05 Fevereiro 2016
Sempre quando se menciona a exploração de fontes não convencionais de óleo e gás surgem críticas a respeito dos riscos e dos impactos ambientais. O fracking, por exemplo, processo desenvolvido para a extração de combustíveis de rochas em grandes profundidades, é pouco compreendido e muito odiado.
Nos Estados Unidos, a técnica está sendo amplamente utilizada e o governo americano já realizou um estudo de cinco anos com a Agência de Proteção Ambiental para tranquilizar a população. Lá, a fonte é vista como o mal menor, uma alternativa para emitir menos carbono do que com a queima de carvão enquanto se prepara a transição para as fontes renováveis (principalmente eólica e solar).
A entrevista foi publicada por Jornal GGN, 05-02-2016.
Outros países, como Canadá, Argentina e Austrália também aderiram. No Brasil, pressionado por ONGs e agências ambientais, o Ministério Público proibiu a exploração de fontes não convencionais. O medo é que os componentes químicos utilizados para impedir o entupimento dos poços possam atingir e contaminar o solo ou os lençóis freáticos.
Especialistas concordam que o risco existe, mas é muito pequeno. E entendem que a discussão ganhou uma dimensão muito mais política do que científica. Para eles, a questão do que fazer com os refugos dessa exploração é muito mais preocupante. E, mesmo assim, já existem estudos para fazer a reutilização e descarte de forma apropriada.
O Jornal GGN conversou sobre o assunto com o professor Edmar de Almeida, membro do Grupo de Economia da Energia (GEE) do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele explicou algumas das características técnicas da exploração de fontes não convencionais, bem como questões econômicas e ambientais.
Eis a entrevista.
Quais são as características das reservas de shale gas? Como são esses campos?
Na verdade, quando você fala em reserva de shale gas, nós estamos falando dos não convencionais. O termo ‘não convencional’ é utilizado para dois tipos de coisa. Uma é um reservatório não convencional, que é onde fica o óleo e o gás. A outra coisa é o tipo de óleo que pode ser não convencional.
O que teve um grande desenvolvimento nos últimos dez anos foi a produção de óleo e gás nos reservatórios não convencionais. O que são os reservatórios não convencionais? São formações que ficam mais profundas, na rocha geradora.
A rocha geradora é aquela que produziu o óleo gás. Normalmente, após milhões de anos que o óleo gás foi produzido, ele migra para a rocha reservatória. A rocha reservatória é a rocha que tem uma grande quantidade de óleo gás, a rocha convencional.
Mas a rocha onde o petróleo foi gerado, parte do óleo acaba ficando presa lá.
Ela é mais profunda, então?
Normalmente é mais profunda. Em alguns casos, pode acontecer movimentações de camadas rochosas e ela pode vir para mais perto da superfície. Mas normalmente ela é mais profunda. Ela é mais antiga e por ser mais antiga ela é mais profunda.
Os campos, então, são os mesmos que já possuíam o óleo gás convencional acima?
Isso. As áreas que têm não convencional normalmente têm convencional também. Ou já tiveram.
Então, a característica desse reservatório não convencional é uma pedra muito dura que aprisionou o óleo gás.
E aí se desenvolveu essa técnica para fazer microfissuras nessa pedra e conseguir extrair esse combustível?
É. Essa técnica começou pelo gás natural. Porque o gás natural sai mais facilmente do que o óleo. Mas agora, nos Estados Unidos, eles estão entrando nessa área de petróleo.
Como funciona essa extração?
Basicamente, você vai furar o poço até chegar ao reservatório não convencional, mais profundo, e ali você vai fazer um poço horizontal. O poço horizontal é uma técnica antiga, que foi utilizada inicialmente no offshore, mas que agora está sendo utilizada para produzir o não convencional.
Na verdade, a produtividade do poço depende da extensão que está em contato com a rocha não convencional. Então, quando você faz o não convencional, você segue essa rocha. Nós estamos falando de uma rocha que tem o formato de uma lasanha, uma camada da lasanha, ela é fina. Então, estamos falando de 50 metros. Você chega nela e o posso horizontal vai seguindo ela, em uma extensão que pode chegar a dois quilômetros, por exemplo.
É como se fosse uma mina, tem gente trabalhando no subsolo, ou é um processo automatizado por perfuração?
Não. Entra uma sonda no poço, uma sonda de perfuração que chega até a rocha. E depois por controle remoto eles conseguem fazer com que o poço gire e ao invés de ficar vertical, ele fica horizontal e vai seguindo - porque você tem toda a informação geológica - aquela camada que tem mais óleo e gás.
E aí tem um processo hidráulico para jogar esse óleo ou gás para cima?
Na verdade, o que ele vai fazer é quebrar e criar um caminho para esse óleo e gás sair. O que a gente chama de criar uma permeabilidade artificial.
Na rocha convencional não precisa fazer isso. Porque o óleo está acumulado em grande quantidade e a rocha é como se fosse uma esponja em alta pressão. Então, furou, já vai querer sair o óleo e o gás.
Nessa aí quando você fura não acontece nada. Para criar essa permeabilidade artificial, você vai injetar água misturada com areia e produtos químicos. Essa água vai ser injetada em alta pressão e ela vai buscando a parte do folhelho, que é o nome dessa rocha, que tem fissuras.
Essa rocha do não convencional normalmente é um folhelho. Imagine que fosse uma massa folheada, uma torta. Tem camadas entre elas, como se fosse várias folhas empilhadas. Naquela fresta entre uma e outra a água em alta pressão vai entrando. E aí, como ela está levando aquela areia, ela vai abrindo a pedra e não deixa ela fechar de novo.
Aí, quando você consegue abrir a rocha, a própria pressão do óleo e gás vai expulsar a água de volta e começa a jorrar o óleo e o gás.
Que componentes químicos estão presentes nessa água com areia?
Veja bem, cada tipo de rocha tem uma característica química. E os objetivos desses componentes químicos são vários.
Por exemplo, é evitar que você entupa as frestas. Então, você coloca ali componentes químicos que reagindo com o óleo gás, vai evitar que forme, por exemplo, sais, que forme produtos que podem prejudicar o funcionamento do poço, que entupiria o poço.
Grande parte do que você injeta é água com areia. Inclusive vinda do Brasil. O Brasil exporta areia para lá, porque tem que ser uma areia que tem um grão redondinho, com certa característica.
Exporta para os Estados Unidos?
É.
Eles são os únicos que estão explorando reservas desse tipo?
Hoje você tem basicamente Estados Unidos, Canadá, Argentina e Austrália.
Onde está o risco de contaminação? Na possibilidade atingir um lençol freático?
A questão principal sobre contaminação é a seguinte: há uma grande sensibilidade ambiental no mundo hoje em relação a essa tecnologia. Mas em minha opinião, ela é muito menos perigosa do que várias outras tecnologias energéticas que estão sendo utilizadas.
Por exemplo?
Exploração offshore, tem um risco muito grande de derramamento no mar, com impactos terríveis. Energia nuclear, que é muito perigoso. Os próprios biocombustíveis têm um impacto terrível. Porque ao produzir o biocombustível você pode ter o problema de fertilizantes acabarem contaminando os rios, o próprio subsolo através de penetração no lençol frático. Então, quase todas fontes energéticas têm impacto ambiental. Em minha opinião, o impacto ambiental dos não convencionais é potencialmente menos danoso.
Por quê?
Vamos lá. Nos não convencionais o primeiro impacto ambiental é na contaminação do lençol freático. Normalmente contaminação no lençol freático existe não porque lá na fissura aquela água com componentes químicos vai sair de lá e contaminar o lençol freático.
Isso é praticamente impossível. Porque nós estamos falando de um poço onde o faturamento está acontecendo em rochas que são mais duras do que mármore - o tijolo da sua casa é muito mais mole do que essa rocha - e o faturamento está acontecendo a mil metros, dois mil metros do lençol freático. Então, é muito difícil que haja uma migração pela rocha até chegar ao lençol freático. Se isso acontecer, são casos isoladíssimos.
O risco maior de contaminação do lençol freático é o próprio poço, ou seja, o óleo ou gás vazar do poço para o lençol freático. Esse risco existe. Mas qual é a questão? Esse risco existe no poço convencional também. Tanto o poço convencional quanto o não convencional atravessam o lençol freático.
Então, esse temor de contaminação de lençol freático não está muito correto. Você não poderia ficar só com medo do não convencional, teria que ficar com medo do convencional também.
E tem maneiras de mitigar, assim como no poço convencional, esse risco?
O risco é o poço mal feito. O poço mal feito é um risco muito grande. E aí você tem tecnologia, tem que fiscalizar e tem que ser uma empresa idônea do ponto de vista tecnológico. Ela não estar fazendo coisas sem cumprir as normas técnicas.
Nos Estados Unidos, teve problemas em relação a isso de poços mal feitos, de vazamento e contaminação por poço porque lá você tem cerca de oito a dez mil empresas de petróleo. É muita empresinha pequena, difícil de fiscalizar. Aqui no Brasil são 80 empresas, sendo que operadoras são 20 e poucas.
Então, essa é uma questão que é importante desmistificar.
Qual é a reivindicação das agências ambientais, nos Estados Unidos, por exemplo?
Nos Estados Unidos... vamos falar da contaminação da água. Qual é o grande problema da contaminação da água? É que quando já está contaminado você tem que provar que a contaminação foi feita por causa do poço.
Porque em alguns casos você tem uma contaminação do lençol freático naturalmente. Por exemplo, aqui em Minas Gerais você tem inúmeros casos verificados de surgimento de gás na superfície. E você observa vazamentos de gás na superfície, por exemplo, nas lagoas, no Rio São Francisco.
E esse é um processo natural? Não é causado pelo homem? Não tem nada a ver com as atividades de mineração, por exemplo?
Não. É natural. No Rio São Francisco, em lagoas na Chapada de Parecis. É um processo que acontece, o óleo e gás está constantemente encontrando caminhos para chegar à superfície. Se ele chega à superfície, ele atravessou o lençol freático. Então, existe uma contaminação do lençol freático que é natural.
Nos Estados Unidos surgiu muita gente preocupada verificando que a água da torneira pegava fogo etc. Mas as empresas falavam que não era culpa delas. Então, nos últimos cinco anos o EPA (Environmental Protection Agency) criou um programa para monitoramento de poço.
É um programa que eles iam lá e coletavam água antes da perfuração de poço e coletava depois que estava produzindo e fazia análise para verificar a contaminação. E eles fizeram isso para milhares de poços. É um estudo oficial do governo americano sobre o tema específico de contaminação de água.
E qual foi a conclusão do estudo?
A conclusão é que o risco existe, mas é pequeno, foram casos isolados e em geral isso tem a ver com questões de empresas que não cumpriram os padrões técnicos.
Então a militância é mais para que haja uma fiscalização adequada do que para que se abandone a exploração?
Não. Aí tem de tudo. Tem muitas questões políticas por trás disso.
Então, você tem o Greenpeace e várias agências ambientalistas que têm uma agenda de política energética mais radical, que querem acabar com os hidrocarbonetos, que é fazer uma transição mais radical para o mundo sem CO2.
Obviamente que eles não têm interesse político no não convencional. Porque o não convencional aumenta a fronteira exploratória do país e do mundo. Então há uma verdadeira guerra do ponto de vista político e energético.
Algumas apresentações são quase panfletagem. Tem acusações sem nenhum tipo de fundamentação científica. E quando você vê estudos tem de todos os lados. Virou uma coisa muito politizada.
E do ponto de vista econômico, a exploração dessas reservas é estratégica, para os Estados Unidos, por exemplo, para não ficar refém da oferta de petróleo da Arábia Saudita?
Absolutamente. É.
Então, o governo americano tomou a decisão de promover os não convencionais como o mal menor. O gás seria a energia que vai dar tempo para fazer uma transição ordenada para as fontes energéticas de baixo carbono, que é solar e eólica.
A expansão dessas outras fontes é muito rápida. Mas essa transição é um processo de décadas e tem muitos problemas para serem resolvidos. Problema do backup, de você garantir energia a todo momento porque elas são fontes intermitentes, enfim.
Tem a questão do custo. Vários países não têm como fazer esse investimento.
O custo é muito mais alto?
O custo é muito alto para fazer uma transição energética. Um país africano hoje está lá com carros a gasolina e diesel, o gerador do cara é a gasolina e diesel. E toda a infraestrutura está instalada.
Você vai falar assim: agora troca isso aí, vamos fazer energia renovável. Tudo bem. Mas vai demorar 50 anos. Eles não têm recursos para fazer isso. Não é só da competitividade que nós estamos falando, mas do volume de investimento para fazer essa transição. E o país em desenvolvimento não tem recurso fazer isso.
Mas mesmo para um país desenvolvido tem mais sentido continuar a explorar essas reservas enquanto se faz essa transição?
É óbvio que tudo tem a geopolítica e a política econômica por trás, é óbvio que tem lobby das empresas de petróleo para produzir gás. É um business.
Mas de toda maneira, do ponto de vista da política energética americana, é muito melhor ter gás nesse momento do que queimar carvão. Então, o que eles estão fazendo é desativar as térmicas de carvão, que representam 25% da matriz deles e o gás também 25%. Ou seja, trocar carvão pelo gás é um ótimo negócio.
O carvão mais poluente tanto na exploração quanto na queima?
Principalmente na queima, nas emissões de CO2.
Então, o problema da contaminação dos aquíferos é um debate extremamente desqualificado. Os Estados Unidos fizeram esse estudo que é de referência mundial.
E essa tecnologia para o fracking está dominada?
A tecnologia está dominada. Absolutamente. Mas a questão que é importante a gente saber é a seguinte: não é pegar a tecnologia, chegar aqui na rocha brasileira, fraturar e vai sair o óleo. Não. Porque a maneira de fraturar o subsolo depende das características geológicas.
Tem muita ciência ali para fazer com que o faturamento funcione. Não é só fraturar. É como fraturar, em que local da rocha fraturar, que tipo de produto químico vai misturar na areia, qual a quantidade de areia que vai colocar.
Ou seja, são muitos detalhes, tem uma ciência aí por trás. Para aprender a fazer o faturamento funcionar, você tem que fazer muito poço antes. É meio que por tentativa e erro.
Então, é um processo muito diferente para os Estados Unidos e para Argentina? Para falar de dois países que já estão fazendo.
Muito diferente. Exatamente.
E mesmo dentro dos Estados Unidos. Tem regiões nos Estados Unidos que funciona e outras não. Muita gente perde dinheiro nesse processo, muita gente faz e acaba dando errado.
E isso funciona bem nos Estados Unidos porque são dez mil empresas fazendo uma corrida pelo ouro negro. Então, tem uma concorrência. Muita gente tentando. E eles vão aprendendo.
Para a Petrobras, por exemplo, é muito complicado fazer isso. Eles não vão ficar fazendo na doideira, eles precisam acertar. Então, as empresas de petróleo grandes são muito conservadoras nesse processo.
Isso faz com que seja mais difícil o não convencional dar certo em países onde você tem um setor muito concentrado como é o caso do Brasil.
E o pré-sal?
O pré-sal é outra coisa. A tecnologia é muito diferente, não é uma tecnologia de tentativa e erro. Você não pode errar no pré-sal.
Um poço de não convencional vai custar US$ 5 milhões. No pré-sal um poço vai custar US$ 100 milhões. Essa é a ordem de grandeza.
Então, eu acho que o Brasil está muito longe de conseguir produzir não convencional em larga escala.
E tem essa necessidade?
Tem. Porque nós importamos muito gás. E o nosso gás é um dos mais caros do mundo. Então, a gente pode até não querer ir por esse caminho. Mas o custo disso para a gente é continuar importando GNL [Gás Natural Liquefeito] e tendo um gás muito caro.
Gás você tem que produzir em áreas onshore. Não trazer o gás natural lá de 200 km da costa.
O gás também tem cotação internacional?
Tem, mas não é igual ao petróleo. Tem vários preços. E o Brasil importa muito caro.
E quanto é o break even na exploração do shale gas? Qual é o preço mínimo de venda para que o negócio se pague?
No Estados Unidos eles estão vendendo gás a US$ 2 por milhão de BTU [Unidade Térmica Britânica] e as empresas, é óbvio que tem muita gente com problemas financeiros, mas elas estão produzindo e estão vendendo. No Brasil, nós estamos pagando US$ 8 no gás.
Há quem preveja um risco de quebradeira no setor, de várias empresas fecharem as portas. Esse risco existe mesmo?
Existe. Na verdade, o que acontece é o seguinte. Os Estados Unidos, e o mundo desenvolvido, têm um problema de excesso de liquidez. Então, eles estão cobrando taxas de juros negativas lá.
O que aconteceu foi que muitas empresas nos Estados Unidos pegaram dinheiro emprestado a taxas de juros muito baixas para entrar nesse negócio de não convencional. Só que eles não contavam que o preço pudesse cair tanto.
Por ter um problema de empresas com muitas dívidas que o fluxo de caixa desses projetos não se paga.
Mas essa é uma situação particular do balanço das empresas, não corre o risco de ser a próxima grande bolha a estourar?
Não, eu acho que não. O problema de alavancagem em outros setores é bem maior. Esse setor não consegue se endividar muito por causa do risco geológico.
Mas mesmo assim eu acho que vai ter empresas, nos Estados Unidos principalmente, empresas menores, quebrando ou sendo compradas por outras maiores. Mas é da dinâmica do mercado.
Em que regiões dos Estados Unidos se concentram essas reservas? Ou não é em uma região específica, tem campos no país inteiro?
Vários lugares. Hoje em dia o foco deles é petróleo e tem duas regiões que estão se destacando muito. Uma é no sul do Texas que se chama Eagle Ford e outra no norte que se chama Bakken.
São as áreas, como a Bacia de Campos, Bacia de Santos, o equivalente ao pré-sal deles são essas áreas aí. Mas tem outras, muitas outras áreas dando lucro.
E como funciona? É só chegar e colocar a sonda no chão ou tem leilão também para garantir o direito de exploração?
Lá nos Estados Unidos tem duas situações. Uma em que você compra o direito de explorar a área que é do governo, ou offshore ou uma reserva que é do governo. Nesse caso, você tem leilão.
Quando a área não é do governo, você não tem leilão, aí você tem que negociar com o dono da terra. Você aluga o direito exploratório. Mas no Canadá não é assim e lá também estão explorando.
Agora, com relação à questão ambiental, tem um problema que a gente não discutiu que é o problema da água. Lembra que eu falei que injetam água? A água que sai, sai suja. Esse para mim é o principal problema.
A destinação desse refugo?
Isso. Eles estão agora tentando resolver isso e tratando essa água para reutilizá-la em outros poços. Em algumas regiões, como na Argentina, são regiões semidesérticas e a água custa muito. Então, eles estão tentando desenvolver tecnologias para tentar mitigar esse impacto que realmente é muito sério.
Com relação à questão do fracking, da contaminação do subsolo, eles têm uma tecnologia agora que chama microssísmica, pela qual você consegue acompanhar online para onde aquela água está indo quando você injeta. Se ela está indo para o caminho errado e tem algum risco de aquilo chegar no lençol freático, eles param a perfuração.
Mas esse acompanhamento não é feito nem por causa disso, porque o risco de ela correr mil metros é muito pequeno. É para saber porque você quer fraturar seguindo uma direção certa. Você quer aumentar a saída de gás e óleo, então, eles querem garantir que estão fraturando do jeito certo e para isso eles ficam olhando o fluxo da água.
O tema importante é que há uma politização do debate, que a discussão está muito longe de ser técnica. No Brasil, por exemplo, se criou o movimento Não Fracking Brasil, que é uma ONG que recebe dinheiro de fora.
O Ministério Público sem estudar nada proibiu, e está proibido o não convencional no Brasil. É uma coisa pouquíssima democrática porque nós não discutimos o impacto ambiental e já proibimos.
Então, seu ponto é que tem outras coisas que também causam impacto ambiental e que estão sendo feitas e no caso dos não convencionais estamos reféns da oferta estrangeira?
É. É tudo importado. É da Bolívia ou GNL. A um custo altíssimo. Isso prejudica nossa economia, prejudica nossa indústria, porque tem que comprar um insumo muito caro e competir com os Estados Unidos.
E a maneira que esse tema foi abordado no Brasil foi muito pouco democrática. O Ministério Público, por influência de algumas ONGs estrangeiras.
Esse movimento Não Fracking Brasil, eles estão em todas as audiências públicas, em todas as discussões relacionadas com não convencional, panfletando, fazendo um barulho enorme. E eles recebem dinheiro de ONGs estrangeiras.
Do ponto de vista ambiental você pode dizer que não quer o gás porque só quer usar energia solar. Mas ninguém faz isso, nem a Suíça que é o país mais rico do mundo. Então, nós estamos nos prejudicando porque os processos não transparentes, não democráticos, não debatidos estão tomando conta.
Então, o Ministério Público proíbe com base na ação de algumas ONGs, o governo fica refém disso porque politicamente tem medo de enfrentar o problema. E a rodada que era para produzir gás no Brasil em 2012 até agora eles não puderam fazer nada. As empresas compraram os lotes e não puderam perfurar.
E o mais dramático dessa história é que nós estamos perdendo tempo de aprendizado. Porque não está certo que nós vamos conseguir aprender e fazer isso funcionar. E está proibido até estudar o assunto, você não pode fraturar.
É um tema politicamente muito sensível que não tem nada de ciência. Você vai às apresentações e elas são feitas totalmente de forma política. Eles estão dizendo que a exploração do não convencional vai impedir a produção agrícola no Brasil. Então, eles estão sensibilizando a bancada ruralista, passando medo para esse povo.
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Os riscos ambientais na exploração de fontes não convencionais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU