Welby e Francisco se comprometem a “ser promotores de um ecumenismo audaz e real”

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Outubro 2016

Cinquenta anos depois, Francisco e Justin Welby repetiram o caminho aberto por Paulo VI e Michael Ramsey, meio século de diálogo entre católicos e anglicanos, que não se traduziu em unidade, mas na estima mútua e no reconhecimento como irmãos na fé. Um grande passo, embora ainda reste muito por se fazer.

A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 05-10-2016. A tradução é de André Langer.

Foi o que se testemunhou durante a assinatura de uma declaração conjunta, antes da oração das vésperas na Basílica de San Gregorio al Celio. Na mesma, Francisco e Welby reconhecem que “estamos unidos na convicção de que ‘os confins da terra’, hoje, não representam apenas uma expressão geográfica, mas um chamado a levar a mensagem de salvação do Evangelho, de modo particular àqueles que estão à margem e na periferia das nossas sociedades”.

Após ressaltar os avanços no caminho ecumênico, ambos reconhecem que continuam existindo “sérios obstáculos” para a plena comunhão. “Novas circunstâncias trouxeram novos desacordos entre nós, particularmente em relação à ordenação de mulheres (uma mulher exerceu como acolita de Welby na cerimônia) e das mais recentes questões relacionadas à sexualidade humana. Por detrás destas divergências, permanece uma perene questão sobre o modo de exercício da autoridade na comunidade cristã. Estes são alguns aspectos que constituem sérios obstáculos à nossa plena unidade. Assim como com os nossos predecessores, também nós não vemos ainda soluções para os obstáculos diante de nós, mas não estamos desencorajados”, admitiram com sinceridade.

Com a mesma clareza, aponta a declaração, “as divergências mencionadas não podem nos impedir de nos reconhecermos reciprocamente irmãos e irmãs em Cristo em razão do nosso comum Batismo. Também nunca deveríamos abster-nos de descobrir e de alegrarmo-nos na profunda fé cristã e na santidade que encontramos nas tradições dos outros. Estas divergências não devem levar-nos a diminuir os nossos esforços ecumênicos”.

“Nem sequer as nossas divergências deveriam impedir a nossa oração comum: não apenas podemos rezar juntos, mas devemos rezar juntos, dando voz à fé e à alegria que compartilhamos no Evangelho de Cristo”, prossegue o texto que culmina destacando que “mais amplas e profundas do que as nossas divergências são a fé que compartilhamos e a nossa alegria comum no Evangelho”.

“O mundo deve nos ver testemunhar, no nosso trabalhar juntos, esta fé comum em Jesus. Podemos e devemos trabalhar juntos para proteger e preservar a nossa casa comum (...). Podemos, e devemos, estar unidos na causa comum de apoiar e defender a dignidade de todos os homens. A pessoa humana é rebaixada pelo pecado pessoal e social. Em uma cultura da indiferença, muros de afastamento nos isolam dos outros, das suas lutas e dos seus sofrimentos, que também muitos nossos irmãos e irmãs em Cristo sofrem atualmente. Em uma cultura do descarte, as vidas mais vulneráveis na sociedade são frequentemente marginalizadas e descartadas. Em uma cultura do ódio, assistimos a indizíveis atos de violência, seguidamente justificados por uma compreensão distorcida do credo religioso. A nossa fé cristã nos leva a reconhecer o inestimável valor de toda vida humana e a honrá-la por meio de obras de misericórdia, oferecendo educação, cuidado à saúde, alimento, água limpa e abrigo, sempre buscando resolver os conflitos e construir a paz. Enquanto discípulos de Cristo, consideramos a pessoa humana sagrada e enquanto apóstolos de Cristo devemos ser os seus advogados”.

Em seguida, em sua breve alocução durante a oração das vésperas, Francisco destacou como “Deus, como pastor, quer unidade em seu povo, e deseja que os pastores se dediquem a isto”, lamentando o clima de “incompreensão e suspeita” traçado por “razões históricas e culturais, e não somente por razões teológicas”.

Para Francisco, Deus “continua agindo, animando-nos para caminhar ao encontro de maior unidade”, pois, “o caminho da comunhão é o caminho de todos os cristãos”, uma chamada para “funcionar como instrumentos de comunhão sempre e em qualquer lugar”, superando “a tentação dos fechamentos e do isolamento” para agir “como uma só família humana”.

“Reconhecemo-nos como irmãos que pertencem a diferentes tradições, mas impulsionados pelo mesmo Evangelho para realizar a mesma missão no mundo”, proclamou o Papa, que encorajou para “ser promotores de um ecumenismo audaz e real, sempre no caminho da busca de abrir novos caminhos”.

“Nosso ministério consiste em iluminar a escuridão com esta luz suave, com a força impotente do amor que vence o pecado e a morte. Temos a alegria de reconhecer e celebrar o coração da fé. Centremo-nos nisso, sem nos distrairmos e sermos tentados a seguir o espírito do mundo, que nos distrairia do frescor original do Evangelho”, pediu Francisco, que encorajou para “a responsabilidade compartilhada, a única missão de servir a Deus e a humanidade”.

Bergoglio concluiu sua breve alocução animando os pastores a “proclamar a alegria do Evangelho”, sem fechar-se “em círculos restritos, em ‘microclimas’ eclesiais que nos devolvem aos dias nublados e de trevas”. “Rezemos juntos para isso: que o Senhor nos conceda a graça de que daqui surja um renovado impulso de comunhão e de missão”.

Ao término da oração, Justin Welby clamou contra os “maus pastores” que fomentam a desunião entre os fiéis. “Nós somos as ovelhas e o pastor é Deus mesmo”, destacou o arcebispo de Canterbury, que convidou para olhar com esperança para o futuro. Mas advertiu contra as lutas, que convertem a Igreja “em um circo” em que todos se matam entre si.

Welby agradeceu ao Papa a convocação do Ano da Misericórdia e animou para “sermos misericordiosos uns com os outros”. Com o pobre, com refugiado, com as vítimas do tráfico de pessoas. “Rezemos pela esperança renovada e o começo de um novo caminho de reparação”, proclamou, tornando-nos responsáveis para ser a boca, os pés e os olhos do Bom Pastor “para encontrar a ovelha perdida e levá-la para casa”.

“Minha oração é que, como família de Deus, sejamos aqueles que veem o mundo como um rebanho de ovelhas, onde os frágeis, os não nascidos, as vítimas do tráfico de pessoas, os moribundos... não sejam tratados como inconvenientes... E que não fiquemos apenas observando, mas que respondamos dizendo: ‘Aqui estamos, envia-nos’”.

Leia mais...