16 Novembro 2015
O Concílio Vaticano II "não olha para os leigos como se fossem membros de 'segunda ordem', a serviço da hierarquia e simples executores de 'ordens de cima'", mas como "discípulos de Cristo", capazes de levar o espírito evangélico ao mundo em que estão inseridos.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada no sítio Vatican Insider, 12-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco assinala isso em uma mensagem enviada ao cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, por ocasião do dia de estudo organizado pelo dicastério vaticano, em colaboração com a Pontifícia Universidade da Santa Cruz, sobre o tema "Vocação e missão dos leigos. A 50 anos do decreto Apostolicam actuositatem".
"O congresso de vocês – escreve Jorge Mario Bergoglio – se coloca no quadro do 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II, evento extraordinário de graça, que, como afirmou o Bem-aventurado Paulo VI, teve 'o caráter de um ato de amor; de um grande e tríplice ato de amor: a Deus, à Igreja, à humanidade".
"Essa atitude renovada de amor que inspirava os Padres conciliares também levou, entre seus muitos frutos, a um novo modo de olhar para a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, que encontrou uma expressão magnífica principalmente nas duas grandes constituições conciliares Lumen gentium e Gaudium et spes. Esses documentos basilares do Concílio consideram os fiéis leigos dentro de uma visão de conjunto do Povo de Deus, ao qual eles pertencem junto com os membros da ordem sagrada e aos religiosos, e no qual participam, no modo que lhes é próprio, da função sacerdotal, profética e real do próprio Cristo. O Concílio, portanto, não olha para os leigos como se fossem membros de 'segunda ordem', a serviço da hierarquia e simples executores ordens de cima, mas como discípulos de Cristo, que, por força do seu batismo e da sua inserção 'no mundo', são chamados a animar todos os ambientes, todas as atividades, todas as relações humanas segundo o espírito evangélico, levando a luz, a esperança, a caridade recebida de Cristo àqueles lugares que, de outro modo, ficariam alheios à ação de Deus e abandonados à miséria da condição humana. Ninguém melhor do que eles pode desempenhar a tarefa essencial de 'inscrever a lei divina na vida da cidade terrena'."
Nesse sentido, o decreto Apostolicam actuositatem sobre o apostolado dos leigos recorda que "o anúncio do Evangelho não é reservado a alguns 'profissionais da missão', mas deveria ser o anseio profundo de todos os fiéis leigos, chamados – destaca o papa –, em virtude do seu batismo, não só à animação cristã das realidades temporais, mas também às obras de evangelização explícita, de anúncio e de santificação dos homens".
O Concílio Vaticano II, "como todo Concílio", "interpela cada geração de pastores e de leigos, porque é um dom inestimável do Espírito Santo que deve ser acolhido com gratidão e senso de responsabilidade: tudo o que nos foi dado pelo Espírito e transmitido pela Santa Mãe Igreja sempre deve ser novamente entendido, assimilado e calado na realidade!", escreve o papa na mensagem assinada no dia 22 de outubro, memória de São João Paulo II e divulgado nessa quinta-feira pela Sala de Imprensa vaticana.
"Aplicar o Concílio, levá-lo à vida cotidiana de cada comunidade cristã: essa era a ânsia pastoral que sempre animou São João Paulo II, como bispo e como papa. Durante o Grande Jubileu do ano 2000, ele disse: 'Uma nova temporada se abre diante dos nossos olhos: é o tempo do aprofundamento dos ensinamentos conciliares, o tempo da colheita daquilo que os Padres conciliares semearam e a geração destes anos guardou e esperou. O Concílio Ecumênico Vaticano II foi uma verdadeira profecia para a vida da Igreja; vai continuar a sê-lo por muitos anos do terceiro milênio que recém começou'", conclui Francisco, que espera que o congresso a que enviou a mensagem "seja de estímulo para todos – pastores e fiéis leigos – para ter no coração a mesma ânsia de viver e implementar o Concílio para levar ao mundo a luz de Cristo".
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Os leigos não são membros de segunda ordem da Igreja, afirma Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU