23 Mai 2016
O líder radical e o protagonista dos direitos civis na Itália, Marco Pannella, escreveu ao Papa Francisco no dia 22 de abril passado. Restava-lhe menos de um mês de vida. Na sua casa, perto da Fontana de Trevi, ele tinha acompanhado pela televisão, alguns dias antes, a visita do papa a Lesbos e os seus encontros com os refugiados acolhidos na ilha grega. No fim da carta, um pós-escrito: "Tomei nas mãos a cruz que Dom Romero portava e não consigo me separar dela".
A reportagem é de Roberto Zichittella Robzik, publicada na revista Famiglia Cristiana, 20-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Caro Papa Francisco, te escrevo do meu quarto no último andar – perto do céu – para te dizer que, na realidade, eu estava perto de ti em Lesbos, quando abraçavas a carne martirizada daquelas mulheres, daquelas crianças e daqueles homens que ninguém quer acolher na Europa. Esse é o evangelho que eu amo e que quero continuar a viver ao lado dos últimos, aqueles que todos descartam".
Essas são as primeiras linhas da carta que Marco Pannella escreveu ao Papa Francisco no dia 22 de abril. Restava a Pannella menos de um mês de vida. Na sua casa, perto da Fontana de Trevi, o velho e doente líder radical tinha acompanhado pela televisão, alguns dias antes, a visita do papa a Lesbos e os seus encontros com os refugiados acolhidos na ilha grega. Ele tinha ficado impressionado. Tinha-se comovido.
Refletiu a respeito por alguns dias e depois decidiu escrever para Francisco. A carta está escrita à mão, com uma caneta azul, com linhas ligeiramente inclinadas para cima, à direita. No fim, as saudações estão escritas em letras maiúsculas: TI VOGLIO BENE DAVVERO TUO MARCO [Gosto muito de ti, de verdade, teu Marco].
No fim da página, sobre um pouco de espaço para um pós-escrito: "Tomei nas mãos a cruz que Dom Romero portava e não consigo me separar dela". A cruz de Romero, hoje, é trazida ao redor do pescoço por Dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família. Foi ele que explicou para Pannella a origem daquela cruz. "Marco me pediu para usá-la. Não queria mais se separar dela. E, no fim, antes de ir embora, quando eu a peguei de volta, dentro de mim, eu senti um pouco de remorso por tê-la tirado dele".
A carta de Pannella foi levada ao papa por Dom Paglia. No dia 2 de maio, dia do aniversário de Pannella, Francisco lhe enviou de presente o seu livro sobre a misericórdia e uma medalha.
Paglia conhecia e convivia com Pannella desde o início dos anos 1990. Nas últimas semanas, eles se viram com mais frequência. "Em março, eu estava na Casa del Divin Maestro de Ariccia com o papa e com os outros prelados da Cúria durante os exercícios espirituais da Quaresma", conta Paglia, "quando recebi um telefonema de Pannella. Ele queria me ver. Eu informei ao papa, e ele me disse: 'Vá correndo'."
Continua Dom Paglia: "Eu peguei o carro e fui ao encontro dele. Ele estava na cama, um pouco entristecido. Nós nos abraçamos e depois começamos uma das nossas longuíssimas conversas".
Poucos dias atrás, o último telefonema, mas Pannella, agora tomado pelas dores, não podia mais responder. "Enquanto eu falava com Matteo Angioli, eu ouvia os lamentos dele no fundo", diz Paglia. "O meu amigo Marco já tinha acabado de combater a sua batalha."
Eis a carta.
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"O teu Evangelho, o dos últimos, é o que eu amo": a mensagem de um radical ao papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU