05 Julho 2016
No último dia 29-06-2016, as Avós da Praça de Maio anunciaram a recuperação de mais um neto retirado de sua família durante a última ditadura militar argentina (1976-1983). Trata-se do 120º neto encontrado pela organização.
José Luis Maulín Pratto, 39 anos, conhece sua verdadeira identidade desde 2009, quando exames de DNA atestaram que ele era o filho desaparecido de um casal preso em 1976 pelos militares. Ele busca agora na Justiça o direito de usar o sobrenome de seus pais biológicos, Rubén Maulín e Luisa Pratto.
Foto: Avós da Praça de Maio |
Identidade roubada
Para efeitos legais, ele ainda é José Luis Segretín – o sobrenome do casal a quem ele foi entregue: José Angel Segretín, já falecido, e Cecilia Góngora, que, embora fossem civis, tinham vinculação com a Aeronáutica. Obrigado a ser quem não é, José Luis lamentou a própria história e o fato de “portar uma identidade que não é a minha e ser vítima de um delito que aconteceu há 38 anos, mas que se repete a cada dia”.
O caso foi revelado apenas agora por conta de um julgamento, iniciado em junho de 2016, que tem como rés Cecilia Góngora e Elsa Nasatsky de Martino – a médica que falsificou a documentação do parto, afirmando que Cecilia, e não a mãe biológica de José Luis, havia entrado no hospital e dado à luz.
Caso diferente
A líder das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, disse que se trata de um caso diferente da maioria. O pai de José Luis, Rubén Maulín, era militante do Partido Revolucionário dos Trabalhadores – PRT e foi preso. Sua mãe, Luisa Pratto, que estava grávida no momento dessa prisão, foi mantida em cárcere privado, tendo sido torturada e estuprada. Ela deu à luz em um hospital privado – e não na prisão, como muitas mulheres presas pelo regime militar. Carlotto destacou que José Luis “é uma vítima do terrorismo de Estado” que se instalou na Argentina à época.
Memória, verdade e justiça
A organização das Avós da Praça de Maio surgiu em 1977, quando mulheres com filhos desaparecidos passaram a marchar nessa praça para denunciar o regime militar e dar visibilidade para a situação das vítimas. Parte delas passou a se dedicar a encontrar os filhos das mulheres que estavam grávidas quando foram presas.
Nos governos de Néstor Kirchner (2003-2007) e de Cristina Férnandez de Kirchner (2007-2015), as Avós e as Mães da Praça de Maio receberam apoio oficial, e seu lema de “memória, verdade e justiça” se tornou política de Estado. Foi nesse período que se consolidou o processo de responsabilização judicial dos que perpetraram crimes na época da ditadura.
Em relação à transição para o governo de Mauricio Macri, Estela de Carlotto afirmou, em abril: “tivemos diálogo com todos os governos constitucionais, e vamos pedir ao atual que cumpra com as obrigações que tem o Estado de manter o trabalho institucional para continuar encontrando as centenas de netos que ainda falta encontrar”. Estima-se em 500 o total de bebês retirados de suas famílias durante a ditadura.
Por João Flores da Cunha / IHU – Com agências
Nota da IHU On-Line: Veja abaixo o vídeo em espanhol.
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“Um delito que se repete a cada dia”: Avós da Praça de Maio anunciam a recuperação do neto 120 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU