07 Setembro 2016
Um psiquiatra que leciona e atua nos EUA, Irvin D. Yalom, também se tornou um famoso romancista, inventando histórias sobre a vida de filósofos muito importantes, como Nietzsche e Schopenhauer. Estou acabando de ler um dos seus romances mais recentes (que chegou à Itália na décima edição, pela editora Neri Pozza), Il problema Spinoza, baseado em um arriscado evento paralelo entre a vida e o pensamento do judeu excomungado Spinoza e a do nazista ferozmente antissemita Alfred Rosenberg.
O comentário é de Alberto Leiss, publicada no jornal Il Manifesto, 06-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A circunstância me sugere uma palavra que é um nome próprio, mas também um vocábulo com um significado próprio. É o nome de Spinoza, Bento, na nossa língua. Baruch, para os judeus (com o semelhante Barak para os árabes), Benedictus em latim. No romance, e também – creio – na vida real do filósofo, Spinoza usou essas diversas versões do seu nome (exceto em árabe). Além do anonimato com que foram publicadas algumas de suas obras, como o "Tratado teológico-político", que escandalizou todas as Igrejas e os poderes do tempo.
Como perorava uma ideia liberdade baseada na razão e não em dogmas e preconceitos ou na força do poder, desde o subtítulo (... a liberdade de filosofar não apenas pode ser concedida sem prejuízo da piedade e da paz do Estado, mas também não pode ser negada senão destruindo junto a piedade e a paz do Estado).
As mudanças do nome para Spinoza, judeus português fugitivo na Holanda pela perseguição católica e, depois, banido também da sua sinagoga, falam da impossibilidade para um homem livre de se reconhecer completamente em uma comunidade que se autodefina com normas rígidas, que excluem outras culturas e outras ideias, outras pessoas.
Por outro lado, nesse caso, o significado do nome faz sobressair singularmente a obtusidade dessas culturas: de fato, esse nome, em todas as línguas, e desde os tempos remotos, significa a mesma coisa, a condição de alguém que é "rico em bênçãos divinas". Uma condição de favor religioso, que, literalmente, evoca para nós também a faculdade de usar bem o dizer, as palavras que são pensadas e pronunciadas.
Isso levaria a pensar na possibilidade de se falar, efetivamente, também de comunidades e culturas diferentes. Infelizmente, se, no século XVII, nas décadas anteriores e ainda na época de Spinoza, as guerras religiosas tinham provocado massacres enormes e perseguições no coração da Europa, ainda hoje esse diálogo é difícil, às vezes impossível, e muitas vezes gera violências sem precedentes.
Pensamentos encontrados no domingo, no longo comentário de Luca Ricolfi no jornal Sole24ore ("A globalização em tempos do ‘burquini’") sobre as polêmicas em torno da indumentária de praia de (algumas) mulheres muçulmanas e sobre a pretensão ocidental de normatizar e vetar a coisa em nome da liberdade feminina e dos "nossos valores". Ricolfi aconselha justamente que se reflita sobre a própria história: não há necessidade de voltar aos tempos de Spinoza ou de São Paulo para encontrar usos e costumes não muito diferentes daqueles que hoje condenamos com tanta segurança. A contradição das certezas "iluministas", divididas entre tolerância e relativismo, por um lado, e pretensões normativas universais, por outro, talvez possam ser enfrentadas melhor se pensarmos no fato de que a ideia de liberdade nos nossos dias mudou profundamente em relação à época das "luzes", com cujo nascimento o nosso Baruch certamente contribuiu.
Principalmente porque veio ao mundo uma liberdade feminina que, antes, era desconhecida. Uma liberdade benta, eu diria. Ela tem o favor de certos deuses ou, mais provavelmente, deusas. E nós, homens, ainda devemos aprender a dizê-la bem. Não só se formos muçulmanos praticantes.
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Baruch e as liberdades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU