04 Abril 2016
"Esta prática precisa ser classificada como um crime especista e deve ser condenada pelas leis internacionais contra o ecocídio", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 01-04-2016.
Eis o artigo.
“Os animais são seres sencientes, que tem um direito natural de não sofrer”
(Matthieu Ricard, monge budista tibetano)
“Tornei-me vizinho dos pássaros, não por ter aprisionado um,
mas por ter me engaiolado perto deles”
(Henry Thoreau)
“Quando meus olhos estão sujos da civilização,
cresce por dentro deles um desejo de árvores e pássaros”
(Manoel de Barros)
Mais uma espécie está em vias de extinção. Um dos últimos quatro rinocerontes-brancos do norte morreu em novembro de 2015, em um zoológico em San Diego, nos EUA. A fêmea de 41 anos, chamada Nola, foi sacrificada pelos veterinários devido à deterioração do seu estado de saúde após uma cirurgia. Os três espécimes restantes, todos em idade avançada, vivem vigiados em uma reserva ambiental em Ol Pejeta, no Quênia. Eles são a última esperança de reprodução natural da espécie, mas pesquisadores também trabalham em programas de inseminação artificial, que não foram bem sucedidas até então.
Em dezembro de 2014, Angalifu, um macho que vivia com Nola, morreu de câncer. Em julho deste ano, Nabiré, uma fêmea de 31 anos que estava no zoológico de Dvr Králové, na República Tcheca, também morreu. Em liberdade, os rinocerontes-brancos do norte foram caçados até a extinção, em 2008, por causa do alto valor do seu chifre em mercados da península arábica e do leste asiático (O Globo, 2015).
Os rinocerontes vivem na Terra há milhões de anos e sobreviveram à diferentes eras glaciais. Porém, não estão conseguindo sobreviver à era do dinheiro, pois estão sendo mortos para viabilizar o sonho de noites selvagens de paixão e sexo da elite humana, sem compaixão, são abatidos covardemente todos os anos para alimentar o comércio apenas do chifre, cujo preço no mercado negro vale mais que o ouro, chegando a 50.000 euros por quilo. Os criminosos cortam os chifres dos animais e vendem como remédio para diversos tipos de doença ou como porções afrodisíacas na China e no Sudeste Asiático.
Esta prática precisa ser classificada como um crime especista e deve ser condenada pelas leis internacionais contra o ecocídio. Infelizmente os rinocerontes-brancos do norte caminham para a extinção. É mais uma espécie que se vai. No máximo podemos evitar que o mesmo aconteça com outras espécies que estão ameaçadas, inclusive os rinocerontes negros.
Mas dificilmente evitaremos o holocausto biológico se o modelo de desenvolvimento baseado na ampliação do consumo, na extração ilimitada dos recursos naturais e na ampliação da áreas ecúmenas não for revertido. Só com o decrescimento das atividades antrópicas e a ampliação da áreas anecúmenas poderemos evitar a sexta extinção em massa dos seres vivos da Terra.
Referências:
ALVES, JED. Demografia, Democracia e Direitos Humanos, Texto Discussão n. 18, ENCE/IBGE, RJ, 2005
ALVES, JED. Redução da biodiversidade ou das atividades antropogênicas? Ecodebate, RJ,21/05/2010
ALVES, JED. Direitos Humanos, Direitos da Terra e Direitos da Biodiversidade. Ecodebate, RJ,12/01/2011
ALVES, JED. “Troque seu cachorro por uma criança pobre” . Ecodebate, RJ,06/09/2011
ALVES, JED. Classismo, sexismo, escravismo, racismo, xenofobismo, homofobismo e especísmo, Geledes, 28/12/11
ALVES, JED. Especismo e as desigualdades entre espécies. Ecodebate, Rio de Janeiro, 14/03/2012
ALVES, JED. Do antropocentrismo ao mundo ecocêntrico. Ecodebate, Rio de Janeiro, 13/06/2012
ALVES, JED. Morre o Solitário George: desaparece mais uma espécie em Galápagos. Ecodebate, Rio de Janeiro, 29/06/2012
ALVES, JED. Erradicar o Ecocídio. Ecodebate, Rio de Janeiro, 31/10/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: 100 milhões de tubarões mortos por ano. Ecodebate, RJ, 07/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o massacre de elefantes e o comércio de marfim. Ecodebate, RJ, 21/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a ameaça de extinção dos rinocerontes. Ecodebate, RJ,28/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a destruição da Amazônia. Ecodebate, RJ, 01/02/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: Gorilas ameaçados de extinção. Ecodebate, RJ, 10/04/2013
ALVES, JED. Por um mundo mais selvagem! Ecodebate, RJ, 14/08/2013
ALVES, JED. Especísmo e ecocídio: o sumiço das abelhas. Ecodebate, Rio de Janeiro, 18/09/2013
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ALVES, JED. Direitos Humanos e Direitos da Natureza. Ecodebate, Rio de Janeiro, 06/12/2013
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ALVES, JED. Especísmo e ecocídio: a extinção dos Guepardos. Ecodebate, Rio de Janeiro, 22/08/2014
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ALVES, JED. Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo. Ecodebate, Rio de Janeiro, 03/12/2014
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ALVES, JED. Especismo, Ecocídio e a degradação da Grande Barreira de Corais. Ecodebate, RJ, 15/05/2015
ALVES, JED. Dia Mundial pelo fim do Especismo: 22 de agosto. Ecodebate, RJ, 19/08/2015
ALVES, JED. Abolicionismo animal. Ecodebate, RJ, 06/11/2015
O GLOBO. Morte de rinoceronte-branco do norte deixa espécie à beira da extinção, RJ, 23/11/2015
BERREDO, Miguel. Direito dos animais: “eles têm a qualidade idêntica aos homens”, entrevista com Matthieu Ricard, monge budista tibetano, 3/11/2013
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Especismo e ecocidio: restam 3 rinocerontes brancos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU