal turinês La Stampa informou, por sua vez, que sua “união civil” foi presidida pelo prefeito de Pinerolo e que, na sequência, houve uma “cerimônia religiosa” organizado por Franco Barbero, expulso do sacerdócio em 2003 por João Paulo II por dar a bênção a casais homossexuais.
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As freiras que abandonaram o hábito para se casar: “Deus condena a hipocrisia, não os homossexuais” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU