08 Agosto 2016
“O mundo tem necessidade de perdão; muitas pessoas vivem fechadas no rancor e incubam ódio”. Em uma visita relâmpago a Assis, a cidade do padroeiro da Itália do qual tomou seu nome – São Francisco de Assis –, o Papa Francisco voltou a fazer, nesta quinta-feira, um forte apelo à misericórdia e recordou que “o perdão de Deus não tem limites”.
Fonte: http://bit.ly/2aLN6QH |
A reportagem é de Elisabetta Piqué e publicada por La Nación, 04-08-2016. A tradução é de André Langer.
O Papa disse essas palavras após rezar em silêncio durante 13 minutos na Porciúncula, a pequena capela que São Francisco restaurou há 800 anos – e que hoje se encontra dentro da Basílica de Santa Maria dos Anjos da cidade da região da Umbria, no centro da Itália. Como fez na semana passada no campo de concentração de Auschwitz, neste lugar o Papa, sentado em uma cadeira, rezou concentrado, em silêncio, ignorando as câmeras e as pessoas presentes.
A história conta que São Francisco de Assis restaurou a Porciúncula após ter tido uma visão mística nas proximidades da igreja de São Damião, onde tinha escutado uma voz que vinha do crucifixo e lhe dizia: “Francisco, Francisco, vai e restaura a minha casa”. O santo dos pobres entendeu então que se tratava da Porciúncula, e a reformou. O lugar converteu-se depois não berço da ordem franciscana e o Papa argentino quis visitá-lo – pela segunda vez em seu pontificado – para recordar os 800 anos do “Perdão de Assis”, isto é, quando o Papa Honório III concedeu, em 1216, a indulgência aos fiéis que visitavam o templo, a pedido de São Francisco. Ainda hoje, todos os anos, do meio-dia de 1º de agosto até a meia-noite de 02 de agosto, os fiéis podem obter ali a indulgência plenária.
Francisco, primeiro Papa que se atreveu a se chamar como o Santo de Assis – filho de um rico mercador que se despojou de tudo para estar do lado dos pobres –, foi do Vaticano para Assis de helicóptero logo depois do meio-dia. A visita, de três horas, foi marcada por medidas de segurança imponentes – devido ao alerta de possíveis atentados de origem extremista – e por temperaturas de mais de 30 graus.
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Após rezar por um longo tempo na Porciúncula, o ex-arcebispo de Buenos Aires pronunciou uma meditação sobre uma passagem do Evangelho de Mateus. A meditação começou com uma citação de uma frase dita por Francisco: “Quero mandar-vos todos para o paraíso”. Francisco explicou depois que o caminho para o paraíso “é certamente o caminho do perdão, que se deve percorrer para conseguir esse lugar no paraíso”. Mas “é difícil perdoar! Quanto nos custa perdoar os outros!”, reconheceu, deixando de lado o texto preparado. “E aqui, na Porciúncula, tudo fala de perdão. Por que devemos perdoar uma pessoa que nos fez mal? Porque nós somos os primeiros a serem perdoados, e infinitamente mais. Assim como Deus nos perdoa, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. Precisamente como dizemos na oração que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso”, indicou.
“Sabemos bem que estamos cheios de defeitos e muitas vezes recaímos nos mesmos pecados. No entanto, Deus não se cansa de nos oferecer o seu perdão, sempre que Lho pedimos. É um perdão completo, total, dando-nos a certeza de que, não obstante podermos voltar a cair nos mesmos pecados, Ele tem piedade de nós e não cessa jamais de nos amar. Deus compadece-Se, isto é, experimenta um sentimento de piedade combinada com ternura: é uma expressão para indicar a sua misericórdia para conosco”, disse. “O perdão de Deus não tem limites; ultrapassa toda a nossa imaginação e alcança toda e qualquer pessoa que, no íntimo do coração, reconheça ter errado e queira voltar para Ele. Deus vê o coração que pede para ser perdoado”, insistiu.
O Papa também disse que o perdão de que falava São Francisco de Assis se fez “carnal” na Porciúncula, “e continua a ‘gerar paraíso’ mesmo depois de oito séculos”. “Neste Ano Santo da Misericórdia, é ainda mais evidente como o caminho do perdão pode renovar verdadeiramente a Igreja e o mundo”, acrescentou.
“Oferecer o testemunho da misericórdia, no mundo atual, é uma tarefa a que nenhum de nós pode subtrair-se. O mundo tem necessidade de perdão; muitas pessoas vivem fechadas no rancor e incubam ódio, porque são incapazes de perdão, arruinando a vida própria e a dos outros, em vez de encontrar a alegria da serenidade e da paz”, afirmou. “Peçamos a São Francisco que interceda por nós, para que nunca renunciemos a ser sinais humildes de perdão e instrumentos de misericórdia”, pediu.
Na sequência, fora do programa, exortou os bispos e presbíteros presentes na basílica para irem a dois confessionários para se colocarem à disposição do Sacramento da Reconciliação, do perdão. Dando o exemplo, ele mesmo ficou em um confessionário durante uma hora, confessando 19 pessoas: um frade franciscano, dois padres, quatro escoteiros, umas senhora em cadeira de rodas e 11 voluntários do serviço da basílica.
Após saudar alguns religiosos doentes, antes de voltar de helicóptero ao Vaticano, diante da multidão reunida na frente da Basílica, que o aplaudia, o Papa voltou a reiterar a mesma mensagem: “Não se esqueçam, devemos perdoar sempre... Perdoar de coração... Se nós sabemos perdoar, o Senhor nos perdoa. Todos temos necessidade de sermos perdoados”. “Há alguém entre vocês que não necessita ser perdoado? Que levante a mão”, brincou. “Todos temos necessidade”, disse uma vez mais, despedindo-se, finalmente, com seu clássico “por favor, não se esqueçam de rezar por mim”.
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“O mundo tem necessidade de perdão”, disse o Papa Francisco em Assis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU