04 Dezembro 2015
Quem é realmente Francesca Immacolata Chaouqui: relações públicas, consultora financeira, derivada do star system da burguesia romana misturada com o submundo vaticano? Ou uma espiã que, com o marido, se infiltrava nos computadores da Santa Sé para chantagear as próprias vítimas? O certo é a poeira que essa jovem levanta com uma presença obsessiva no Facebook e na mídia, sem se fazer rogar demais para falar.
A reportagem é de Ilario Lombardo, publicada no jornal La Stampa, 03-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pouco antes de ir ao programa Ballarò, do canal italiano Rai3, na terça-feira à noite, ela recebeu uma visita surpresa da Guarda de Finanças que empacotou e levou embora seis caixas. Dentro delas, havia também o computador do marido, Corrado Lanino. Ambos são investigados na frente romana do inquérito Vatileaks 2, uma investigação nascida na Procuradoria de Terni e que passou para a capital italiana.
As intercepções começaram em 2013. Naqueles dias, a mulher, que entrou na Cosea, a Comissão Financeira do Vaticano desejada pelo Papa Francisco, manteve contatos frequentes com o bispo da diocese da Úmbria, Dom Vincenzo Paglia.
Os investigadores gravaram centenas de telefonemas. Chaouqui parece muito procurada, uma espécie de vestal que interpreta – ou finge ao máximo – o culto do poder de certos ambientes do outro lado do Rio Tibre. Ela sabe, diz saber, põe-se à disposição para fazer alguns favores, mas também espera outros. Não faz tudo sozinha. É ajudada pelo marido e por Mario Benotti, funcionário do Palácio Chigi [sede do primeiro-ministro italiano]. Para todos os três, a hipótese acusatória poderia ser a de conspiração. Mas é preciso ver se vai se sustentar.
Certamente, Chaouqui e Lanino estão sendo investigados por acesso abusivo a sistema informático. Eles são suspeitos de violar os computadores da Santa Sé. O marido da relações públicas é um engenheiro de informática.
No principal filão do Vatileaks, fala-se de uma consultoria dele dentro dos Muros Leoninos. Mas onde? Mais de um indício parece levar também ao IOR.
Quando ela contata Paolo Berlusconi, editor do jornal Il Giornale, uma das exigências de Chaouqui é de parar o vaticanista do jornal, que tinha escrito uma nota sobre ela. Ela está enraivecida e ameaça revelar as cartas rogatórias apresentadas às autoridades vaticanas contra o irmão, Silvio Berlusconi, por supostas contas abertas no banco vaticano. "Rogatórias e contas inexistentes", explica Paolo Berlusconi, que também nega conversas desse teor com Chaouqui.
O IOR, portanto, de novo: o banco dos mil mistérios, dentro de cujas contas Lanino poderia ter entrado, ele que, no passado, tinha trabalhado para uma empresa de informática que prestou consultoria para o Instituto para as Obras de Religião.
Ettore Gotti Tedeschi, o ex-presidente que liderou o IOR de 2009 a 2013, também é trazido à baila pelos documentos. Chaouqui se vangloriava de ter recebido pedidos de ajuda dele também. Poucos meses depois de deixar o banco, ele a teria contatado para se encontrar com o Mons. Lucio Vallejo Balda, ex-membro da Cosea e coimputado com Chaouqui na investigação vaticana sobre o vazamento de notícias.
"Uma reconstrução absolutamente falsa", explica Gotti Tedeschi. "Eu conhecia Balda, pois ele era secretário da Prefeitura para os Assuntos Econômicos, e eu dirigia o IOR. Imagine se eu precisaria dela para contatá-lo. Eu devo ter visto Chaouqui na última vez em 2012-2013. Essa história está assumindo tons preocupantes. Seria preciso entender quem é essa mulher e o que ela quer, por que ela fez o que fez e por que não para."
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Vatileaks: a pista do IOR nos computadores de casa de Chaouqui - Instituto Humanitas Unisinos - IHU