08 Setembro 2016
No seu estúdio em San Salvador, as cruzes podem ser contadas às centenas, ocupam todos os cantos da sala e enchem, com as suas cores vivas, cada ponto onde o olho repousa. Aqui, no piso superior da congregação luterana La Resurrección, Christian Chavarria Ayala instalou há alguns anos a sua base, onde desenha, esculpe e pinta milhares de cruzes de todos os tamanhos (de poucos centímetros a meio metro) por mês. A sua história é muito bonita e envolvente, e, da sua América Latina à Europa, finalmente o levou a El Salvador.
A reportagem é de Francesco Gagliano, publicada no sítio Il Sismografo, 06-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nestes dias, Chavarria está trabalhando no seu projeto mais importante: a cruz para a oração comum que será realizada por ocasião da Comemoração Ecumênica Conjunta Luterano-Católica no próximo dia 31 de outubro, em Lund, Suécia, para o 500º aniversário da Reforma.
Será um momento de reflexão e de oração, de unidade para além das diferenças; uma mensagem poderosa que será amplificada justamente pela cruz de Chavarria, proveniente de um dos países que, mais do que todos no mundo, sofre com os conflito e as violências internas.
O modo como a sua arte chegou a ser escolhida para esse evento é explicado pela própria biografia de Chavarria: durante a sangrenta guerra civil de El Salvador, ele foi forçado a fugir dos esquadrões da morte; muitas vezes a sua família tinha recebido a visita de soldados em casa, que fazer uma inquisição sobre o motivo daqueles desenhos que retratavam as pombas nas primeiras cruzes produzidas por um jovem Chavarria.
Ele escondeu o verdadeiro motivo – o símbolo de protesto que as pombas brancas na cruz representavam na época em El Salvador – e respondeu que, para ele, representavam o seu desejo de paz para a nação em chamas.
A família de Chavarria conseguiu fugir para Honduras, e de lá a sua mãe conseguiu fazê-lo ser expatriado para a Suécia como refugiado. "Tendo chegado à Europa, senti-me inicialmente perdido e confuso – lembra Chavarria – mas também extremamente feliz por finalmente poder saborear a liberdade."
Na Suécia, primeiro, e, depois, em outros países da Escandinávia, o jovem salvadorenho derramou toda a sua experiência na sua arte de produzir cruzes, mas sem nunca usar temas ou cores sombrias, longe disso: "Eu nunca usei o preto ou o cinza para colorir as minhas cruzes. Sempre preferi cores brilhantes e nunca produzi duas cruzes iguais. Cada uma é única, e os meus desenhos são os típicos salvadorenhos, mas as paisagens e os personagens variam sempre".
Foi na Escandinávia que a carreira artística de Chavarria finalmente alçou voo como as suas pombas. Um dia, ele presenteou uma de suas cruzes a um pastor finlandês e, logo depois, foi contatado pela Igreja da Finlândia para um pedido de 1.000 peças.
Depois de poucas semanas da entrega, uma nova encomenda chegou até ele: 2.000 peças: "Eu não podia acreditar – afirma o ainda incrédulo Chavarria –, trabalhei dia e noite para entregar tudo a tempo".
Depois do fim da permissão de residência na Suécia, Chavarria teve que voltar para El Salvador, mas, no seu relato, foi um retorno desejado: "Fui um refugiado durante grande parte da minha vida. Eu amo o meu país, e ele não merece ser abandonado nas mãos de criminosos e exploradores".
Hoje, ele mora em San Salvador e criou o seu estúdio no andar superior da congregação luterana La Resurrección, que ele mesmo ajudou a reconstruir. Aos domingos, ele toca piano nas funções litúrgicas e, nos fins de semana, é ajudado por sete pessoas para a realização das suas cruzes coloridas. Desse modo, sete famílias são apoiadas pela sua arte.
As suas realizações viajaram pelos quatro cantos do globo e também foram doadas a bispos, políticos e ex-presidentes. O bispo Munib A. Younan, presidente da Federação Luterana Mundial (FLM), doou uma das cruzes salvadorenhos ao Papa Francisco em uma audiência de 2013.
Com tal currículo, pareceria evidente, portanto, o motivo que levou a FLM a pedir que Chavarria idealizasse e realizasse a cruz para a oração comum do dia 31 de outubro próximo na Suécia. Neste momento, foi feita uma série de protótipos com um tema comum, um tema que abrange o desejo de Chavarria.
"A minha pintura é a manifestação da esperança que eu alimento por um mundo diferente, onde o nosso fardo pesado e escuro se torna leve e colorido, variado como a vida que Jesus nos deu com o Seu sacrifício."
E ainda explicou: "Na cruz para Lund, eu gostaria de representar parte dessa minha visão, onde todos os povos da terra estão representados – para além de todas as suas diferenças aparentes de cor, de cultura, de idade – como convidados para a mesa do Senhor, para participar do Seu convite à unidade e ao amor".
Rumo à Suécia: católicos e luteranos entre memória e globalização
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Uma cruz salvadorenha para colorir de esperança a oração ecumênica de Lund - Instituto Humanitas Unisinos - IHU