14 Junho 2016
O Concílio de Creta, agendado para os dias 19 a 26 de junho, se for realizado nas datas previstas – e estabelecidas por decisão unânime de todos –, contará com a participação de 10 das 14 Igrejas ortodoxas. Não participará a Igreja Russa, com o Patriarca de Moscou, Kirill, que, sozinho, tem jurisdição sobre mais da metade dos cristãos da Ortodoxia.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 13-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O anúncio chegou na noite de segunda-feira, 13 de junho, de Moscou. O Sínodo Extraordinário da Igreja Ortodoxa Russa se reuniu e decidiu o que fazer depois das deserções dos últimos dias, aderindo ao pedido de adiamento já apresentado por outros. Na falta desse adiamento, os russos não participarão do Concílio.
"Todas as Igrejas devem participar do Concílio pan-ortodoxo – declarou o Metropolita Hilarion Alfeyev, chefe do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado Russo –, e só nesse caso as decisões tomadas pelo Concílio serão legitimadas". O metropolita, no entanto, tentou minimizar as dificuldades: "A situação não é catastrófica, é uma situação regular".
Sabia-se que a tendência da Igreja de Moscou era essa, isto é, o pedido de adiar o Concílio, o primeiro de todas as Igrejas ortodoxas depois de mais de mil anos, em preparação há mais de 50 anos. O metropolita Hilarion, ainda no domingo, 12 de junho, depois da liturgia, tinha dito que "é melhor adiar" o encontro, em vez de "fazer as coisas às pressas".
"Durante 55 anos de preparação do Concílio pan-ortodoxo, falamos do fato de que ele deve ser um fator de unidade da Igreja e, em todo o caso, não deveria causar divisões", salientou Hilarion. "Se considerarmos que a preparação não está completa e que alguns problemas ainda não foram esclarecidos, é melhor adiar esse Concílio do que fazer as coisas às pressas e, em particular, sem a participação de inúmeras Igrejas locais. Não pode haver um Concílio pan-ortodoxo se uma ou outra Igreja local não participar", alertou também.
A primeira deserção do Concílio foi anunciada pela Igreja búlgara, à qual se uniram também a sérvia – que depois voltou – e o Patriarcado de Antioquia, este último por causa de uma antiga questão que o divide do Patriarcado de Jerusalém por causa da jurisdição territorial sobre o Qatar. A Igreja georgiana falou de "obstáculos" para a sua participação, enquanto também é conhecida a contrariedade dos monges do Monte Athos.
Os maus humores se concentraram sobre os textos de alguns documentos que o Concílio deverá discutir e promulgar, incluindo um relativo à relação dos ortodoxos com as outras confissões cristãs. Os críticos pedem modificações e o adiamento do próprio Concílio, hipótese que contou com a oposição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, responsável pela organização do evento em Creta.
As deserções foram uma surpresa, já que, como é de costume nas Igrejas ortodoxas, todas as decisões sobre o Concílio, as datas, as modalidades de realização e aos textos a serem discutidos sempre foram tomadas por unanimidade pelos líderes ou pelos representantes das Igrejas.
Por que o calendário foi, primeiro, aprovado por todos e, depois, posto em discussão? A que se devem, então, os repensamentos, que contribuíram para mostrar ao mundo um rosto da Ortodoxia como uma realidade muito dividida internamente? Não se exclui que precisamente o Patriarcado de Moscou pode ter desempenhado um papel significativo.
A Igreja numérica, econômica e estruturalmente mais forte também tem uma forte caracterização nacional e um vínculo de ferro com a presidência russa. O mesmo pode ser dito sobre outras Igrejas, que agora estão em dúvida sobre a participação, que ainda mantêm ligações sólidas com a Igreja russa.
Não está descartado que, em Moscou, não se quis dar muita importância ao papel de Bartolomeu, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, que detém um primado de honra sobre toda a Ortodoxia, mas que é numericamente fraco e, principalmente, vive em uma realidade de cristianismo minoritário no maior país islâmico que hoje é a Turquia.
No entanto, justamente nessa fraqueza, está a força do Patriarcado de Constantinopla, que, com figuras luminosas, como Atenágoras nos anos 1950 e 1960, deu um impulso extraordinário ao caminho ecumênico dos cristãos, herança continuada hoje por Bartolomeu, sob cuja orientação o patriarcado soube falar ao mundo e assumir um papel de autoridade moral reconhecido.
Domingo, Hilarion também dissera que a decisão russa era "muito importante, e dela vai depender em grande parte o destino da Igreja Ortodoxa: ou viveremos em paz e concórdia com as outras Igrejas locais, ou viveremos em conflitos, disputas e discussões".
"Sabemos que, na história da Igreja, o Espírito Santo sempre agiu e vai agir – concluiu –, e acreditamos que o Espírito Santo vai nos indicar a decisão certa."
No fim, a decisão foi pelo não. Venceram os conflitos, as disputas e os repensamentos. Enquanto Bartolomeu desejava que todas as dúvidas, os contrastes e as discussões fossem trazidos para o debate conciliar.
Será preciso esperar pelos desdobramentos para saber o que vai acontecer agora. De Constantinopla, comunicam que o encontro do dia 19 de junho, em Creta, permanece fixo: sendo um encontro estabelecido por todos, não pode ser apenas o Patriarca Bartolomeu que decide o seu adiamento.
Será um início de discussão e de trabalho, o início de um processo e de um longo caminho, com a esperança de que as Igrejas decididas hoje a não participar dele possam, no futuro, rever as suas posições.
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Igreja Ortodoxa Russa pede para que Concílio de Creta seja adiado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU