04 Novembro 2015
A natureza global da Reforma Luterana clama por uma articulação teológica que ajude as igrejas a desafiar problemáticas contemporâneas em um mundo que é, cada vez mais, marcado pela competição cruel, por lutas pela sobrevivência e exclusão.
A reportagem foi publicada por Federação Luterana Mundial, 29-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O secretário geral da Federação Luterana Mundial – FLM, Rev. Dr Martin Junge, fez este apelo aos teólogos de todo o mundo que se encontram na capital da Namíbia, Windhoek.
Um mundo que nunca ouviu falar de graça deve, por consequência, ser sem graça e vai somente buscar a salvação na competição cruel, disse ele. “Muito poucos podem sobreviver em uma tal competição”, afirmou em sua apresentação na abertura oficial de um congresso mundial da FLM que ocorre entre os dias 28 de outubro e 1º de novembro, encontro focado na forma como certas convicções teológicas se relacionam com a política e a economia na medida em que as igrejas se preparam para marcar os 500 anos da Reforma em 2017.
Junge recordou que a convicção teológica de Martinho Lutero sobre a justificação pela fé sozinha fora desenvolvida por meio de uma pesquisa teológica rigorosa. Assim que o seu insight se ligou a uma preocupação pastoral e diaconal pelas pessoas, ela foi projetada ao espaço público. “Lutero viu as pessoas, algumas delas extremamente pobres e marginalizadas, oferecendo as suas poucas moedas por um pouco de paz em seus corações – pelo menos na vida após da morte, dado que a vida que levavam era um tormento e um pesadelo sem perspectiva de findar”.
O secretário geral desafiou os participantes do evento a avaliarem a importância da liberdade como um insight central da Reforma Luterana. “As igrejas, na tradição da Reforma, são igrejas da graça e da liberdade, ambas ao mesmo tempo. Qualquer um nesta tradição que fale da justificação pela fé em Deus unicamente irá (…) querer falar de liberdade”, observou.
O líder religioso sublinhou que a liberdade, na tradição teológica da Reforma luterana, jamais é autista ou autônoma, mas sim responsável. “A liberdade, conforme dada por Deus, encontra a sua expressão plena ao adentrar – e proteger – as relações”. Segundo o entendimento de Lutero, a liberdade vai encontrar as suas fronteiras no próximo, em particular nos que sofrem.
Referindo-se ao desafio sem precedentes das mudanças climáticas, Junge ressaltou que a devastação ecológica atual é expressão de uma compreensão errada de liberdade. Ela faz a nossa geração atual pensar que tem a liberdade de usar os recursos das futuras gerações, ou os recursos de alguns países e sociedades, para consumir aquilo que pertence a todos.
“O que a teologia luterana não pôde ver no século XVI, mas que precisa ser hoje articulado plenamente no espírito de uma Reforma em curso, é a convicção de que a liberdade humana, conforme dada por Deus, vai dirigir o seu compromisso relacional não somente com o próximo que sofre como também com a criação que está gemendo”, acrescentou Junge.
A fé que liberta
O encontro começou com uma oração de abertura na qual o bispo emérito namíbio, o Dr. Zephania Kameeta, foi o pregador. Em seu sermão, o bispo aposentado da Igreja Evangélica Luterana na República da Namíbia – que também é o Ministro para a Erradicação da Pobreza e o Bem-Estar Social –, enfatizou que a fé que não faz novas as coisas e que não liberta as pessoas não é fé. Falou que o chamado diaconal da igreja e o incentivo mútuo na caminhada de fé devem fazer parte integral das celebrações da Reforma luterana.
Em seus dias de encontro, o congresso irá centrar-se sobre as dimensões do direito e do Evangelho, a dignidade humana, a justiça de gênero e a formação teológica, entre outros, sob o tema “Perspectivas Globais sobre a Reforma: Interações entre Teologia, Política e Economia”.
A abertura, no dia 28 de outubro, ocorreu no Seminário Teológico Luterano Unido Paulinum, administrado pelas três igrejas luteranas da Namíbia. Em 2017, as três igrejas irão receber a 12ª Assembleia da Federação Luterana Mundial, além de realizar uma celebração no 500º aniversário da Reforma.
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Secretário geral da FLM fala sobre perspectivas globais para a Reforma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU