05 Setembro 2016
Dos que estarão procurando apoiar a continuidade do Papa Francisco numa próxima eleição papal, certamente o cardeal ganense Peter Turkson encontra-se no topo das listas. Há, porém, outros candidatos plausíveis, incluindo um que pode surpreender você.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 02-09-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Não que houvesse mistério algum, mas com certeza quarta-feira confirmou que o Cardeal Peter Turkson, de Gana, faz definitivamente parte do círculo íntimo do Papa Francisco: ele é uma das autoridades eclesiais em quem o papa mais confia no sentido de levar a cabo a sua agenda eclesial.
Na quarta-feira, 31 de agosto, o papa criou um novo departamento vaticano para o desenvolvimento humano, juntando várias agências já existentes, inclusive aquela dedicada à justiça e paz, presidida por Turkson, quem, com apenas 67 anos, continua sendo uma das figuras mais jovens nos níveis mais altos do atual papado.
Francisco é alguém bastante autônomo, muito pouco dependente de seus assessores e conselheiros para se decidir sobre importantes assuntos, muito mais do que a maioria dos líderes de grandes instituições mundiais. Mesmo assim, existem algumas figuras-chave que claramente desfrutam de sua atenção e representam arquitetos de partes importantes da agência pontifícia.
Além de Turkson, algumas destas figuras incluem:
• O cardeal italiano Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano.
• O cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, coordenador do Conselho dos Cardeais.
• O Cardeal Reinhard Marx, de Munique, aliado-chave de Francisco nos dois Sínodos dos Bispos sobre a família e presidente do Conselho para a Economia.
• O Cardeal Luis Antonio Tagle, de Manila, Filipinas, presidente da Caritas.
• Dom Bruno Forte, de Chieti-Vasto, importante fonte teológica para Francisco.
• Dom Nunzio Galantino, secretário da poderosa Conferência Episcopal Italiana.
• Dom Konrad Krajewski, que dirige o departamento de ação social do papa em Roma.
• Dom Víctor Manuel Fernández, nomeado por Francisco como reitor da Universidade Católica da Argentina, e geralmente tido como o seu escritor-fantasma (“ghostwriter”).
• O Cardeal Sean P. O’Malley, de Boston, presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores e uma figura cuja própria personalidade e estilo estão em plena sintonia com a visão que Francisco tem de liderança eclesiástica.
Para os analistas do Vaticano, uma pergunta inevitável neste contexto é: Existe um possível sucessor entre os listados?
Neste exato momento, não há nada que possa indicar algum problema de saúde em se tratando do Papa Francisco, nada que sugira o fim de seu reinado. No entanto, apenas como um exercício de pensamento, por vezes as mesas romanas de jantar ocupam-se com a curiosidade sobre quem pode estar em uma melhor posição para levar em frente o projeto do atual pontífice quando ele próprio não puder mais continuar, ou não estiver mais disposto.
No próximo conclave, a votação quase certamente irá se dividir entre a linha que defende uma continuidade ou uma outra, que defende a descontinuidade, com o papado atual. Isso ocorre em parte porque os conclaves, em certa medida, sempre funcionam como um referendo sobre o papado que então findou, porque Francisco estabeleceu um curso arrojado para a Igreja que vem animando muitos no catolicismo e que vem alarmando tantos outros que podem achar que esta dinâmica represente uma ruptura com o passado.
Aquele grupo que poderíamos chamar de o partido da “descontinuidade” certamente terá seus candidatos, entre os quais alguém como Cardeal Robert Sarah da Guiné, atualmente a principal autoridade litúrgica no Vaticano e um conservador ferrenho em matéria doutrinal, pode muito bem figurar de forma destacada.
A questão é quem pode ser o candidato do partido da continuidade, e há boas chances de que, pelo menos nas primeiras rodadas de votação, uma das figuras listadas acima e associadas com a abordagem de Francisco vá parecer a escolha óbvia.
Com certeza, há um argumento sólido para que esta pessoa seja o cardeal ganense. Ele é poliglota, uma pessoa carismática e que se projeta bem diante das câmeras de TV e, obviamente, com sua eleição haveria uma enorme repercussão em torno da ideia de um “papa negro”.
Além disso, Turkson tem credenciais tanto como bispo local quanto como autoridade vaticana, e seria levado a sério como o tipo de líder cuja experiência o coloca pronto a chefiar a Igreja.
Honestamente, o campo pró-continuidade pode se sentir ainda mais confortável com Parolin, hoje com 61 anos. Parolin é um sujeito italiano extremamente experiente com o funcionamento interno da Secretaria de Estado do Vaticano, alguém que conhece muito bem os meandros do governo local. Ao mesmo tempo, é alguém cuja relação com Francisco não o fez um produto estereotipado do sistema da velha guarda.
Para uns, no caso de Parolin acontece que a eleição de um italiano pode representar um passo para trás, o retorno a uma Igreja dominada por italianos não conscientes o suficiente do resto do mundo.
Ao desmembrar as possibilidades, importa lembrar que uma característica definidora do campo da continuidade é um sentimento de que Francisco representa uma ruptura salutar com os modos do passado, indo para além de uma versão sufocante da tradição que, creem algumas destas pessoas, deixou a Igreja com dificuldades de se adaptar.
Estes sujeitos podem estar predispostos a achar que o protocolo habitual deve ser mantido e que, portanto, um candidato pouco plausível para ser o sucesso de Francisco é este cardeal daqui: Krajewski.
Em princípio, parece uma ideia simplista. Além de não ser cardeal, Krajewski tem apenas 52 anos de idade, e convencionalmente se diz que esta é uma idade muito jovem para se ser eleito papa – no momento da eleição, os dois últimos tinham 78 e 76 anos respectivamente. O atual cargo que Krajewski ocupa também não carrega nenhuma responsabilidade política real, então ele pode não possuir grande importância – aquela que normalmente se busca em um papa.
Por outro lado, a possibilidade de renúncia muda um pouco o cálculo, o que significa que não necessariamente se está restringido escolher um papa para toda a vida. Na qualidade de um alguém que conta com o apreço do Papa Francisco, este prelado obviamente identifica-se com a agenda do presente papado, mas como polonês ele igualmente representa uma forma mais tradicional de vida católica que pode ser reconfortante para alguns conservadores; ele também incorpora o legado S. João Paulo II.
Em outras palavras, depois desta semana que passou duas coisas parecem simultaneamente válidas: uma é que Turkson é um concorrente importante para representar o futuro do projeto de Francisco na próxima vez que a Igreja se ver na necessidade de escolher um papa, e a outra é que ele não é exatamente a única figura de continuidade que o pontífice poderia considerar como estando pronta a seguir em seu caminho.
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Cardeal Turkson: possível sucessor de Francisco, mas não o único - Instituto Humanitas Unisinos - IHU