06 Outubro 2016
Foto: CUT-RS
A CUT-RS se reuniu pela primeira vez na tarde da última terça-feira (4) com o arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler. Ao longo de uma hora e meia de diálogo, os dirigentes sindicais falaram da conjuntura difícil e destacaram os ataques aos direitos dos trabalhadores.
A informação é publicada por CUT-RS, 05-10-2016.
O representante da Igreja Católica ouviu os trabalhadores e também se manifestou, enfatizando que “esse sistema mata” e reafirmou as palavras do Papa Francisco aos movimentos sociais: “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”.
O encontro, solicitado pela CUT-RS, aconteceu na Cúria Metropolitana, no centro da capital gaúcha. Participaram o presidente Claudir Nespolo, as diretoras Maria Helena de Oliveira e Cleonice Back, e os diretores Amarildo Cenci e Ademir Wiederkehr. Dom Jaime estava acompanhado pelos bispos auxiliares Dom Adilson Pedro Busin e Dom Aparecido Donizeti de Souza.
Claudir fez um diagnóstico da dura realidade enfrentada pela classe trabalhadora, chamando a atenção dos bispos especialmente para “o desemprego, o projeto da terceirização sem limites e a PEC 241/16, que congela por 20 anos os gastos de saúde, educação e previdência e assistência social”.
O presidente da CUT-RS destacou também as reformas trabalhista e da Previdência Social do governo Temer, que “visam retirar direitos e precarizar o trabalho para aumentar os lucros dos donos do capital”. Ele frisou que a CLT possui mais de 70 anos e foi alterada ao longo do tempo, muitas vezes contra os interesses dos trabalhadores, como a possibilidade do banco de horas.
“O que os empresários vinham reclamando nos últimos anos, de pleno emprego, não era da CLT. Aliás, ela não foi nenhum empecilho. O que eles apontavam era a falta de mão de obra qualificada”, afirmou Claudir.
O processo crescente de exclusão social também foi enfatizado pelo presidente da CUT-RS como uma das preocupações dos trabalhadores. “Aumentou a violência e o tráfico de drogas, que está matando sobretudo jovens da periferia, e cresceu o número de moradores de rua”, apontou.
Maria Helena, Cleonice, Amarildo e Ademir reforçaram os ataques aos trabalhadores, como a idade ventilada pelo governo Temer de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres e o projeto do negociado sobre o legislado, dentre outros. Foi destacada também a manipulação e a falta de espaço ao movimento sindical na mídia tradicional.
Dom Jaime afirmou que “houve uma ruptura e essa mudança preocupa”, salientando que “não temos política de estado” e que a “a crise não é somente ética, política e econômica, mas também antropológica”. Segundo ele, “temos projetos de governo, mas não de nação”. Ele lamentou a falta de avanços na reforma agrária, dentre outras, e lamentou que “quem paga a conta são os pobres”.
O arcebispo se mostrou “muito preocupado com o SUS, a violência e a vulnerabilidade social” e classificou de “absurda” a medida provisória da reforma do ensino médio. “Pensam em formar mão de obra e não cidadania”, disparou ao analisar que a iniciativa do governo Temer “visa a criação de mão de obra para o mundo do trabalho, perdendo o senso de humanidade”.
Para Dom Jaime, “a Igreja sempre estará do lado dos pobres”.
Os bispos auxiliares Dom Adilson e Dom Donizete também fizeram observações ao longo da reunião, expressando igualmente preocupações com as relações de trabalho.
Ao final, o arcebispo anunciou a ampliação dos grupos de fé e política na Arquidiocese para debater os problemas sociais e a conjuntura.
Ademir, que também é diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e da Contraf-CUT, pediu apoio para a greve nacional dos bancários, que está completando 29 dias, sem nova rodada de negociação marcada com a Fenaban para resolver o impasse. “Os bancos não têm crise e lucraram quase R$ 30 bilhões somente no primeiro semestre deste ano, mas não querem repor sequer a inflação do período, ao contrário de acordos fechados com outras categorias”.
Dom Jaime criticou a lucratividade dos bancos e observou que vários setores da economia sofrem com as injustiças. “A ganância do sistema financeiro clama aos céus”, enfatizou o arcebispo.
“Saímos da reunião com a Arquidiocese com a forte impressão de que temos objetivos comuns na defesa dos direitos de quem mais precisa e dos pobres, neste período muito particular da história, onde a ganância das elites parece não ter limites”, avaliou Claudir.
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CUT-RS se reúne com Arquidiocese de Porto Alegre e amplia diálogo na defesa dos direitos dos trabalhadores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU