19 Agosto 2016
O deputado federal Marco Feliciano (PSC), além de ser conhecido por suas posições preconceituosas, foi recentemente acusado de agressão, assédio sexual e tentativa de estupro por uma jovem militante de seu partido. As denúncias feitas pela jornalista Patrícia Lélis, de 22 anos, emergiram há cerca de duas semanas. Para protestar contra a cultura do estupro em geral e esse caso em particular, dezenas de jovens se reuniram na Esquina Democrática, em Porto Alegre, no fim da tarde desta quinta-feira (18).
A reportagem é de Débora Fogliatto, publicada por Sul21, 18-08-2016.
O ato contou com a presença de coletivos e partidos como CSP-Conlutas, Desobedeça LGBT, UJC, PSOL, PSTU, PCB, coletivo classista Ana Montenegro, Comitê das Escolas Independentes, entre outros. As participantes destacaram os diversos tipos de violência que as mulheres sofrem nas variadas esferas, lembrando que a maior parte das agressões ocorrem dentro de casa, perpetuadas pelos maridos, namorados ou familiares. A falta de representatividade feminina na política também foi mencionada, especialmente no Congresso Nacional, onde a bancada evangélica é muito forte e há menos de 10% de parlamentares mulheres.
“Apesar do silêncio da mídia em relação a esse caso, não vamos aceitar um deputado ser acusado de estupro e tudo ficar por isso mesmo”, criticou Bianca Damacena, professora da rede estadual. Logo que o caso emergiu, os grandes jornais foram muito criticados por não terem noticiado as acusações feitas por Patrícia. Na situação, a vítima afirmou também que o PSC ignorou as denúncias feitas por ela e protegeu o deputado. Mais tarde, ela própria foi indiciada pela polícia civil de São Paulo por denunciação caluniosa e extorsão após acusar Talma Bauer, assessor de Feliciano, de sequestro e cárcere privado para que não relatasse o fato. O processo contra o parlamentar corre no Supremo Tribunal Federal (STF) pois ele tem foro privilegiado.
Durante o ato, um grupo de jovens realizou uma intervenção sobre estupro, os julgamentos da sociedade e a possibilidade de mulheres encontrarem forças umas nas outras. A performance começou com cinco meninas, todas vestidas de preto, gritando e tocando seu corpo em sinal de dor, gesticulando como se estivessem afastando alguém, dizendo “para, tira a mão de mim”! Em seguida, elas pararam com as mãos tapando a boca, enquanto outras participantes caminhavam ao redor chamando-as de “vagabundas”, representando a sociedade que culpa as vítimas de estupro.
Ainda durante a performance, com o aumento do tom de voz nos xingamentos, as jovens que representavam as mulheres violentadas caem no chão. Após alguns segundos, começam a levantar, uma a uma, ajudando as outras a fazerem o mesmo e se abraçando. Quando todas estão de pé, chamam também as que estavam fora da roda para darem as mãos e, juntas, gritam pedindo o fim da cultura do estupro e afirmam: “mexeu com uma, mexeu com todas”.
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Mulheres protestam contra Feliciano e pelo fim da cultura do estupro em Porto Alegre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU